A poetisa norte-americana Elizabeth Bishop ganhou o Pulitzer pela sensibilidade do olhar transcrito através das palavras. Neste título de Bruno Barreto, dá pra ter uma ideia dessa mente tão ávida por conhecimento e pela beleza das coisas, através da relação da escritora (na pele de Miranda Otto) com a arquiteta e paisagista Lota de Macedo Soares (Glória Pires) num Rio de Janeiro que antecede a Ditadura Civil-Militar. O foco nem é o cenário político, aos poucos estabelecido, mas a relação de amor e poder entre as duas, que serve como metáfora desse novo Brasil que surgia na época. Para se entender a história, conhecemos toda a trajetória desse amor. Bishop foi convidada para passar um tempo em terras brasilis pela amiga, justamente a então namorada atual de Lota. Era uma forma de fugir da mesmice e reacender a criatividade suspensa. O cenário ajuda, pois a casa da arquiteta é rodeada pela calmaria do verde das árvores e dos gramados cuidados. Na medida em que as amantes se encontram, percebe-se o fogo surgindo, ainda mais após a separação de Lota da amiga. A personagem de Glória Pires é como um leão que devora todos que passam por seu caminho, com uma presença magnética difícil de refutar. Pode até ser o clichê do sangue latino, mas justamente isso seduz Bishop, que esconde sua intensidade por meio da legítima aura de timidez e das emoções controladas. Miranda Otto compreende a natureza da personagem de tal forma que evidencia o seu intenso trabalho na construção da personagem. Ela, instintivamente, vai mostrando ao público diversas camadas de acordo com as situações que surgem e evoluem. Uma força tão grande em cena que eleva este filme muito além do que poderia, não fosse por suas intérpretes. – por Matheus Bonez