Uma das grandes diferenças do Globo de Ouro em relação ao Oscar, por exemplo, é que qualquer filme não falado em inglês pode concorrer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, sem que, necessariamente, tenha sido escolhido como representante do seu país de origem. No Brasil, por exemplo, o selecionado neste ano foi O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues – o que deixou de fora da premiação da Academia títulos como Benzinho, de Gustavo Pizzi, ou As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas, por exemplo. Já aqui, no Globo, todos poderiam ser indicados em iguais condições – o que, infelizmente, não acabou acontecendo. Ao invés disso, temos representantes do Japão, Líbano, México, Alemanha e Bélgica. Três passaram pelo Festival de Cannes – inclusive o vencedor da Palma de Ouro – e dois por Veneza – inclusive o premiado com o Leão de Ouro. Quais tem mais chances e quais estão apenas fazendo figuração? Confira as nossas apostas!

Indicados

 

FAVORITO
Roma, de Alfonso Cuarón
Vencedor do Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza 2018, o épico familiar do diretor já oscarizado – e globalizado – por Gravidade (2013) – é o franco favorito nessa categoria, e é bem provável que saia da festa não apenas com essa estatueta, mas com as três a que o seu longa foi indicado: também concorre a Melhor Direção e Roteiro. A única pedra em seu sapato é o fato de ter sido produzido pela Netflix, com exibição restrita – apenas para cumprir as exigências da Academia – nos cinemas. Se o preconceito for maior entre aqueles que dizem que títulos lançados diretamente nas plataformas de streaming “não são cinema”, talvez ele fique de fora. Mas seria igual a uma hecatombe ou a um tsunami se isso acontecesse. Portanto, não se preocupe, Cuarón: essa estatueta, ao menos, já é sua.

 

AZARÃO
Cafarnaum, de Nadine Labaki
Vencedor em Cannes do Grande Prêmio do Júri Oficial e do Prêmio do Júri Ecumênico, indicado ao British Independent e ao Critics Choice, além de um sem número de festivais ao redor do globo – como o prêmio do júri popular conquistado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – o longa da diretora libanesa Nadine Labaki é um daqueles títulos diante dos quais é impossível sair indiferente. A história do menino que tenta impedir que sua irmã seja vendida em casamento pela própria família e que, ao fugir de casa, acaba se envolvendo com uma refugiada etíope, é uma trama tão dolorosa de se assistir quanto manipulativa em todos os gatilhos para desequilibrar as reações do público, que vão da admiração à repulsa em questão de segundos. E como esse tipo de voto – o culpado, que acredita que, ao reconhecer uma ficção, fará diferença na realidade que ela retrata – costuma fazer diferença, não causará (muito) espanto se esse concorrente acabar cruzando em primeiro lugar na linha de chegada.

 

SEM CHANCES
Girl, de Lukas Dhont
O único cinco indicados a não ficar entre os nove pré-selecionados na mesma categoria do Oscar, o representante da Bélgica está praticamente descartado da disputa. Sem falar que seu lançamento se dará através da Netflix, e não nos cinemas – ou seja, mais uma dose de preconceito com a qual lidar. Vencedor do prêmio da crítica na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, levou ainda os troféus Golden Câmera e Queer Palm (dedicada a produções com temática LGBT). A história de uma garota transexual que deseja se tornar bailarina tem feito sucesso na Europa – foi premiada nos festivais de Londres, Les Arcs (França), Odessa (Ucrânia), Palic (Sérvia e Montenegro), San Sebastian (Espanha), Estocolmo (Suécia) e Zurique (Suíça) – mas tem gerado protestos nos Estados Unidos – a comunidade LGBT norte-americana tem acusado o filme de oferecer uma visão negativa da transexualidade. Mas, como se trata de Globo de Ouro, tudo pode acontecer – no ano passado, o vencedor foi o alemão Em Pedaços, que, assim como Girl, também não foi pré-selecionado para o Oscar!

 

ESQUECIDO
Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski
Se tudo pode acontecer quanto aos resultados do Globo de Ouro, uma coisa é certa: ao menos nessa categoria, foi um absurdo Guerra Fria ter ficado de fora. O candidato da Polônia é o primeiro trabalho de Pawel Pawlikowski após ter ganhado o Oscar por Ida (2013) – filme que até foi indicado ao Globo de Ouro, mas perdeu para o russo Leviatã (2014). Dessa vez foi até pior – afinal, a indicação nem veio – mesmo estando entre os nove pré-selecionados ao Oscar. Mesmo assim, é um forte candidato à premiação da Academia, pois foi laureado como Melhor Direção no Festival de Cannes e eleito o Melhor Filme Estrangeiro do ano pelo National Board of Review e pela associação de críticos de Nova Iorque, além de ter sido indicado ao Critics Choice, ao British Independent e ao Goya.

:: Confira aqui tudo sobre o Globo de Ouro 2019 ::

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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