Num ano em que o Festival de Cinema de Gramado parecia dominado pelas pseudo-celebridades da Rede Record de Televisão, a TV Globo enviou apenas um dos seus mais poderosos canhões para eliminar a competição. Quinta-feira, 13 de agosto, foi o que dia em que a Rainha dos Baixinhos ganhou seu Rei Sol! A gaúcha Xuxa Meneghel foi homenageada com um Kikito especial (acima) e uma placa comemorativa à sua carreira na tela grande – que oficialmente possui 16 longas, todos infantis, protagonizados por ela ou pelos Trapalhões, mas que deixa de fora quatro produções ‘adultas’, como o polêmico Amor, Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri, feito em 1982, que a mostra seduzindo um rapaz de 15 anos! Xuxa foi uma verdadeira estrela em Gramado, bloqueando o acesso ao Tapete Vermelho, que por praticamente meia hora ficou exclusivo para ela, Luciano Szafir e seus seguranças. Depois, às 19h, aconteceu a entrega do Kikito no palco do Palácio dos Festivais, quando Xuxa se declarou surpresa com a homenagem, afirmando ser “loira, suburbana, do povo, e não uma atriz”. Dedicando o prêmio ao seu público, ou seja, às crianças, deixou Gramado logo em seguida, esbanjando sorrisos e relembrando que, uma vez dona da coroa, sempre Rainha será!
Quinta-feira foi dia também do Cinema Gaúcho dentro da programação oficial do 37º Festival de Cinema de Gramado. A partir das 10h aconteceu, no Centro Municipal de Cultura, a projeção dos 15 curtas-metragens selecionados que disputavam o Troféu Assembléia Legislativa, o popular ‘gaúchão’. A premiação aconteceu no mesmo dia, às 22h, dentro do Palácio dos Festivais. O grande vencedor deste ano foi Sobre um Dia Qualquer, de Leonardo Remor, que recebeu 5 prêmios (Direção, Atriz – Sissi Venturin, Fotografia, Direção de Arte e Montagem). Mas o curta premiado como Melhor Filme foi De Volta ao Quarto 666, de Gustavo Spolidoro, que levou apenas o troféu principal. O Melhor Ator foi Nelson Diniz, por Quiropterofobia, de Hique Montanari, e o Melhor Roteiro foi o de A Invasão do Alegrete, de Diego Müller. Jogo do Osso, de Henrique de Freitas Lima, ganhou Música, Livros no Quintal, de Vinícius Cruxen, foi a Melhor Edição de Som e Mapa Múndi, de Pedro Zimmermann, foi escolhido como Melhor Produção.
Seguindo o papo sobre Curtas, às 17h aconteceu a última sessão de Curtas selecionados para a competição nacional. Os filmes exibidos na quinta-feira foram o paulista O Troco, de André Rolim, uma comédia de humor negro, o pernambucano Não me Deixe em Casa, de Daniel Aragão, o carioca Olhos de Ressaca, de Pedro Costa, sobre uma paixão na terceira idade, e o também paulista Ernesto no País do Futebol, de André Queiroz e Thaís Bologna, sobre as desventuras de um garoto argentino que mora no Brasil em pleno ano de Copa do Mundo. Os doze curtas selecionados para a Mostra Competitiva de Curtas Nacionais em 2009 não provocaram grandes entusiasmos na platéia, então qualquer resultado pode ser esperado. O júri oficial foi composto delo diretor Diogo Moura, pela atriz Ingra Liberato, pelo cineasta Jaime Lerner, pelo produtor Moacir de Oliveira e pela documentarista Tetê Mattos.
A mostra competitiva de longas nacionais continuou na noite de quinta-feira com a exibição do argentino Lluvia, de Paula Hernández (acima). O trabalho anterior mais conhecido da diretora foi o longa Herência, já exibido no Brasil. À frente do elenco estão dois nomes fortes do atual cinema Hermano: Valeria Bertuccelli, de Clube da Lua e XXY, e Ernesto Alterio, filho do grande ator Hector Alterio e visto no ótimo O Que Você Faria?. O filme inteiro mostra a relação que nasce entre dois estranhos durante três dias de muita chuva na capital portenha. Ela saiu de casa, abandonou o marido e está morando temporariamente no próprio carro. Ele é de Madri, mas está em Buenos Aires para recolher as coisas do pai, falecido há pouco. Os dois, longe de suas casas, acabam encontrando um no outro novas alegrias. Uma bonita história de amor com data para acabar e muita emoção. Certamente deverá ser lembrado na noite de premiação.
Completando um dia de grande destaque aos gaúchos, o último longa a ser exibido na noite de quinta-feira foi Em Teu Nome, dentro da Mostra Competitiva nacional de longas-metragens. Dirigido por Paulo Nascimento, o mesmo de Diário de um Novo Mundo (kikito de Melhor Filme – Júri Popular e Melhor Roteiro em 2005) e Valsa para Bruno Stein (kikito de Melhor Atriz, para Ingra Liberato, em 2007), é baseado na história real de um casal de militantes da luta armada em Porto Alegre contra a ditadura militar brasileira nos anos 70. Os pontos fortes do filme são o intenso roteiro, escrito pelo próprio Nascimento, que envolveu completamente a platéia, e o trabalho dos protagonistas, principalmente Leonardo Machado (merecidamente apontado como forte candidato ao Kikito de Melhor Ator) e Fernanda Moro. É uma história comovente, assustadora e absurdamente real, que merece esse espaço nobre na tela grande. Um feito louvável, que justifica todos os aplausos recebidos!