por Roberto Cunha*
Agora foi! Começou a 67ª edição do Festival de Cannes, exibindo para a imprensa o já polêmico filme Grace de Mônaco, que anda dando o que falar na imprensa, por conta das declarações da família real e da reação indignada do cineasta. Na sequência, assistimos também um drama de cineasta já premiado em Cannes anteriormente. Veja um panorama das duas exibições!
Grace de Mônaco (Grace of Monaco, 2014)
Bom :)
Inspirado em fatos reais, Grace de Mônaco tem exatamente nesta informação um ponto importante para ser levado em consideração. Isso porque se de um lado, a família real vai até a imprensa reclamar que ele não corresponde a realidade, do outro, o cineasta diz que não fez uma cinebiografia, e tem liberdade para criar. No meio desse cabo de guerra, que poderia servir para promover a produção, existe um protagonista e ele, o espectador, pode ficar, literalmente, sem saber o que fazer na hora de absorver a obra. Ela, por sinal, começa de maneira emblemática ao mostrar o fim de uma filmagem quando, em 1956, Grace Kelly (Nicole Kidman) encerrava sua participação em um filme de Hollywood. Daí em diante, passando rápido pelos momentos que culminaram com o casamento dela com o Príncipe Rainier (Tim Roth), o roteiro mergulha você no novo universo da então princesa, em Mônaco.
Estão lá os conflitos da mudança, desde a adaptação ao novo estilo de vida, a amizade com Alfred Hitchcock, até a real motivação dessa união: existia amor entre eles? Tendo como pano de fundo um momento em que a França pressionou o principado para pagar impostos, motivada por uma guerra, os bastidores destas questões políticas e um jogo de traições servem como elementos de suspense, o que faz a câmera até se movimentar diferente. Falando sobre imagens, elas são bem filmadas, ajudadas por belos cenários, locações e um bom figurino. As interpretações, no entanto, não serão lembradas com o tempo, apesar do time. O destaque vai para Paz Vega, que interpreta a cantora Maria Callas e quase saiu calada do filme por conta de sua pequena participação. Repetindo diversas vezes a ideia de que ela (Grace) viveu um verdadeiro “conto de fadas”, fica a dúvida se essa trama tem o peso necessário para envolver o espectador dentro da sala escura.
Timbuktu (idem, 2014)
Regular :/
Timbuktu foi dirigido pelo premiado Abderrahmane Sissako, cineasta da Mauritânia já conhecido (e premiado) no evento. Exibido em duas sessões, a primeira para a imprensa teve boa repercussão e chegou a arrancar aplausos do pessoal. Fica a dúvida se uma das razões seria a decepção com o filme anterior ou, também, se teria alguma relação a uma certa boa vontade com diretores combativos e de países com menos tradição. Ainda sobre essa sessão, o longa sofreu uma pequena falha técnica durante sua exibição, mas durou alguns segundos.
A trama se passa em uma região da África, dominada por fanáticos islâmicos, em suas Jihads, e conta sobre um homem que se envolve em um crime, de maneira quase involuntária, e acaba colocando ele, sua esposa e filha diante de uma trágica situação. Fazendo uso de uma certa ironia, tem vaca chamada de GPS numa região ignorada pela humanidade, o roteiro de Diane English faz com que você mergulhe de variadas maneiras no universo bizarro dos personagens. E essa visita pode acontecer durante a exibição de um futebol imaginário, imposto pelas regras de Alah, ou diante de diálogos inusitados entre os personagens, que por não falarem uma mesma língua, precisam, acredite, de um tradutor. Mas para não deixar você se levar pelo eventual riso, a violência é eminente, em contraste com lindas imagens, captadas pelas lentes que visitaram a locação. Apesar de ser curto, o filme carece de um ritmo maior e uma trama mais bem amarrada, o que pode ter sido feito de propósito para causar estranheza.
*enviado especial do Papo de Cinema ao Festival de Cannes 2014
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