O Melhor Filme de Drama deste ano – e o mais provável a ser favorito ao Oscar de Melhor Filme de 2019 – não é algum dos cinco aqui indicados. Por uma tecnicalidade do Globo de Ouro, títulos falados em outras línguas que não o inglês são inelegíveis nas categorias principais. É por esse motivo que sucessos como o italiano A Vida é Bela (1997), o brasileiro Central do Brasil (1998), o taiwanês O Tigre e o Dragão (2000) ou o austríaco Amor (2012), por exemplo, foram indicados – e premiados – em outras categorias, mas ficaram fora da principal. Assim como neste ano ocorre com o mexicano Roma, de Alfonso Cuarón, dono de três indicações ao Globo – Direção, Roteiro e Filme Estrangeiro. Portanto, sem o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza no caminho, será que o filme de maior bilheteria de 2018 nos Estados Unidos ou a adaptação de um clássico da literatura norte-americana tem mais chances? É tão possível quanto improvável. Afinal, ter uma aventura de super-herói dos quadrinhos entre os finalistas já é uma conquista e tanto – e ir além disso pode ser um pouco demais. Assim como Barry Jenkins, vencedor do Globo – e do Oscar – por seu trabalho anterior, o drama Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), deve imaginar que o raio não irá cair duas vezes no mesmo lugar – ao menos não tão rápido. Quanto aos outros, como eles devem se sair?
Indicados
FAVORITO
Nasce uma Estrela
Dos cinco indicados, três são dirigidos por realizadores negros. Isso fará diferença? No Oscar, até poderia ser o caso. No Globo de Ouro, isso pouco deve importar. Afinal, quem vota são menos de 100 jornalistas de todos os cantos do mundo – ou seja, a diversidade já está entre eles, não é algo de que precisam ser relembrados a todo momento – e o que fazem nos Estados Unidos, no dia a dia das suas atividades profissionais, é se aproximarem das grandes estrelas de Hollywood. E de todos os concorrentes selecionados, qual é o de maior brilho? Essa talvez seja a única razão de Bradley Cooper estar aqui entre os finalistas de Melhor Filme de Drama – ainda que Nasce Uma Estrela, o longa que ele assina, seja um Musical (não há uma categoria específica para esse gênero?). No entanto, como o próprio cineasta optou por concorrer entre os trabalhos dramáticos, os votantes obedeceram e aqui ele está, como um dos melhores do ano de um estilo ao qual não pertence. Mas não foi o mesmo que ocorreu, recentemente, com Perdido em Marte (2015) – que foi eleita a Melhor Comédia daquele ano?
AZARÃO
Infiltrado na Klan
Caso os votantes do Globo de Ouro consigam segurar o puxa-saquismo que lhes é natural e passem a defender uma posição mais politicamente consciente, bom, será quase impossível que Infiltrado na Klan não saia vitorioso. Um dos mais importantes diretores negros de todos os tempos em Hollywood, Spike Lee contava apenas com duas indicações ao Globo de Ouro até este ano, e uma vitória aqui, além de merecida, seria também a consagração de uma história repleta de méritos. Ou seja, seria como matar dois coelhos com uma tacada só: não só a obra que ele entregou neste ano é forte e poderosa o suficiente para valer essa conquista, com também o seu próprio histórico merece essa demonstração de respeito. Se houver alguma justiça no dia 06 de janeiro de 2019, que ela se manifeste aqui!
SEM CHANCES
Bohemian Rhapsody
Afinal, se encontrar Nasce Uma Estrela entre os indicados nessa categoria já é um tanto estranho, ver que Bohemian Rhapsody está ao seu lado é ainda mais bizarro. Afinal, este longa é plenamente um musical, com sua própria estrutura narrativa baseada em cima das canções de sucesso do grupo inglês Queen – o título do filme, inclusive, é o mesmo de uma das composições mais marcantes da banda. E se Rami Malek entrega uma interpretação quase sobrenatural como Freddie Mercury, o mesmo não pode ser dito do filme como um todo, que até possui um forte apelo junto aos fãs, mas é bastante irregular em sua condução e teve um dos processos de realização mais conturbados dos últimos tempos. Bryan Singer, que assina a direção, foi demitido no meio das filmagens, e Dexter Fletcher foi chamado às pressas para finalizar o trabalho. A montagem foi refeita mais de uma vez até se chegar à versão final, e há tantas imprecisões históricas nos fatos relatados que até o mais ardente dos admiradores não tem como ignorá-las. Mesmo assim, foi um absurdo fenômeno de bilheteria – quase US$ 700 milhões ao redor do mundo, e contando – consagrando-se como a cinebiografia musical mais bem-sucedida de todos os tempos. Talvez, na categoria irmã de Melhor Filme em Comédia ou Musical, até tivesse alguma chance. Agora, aqui, sua participação é meramente simbólica.
ESQUECIDO
No Coração da Escuridão
É um tanto surreal se dar conta de que Paul Schrader, o nome por trás de títulos clássicos como Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Gigolô Americano (1980), não possui uma única indicação ao Oscar para contar história. Ao menos agora, depois de anos um tanto fora do radar, período em que dirigiu longas irregulares como Vale do Pecado (2013) e Cães Selvagens (2016), ele dá sinal de ter voltado à sua melhor forma em No Coração da Escuridão, premiado pelas associações de críticos de Nova Iorque, Atlanta, Chicago, Detroit, Indiana, Kansas, Las Vegas, Los Angeles, Phoenix, San Diego, São Francisco, Seattle, Southeastern, St. Louis, Toronto e Vancouver. Tudo bem que a maioria desses prêmios foram ou para o roteiro (também de Schrader) ou para a atuação de Ethan Hawke, mas ainda assim o longa foi eleito um dos dez melhores do ano pelo National Board of Review e está indicado a Melhor Filme no Film Independent Spirit. Havia motivos de sobra, como se percebe, para esse (tardio) reconhecimento. É de se lamentar que a cegueira dos votantes do Globo de Ouro tenha persistido, infelizmente.
:: Confira aqui tudo sobre o Globo de Ouro 2019 ::
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