Acontece neste domingo, 28 de fevereiro, a cerimônia de entrega do 78º Globo de Ouro, o prêmio da Hollywood Foreign Press Association – ou, em bom português, Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood. Portanto, como o nome já indica, se pode perceber que estas escolhas são feitas não por críticos de cinema (como o Critics Choice Awards) e nem por membros da indústria (como o Oscar). Se trata de profissionais que vivem em função dos artistas e de suas obras (filmes e séries), mas focados nos lançamentos, nas coberturas das novidades e nas agendas de entrevistas. Por isso, também se pode entender a preferência natural que geralmente demonstram para novidades ou por produtos que de uma forma ou de outro lhes privilegiam (seja pela busca de uma maior audiência em seus veículos de publicação em seus países de origem, ou mesmo através de conquistas individuais – como quando foram convidados para passar uma semana na França para a coletiva de estreia de… Emily em Paris, 2020, o que explica a seleção do programa entre os finalistas). Enfim, mesmo assim, a premiação não deixa de ter a sua importância – basta conferir a quantidade de indicados que privilegiam o evento comparecendo presencialmente nos anos anteriores (dessa vez, os vencedores serão anunciados remotamente, e os troféus entregues à distância). Com tudo isso em mente, confira as nossas apostas para os vencedores dessa – conturbada e quarentenada – temporada (ah, a lista completa com todos os indicados em cada uma das categorias você pode conferir aqui)!
CINEMA
Melhor Filme – Drama
Vai ganhar: Nomadland
Merece ganhar: Meu Pai
Dos cinco indicados, Nomadland, Bela Vingança e Meu Pai seguem inéditos no Brasil (o último, no entanto, já foi exibido para alguns críticos selecionados, como o Papo de Cinema). Nomadland, desde que ganhou o Festival de Veneza, só vem colecionando conquistas, e tem tudo para ser o grande vencedor do ano. Mank e Os 7 de Chicago encontram-se disponíveis na Netflix, possuem qualidades inegáveis, mas não o suficiente para serem “o melhor filme do ano”. Já Meu Pai, pela delicadeza da direção e pela excelência dos atores, merecia com folga essa vitória – mas talvez seja discreto demais para os votantes.
Melhor Filme – Musical ou Comédia
Vai ganhar e merece ganhar: Borat 2: Fita de Cinema Seguinte
Essa seleção é tão surreal que serve apenas para colocar em evidência quão fraca foi a última temporada (ao menos nesse gênero). A Festa de Formatura é vergonhoso, Music ninguém viu (estreou somente na semana passada nos EUA, com críticas bastante divididas), Palm Springs também não (parece ser pequeno demais para atrair maiores atenções) e Hamilton até tem seus defensores, mas é o mais absurdo de estar por aqui: trata-se apenas de um registro da peça da Broadway, filmado direto do palco do teatro, e não de uma experiência cinematográfica completa. Ou seja, não é cinema. Portanto, sobra apenas um concorrente – e um bom, ao menos. O primeiro Borat (2006) também foi indicado nessa categoria, mas perdeu para o musical Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006). Boa oportunidade, portanto, para reparar essa injustiça e ainda reconhecer aquele que, de fato, foi o melhor em 2020.
Melhor Longa de Animação
Vai ganhar: Soul
Merece ganhar: Wolfwalkers
Se houvesse apenas três vagas nessa categoria – como chegou a ocorrer em alguns anos – Os Croods 2 e Dois Irmãos nem teriam sido lembrados (estão aqui apenas para preencher espaço, e ninguém leva a sério suas indicações). Sobram, portanto, os três reais concorrentes. A Caminho da Lua (Netflix) é bonito, mas também ingênuo. Soul (Disney+) é deslumbrante e emocionante, mas não muito diferente do que a Pixar já entregou em longas anteriores – mesmo assim, é a maior companhia, e o poder de atração deles é quase irresistível. Por fim, temos Wolfwalkers (AppleTV+), uma animação deslumbrante e absolutamente inventiva, com duas linhas bem distintas de leitura – encantador para as crianças, e perspicaz para os adultos. É o pacote completo e merecia esse reconhecimento.
Melhor Longa Internacional
Vai ganhar: Minari (EUA)
Merece ganhar: Druk: Mais Uma Rodada (Dinamarca)
Dos cinco indicados, apenas Rosa e Momo (Itália) já teve lançamento comercial no Brasil – está disponível na Netflix. Por mais que seja um filme marcante – principalmente pelo retorno (em ótima forma) da diva Sophia Loren, não tem forças para se destacar a ponto de ser considerado o melhor do ano. Druk: Mais Uma Rodada foi o grande vencedor do European Film Awards e tem assinatura do mestre Thomas Vinterberg, um dos “pais” do Dogma 95. Tanto La Llorona (Guatemala) como Nós Duas (França) participaram da Mostra Internacional de Cinema de SP – confira nossas críticas aqui e aqui, respectivamente – e possuem suas qualidades. Porém, nenhum conseguirá fazer frente ao norte-americano Minari, dirigido por Lee Isaac Chung (descendentes de sul-coreanos) e falado em parte em coreano – o que o qualificou a estar nessa lista. Porém, no Oscar deverá aparecer na seleção principal, entre os indicados a Melhor Filme do Ano, além de já somar dezenas de troféus de agremiações regionais de críticos.
Melhor Ator e Atriz – Filme de Drama
Vão ganhar: Chadwick Boseman e Viola Davis, ambos por A Voz Suprema do Blues
Merecem ganhar: Anthony Hopkins, por Meu Pai, e Vanessa Kirby, por Pieces of a Woman
A dupla de A Voz Suprema do Blues é quase imbatível. Ele, por ser um prêmio póstumo a um ator que se tornou símbolo de uma causa – o astro de Pantera Negra (2018) faleceu em agosto do ano passado. Ele não está mal – longe disso, aliás, mas tanto Riz Ahmed quanto Anthony Hopkins, principalmente, estão muito melhores. O eterno Hannibal Lecter, como um idoso com Alzheimer, entrega a melhor performance de toda a sua brilhante carreira. Viola, por sua vez, é a atriz negra mais bem-sucedida do momento nos EUA, e está, de fato, impressionante neste trabalho – por mais que seja quase coadjuvante (dependendo do ponto de vista). Kirby, premiada como Melhor Atriz no Festival de Veneza, tem poucas chances, mas é dona de uma performance maiúscula, tanto na meia-hora inicial, de uma entrega absurda, como, ainda mais, no resto da trama, por ir em uma direção muito mais sutil – e poderosa. Entre os homens, e disputa se resume a esses três citados cima, mesmo. Já na ala feminina, tanto Frances McDormand quanto Carey Mulligan também podem surpreender.
Melhor Ator e Atriz – Filme de Comédia ou Musical
Vão ganhar: Sacha Baron Cohen e Maria Bakalova, por Borat 2: Fita de Cinema Seguinte
Merecem ganhar: Sacha Baron Cohen, por Borat 2: Fita de Cinema Seguinte, e Rosamund Pike, por Eu Me Importo
O que James Corden (A Festa de Formatura) e Lin-Manuel Miranda (Hamilton) estão fazendo aqui? Um por um filme horrível, o outro por uma peça de teatro? Nessa categoria não há disputa: o troféu já é de Sacha Baron Cohen, que ganhou pelo primeiro Borat, e merece bisar a conquista. Entre as mulheres, muito de falou de Anya Taylor-Joy, mas ela será premiada pela minissérie O Gambito da Rainha (está duplamente indicada), então aqui deve estar fora da disputa. Bakalova é a queridinha da crítica, mas está mais para revelação do ano do que para uma performance de fato impressionante. Assim, nos resta Rosamund Pike, ainda mais impressionante no thriller Eu Me Importo do que em Garota Exemplar (2014), pelo qual foi indicada ao Oscar. Uma surpresa aqui seria muito bem-vinda.
Melhor Ator e Atriz Coadjuvante
Vão ganhar: Daniel Kaluuya, por Judas e o Messias Negro, e Glenn Close, por Era Uma Vez Um Sonho
Merecem ganhar: Bill Murray, por On The Rocks, e Olivia Colman, por Meu Pai
Essas duas categorias estão tão estapafúrdias, que é meio surreal analisá-las. Glenn Close é uma das maiores atrizes vivas, mas o que faz em Era Uma Vez Um Sonho está tão aquém do seu potencial – além do filme ser horrível – que não merecia nem ser considerado. Mesmo assim, é a chance de, enfim, dar o passo inicial ao reconhecimento que há tanto lhe é devido (a conquista do Oscar, digamos). Já Olivia Colman foi premiada no Globo em todas as três indicações anteriores dela – talvez seja demais em tão pouco tempo, e esse seja o momento de deixá-la um pouco de lado (ainda que seu trabalho seja impecável). Já na disputa masculina, Kaluuya é praticamente o protagonista de Judas e o Messias Negro, e como não foi premiado por Corra (2017), pode ser a oportunidade de, enfim, lhe dar o reconhecimento devido. Mas no meio de candidatos tão disparatados – Sacha Baron Cohen está divertido, mas já irá ganhar na categoria principal, Leslie Odom Jr. não oferece nada além do que os seus colegas do mesmo filme também alcançam, e quem lembrou de Jared Leto? – por quê não fazer um agrado no veterano Bill Murray, nesta que é sua sétima indicação ao Globo (foi premiado apenas uma vez)? Ele está igual a quase tudo que sempre fez, e mesmo que o filme não seja grande coisa, vê-lo em cena é sempre delicioso.
Melhor Direção e Roteiro
Vão ganhar: Chloé Zhao, por Nomadland, e Jack Fincher, por Mank
Merecem ganhar: Aaron Sorkin, por Os 7 de Chicago, e Florian Zeller e Christopher Hampton, por Meu Pai
Como Nomadland e Bela Vingança ainda não foram lançados no Brasil – e ambos disputam as duas categorias – é difícil apostar neles. Mas Nomadland tem sido um verdadeiro rolo compressor – já soma mais de 160 troféus conquistados nessa temporada – e tem tudo para se consagrar como o filme do ano. No entanto, Os 7 de Chicago não faria feio, pois além de partir de um ultrajante episódio verídico, também é levado às telas com bastante competência e habilidade por Sorkin. Entre os roteiristas, Mank era o projeto dos sonhos de Jack Fincher – pai do diretor David Fincher e já falecido – então é bem a cara do Globo de Ouro premiar um para reconhecer o outro. No entanto, não chega aos pés da sublime engenharia percebida em Meu Pai, um dos filmes mais sensíveis – e impressionantes – dentre todos os concorrentes.
Melhor Canção Original e Trilha Sonora
Vão ganhar: “Speak Now”, de Uma Noite em Miami, e James Newton Howard, por Relatos do Mundo
Merecem ganhar: “Io Sì (Seen)”, de Rosa e Momo, e Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste, por Soul
Essas categorias, geralmente, servem para “diminuir os danos”, ou seja, oferecer algum tipo de reconhecimento para aqueles filmes que, mesmo tendo entrado nas disputas principais, acabam correndo o risco de ficarem de mãos abanando. Ao premiar “Speak Now”, se parabeniza não apenas Leslie Odom Jr. (autor da canção e que concorre também como coadjuvante), mas o próprio longa da diretora Regina King. Da mesma forma, esta é a quinta indicação do veterano James Newton Howard (King Kong, 2005), que nunca fora premiado, e tem aqui a melhor chance de sua carreira – e por um longa que poderia ter aparecido tranquilamente também nas categorias mais disputadas. Já Diane Warren, uma eterna favorita (tem 11 indicações ao Oscar, sem nunca ter sido premiada), faz de “Io Sì (Seen)” uma balada bem ao gosto pop da maioria, e contar com a diva italiana Laura Pausini ao seu lado não atrapalha em nada. Trent Reznor e Atticus Ross são parceiros de longa data do diretor David Fincher – ambos concorrem também por Mank – mas o que fazem ao lado de Jon Batiste na animação Soul – um filme de imensa musicalidade – é arrebatador.
TELEVISÃO & STREAMING
Melhor Série – Drama e Comédia & Musical
Vão ganhar: Ratched e The Flight Attendant
Merecem ganhar: The Mandalorian e Schitt’s Creek
Os votantes do Globo de Ouro adoram novidades e lançar tendências – e não as seguir. É por isso que é bastante provável que Schitt’s Creek, indiscutivelmente a melhor série de 2021 (independente do gênero), não deverá receber o mesmo abraço que obteve nos Emmy (onde ganhou praticamente tudo) – afinal, concorre pela sexta e última temporada, pois parece que só agora descobriram a genialidade do programa. Assim, abre-se espaço para Ted Lasso (AppleTV+) e, principalmente, The Flight Attendant (HBO Max) – ambas estreias, mas essa segunda sai na frente por ser de um estúdio mais forte. Emily em Paris (Netflix) foi massacrada pela crítica, e será que The Great (Starzplay) teve audiência suficiente para ser reconhecida? No outro lado, Ratched, mesmo sendo bem problemática, tem assinatura de Ryan Murphy, um produtor e roteirista que costuma agradar por aqui. The Mandalorian talvez seja demais de gênero – por mais bem-sucedida que seja – ao passo de Lovecraft Country obteve uma recepção bastante dividida. Por fim, tanto Ozark quanto The Crown, em suas terceira e quarta temporadas, respectivamente, podem já ter vivido dias melhores.
Melhor Ator em Série – Drama e Comédia & Musical
Vão ganhar: Al Pacino, por Hunters, e Jason Sudeikis, por Ted Lasso
Merecem ganhar: Al Pacino, por Hunters, e Eugene Levy, por Schitt’s Creek
Schitt’s Creek merece ganhar em todas as categorias – o que parece ser bem difícil de acontecer. Eugene é maravilhoso, mas conseguirão resistir ao sorriso contagiante de Jason Sudeikis em Ted Lasso? Pouco provável. Por outro lado, entre os cinco indicados a Melhor Ator em Série Drama temos quatro intérpretes e um gênio – e esse atende pelo nome de Al Pacino. Talvez essa esteja longe de ser a melhor performance de sua carreira (e com certeza está), mas ainda assim é muito superior à dos seus concorrentes.
Melhor Atriz em Série – Drama e Comédia & Musical
Vão ganhar: Emma Corrin, por The Crown, e Kaley Cuoco, por The Flight Attendant
Merecem ganhar: Laura Linney, por Ozark, e Catherine O’Hara, por Schitt’s Creek
Emma Corrin, que interpretou Lady Di na série The Crown, foi a grande novidade do ano nessa categoria, e os votantes do Globo de Ouro adoram quando isso acontece. Tanto que deverão ignorar todo o esforço de Sarah Paulson, em Ratched – uma composição equivocada, que se afasta da personagem, mas não por culpa dela, e sim da direção e do roteiro. Entre as que vinham sido indicadas há mais tempo, Laura Linney é a que entrega mais, fazendo da sua Wendy, em Ozark, um tipo do qual é impossível tirar os olhos. Entre as indicadas em Comédia & Musical, o mesmo se repete do que fora visto entre os concorrentes de ator em série drama: há uma gênia entre elas, e essa se chama Catherine O’Hara. Se fosse possível escolher apenas uma vitória para Schitt’s Creek, seria a dela. No entanto, perceber que há vida após The Big Bang Theory parece ser o passaporte para o sucesso de Kaley Cuoco.
Melhor Ator e Atriz em Minissérie ou Telefilme
Vão ganhar: Hugh Grant, por The Undoing, e Anya Taylor-Joy, por O Gambito da Rainha
Merecem ganhar: Mark Ruffalo, por I Know This Much Is True, e Daisy Edgar-Jones, por Normal People
Como assim Daisy Edgar-Jones está indicada, e Paul Mescal ficou de fora? A dupla de Normal People merece todos os prêmios! Bom, como só dá pra torcer para ela, é fato que Anya Taylor-Joy deveria ter aulas de atuação com a colega, para aprender uma coisa ou outra. Porém, é certo também que O Gambito da Rainha foi um dos maiores fenômenos da Netflix no último ano, e esse seria o agrado certeiro para a gigante do streaming. E se Mark Ruffalo, ainda que arrebatador, soe quase como notícia velha – ganhou o Emmy por esse trabalho – a novidade aqui é descobrir que o eterno galã das comédias românticas consegue – e bem – fazer um vilão, e por isso que Hugh Grant pode se dar bem (apesar daquele final desastroso, mas isso não é culpa dele).
Melhor Ator e Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Telefilme
Vão ganhar: John Boyega, por Small Axe, e Cynthia Nixon, por Ratched
Merecem ganhar: Dan Levy e Annie Murphy, ambos por Schitt’s Creek
Bom, nesse ponto acho que já ficou mais do que claro o meu amor por Schitt’s Creek. Dan Levy e Annie Murphy – ambos premiados no Emmy – concorrem como coadjuvantes, ainda que sejam também protagonistas. Os dois estão em perfeita sintonia com o casal Eugene Levy e Catherine O’Hara, e que glória seria se os quatro fossem premiados juntos (mais uma vez). No entanto, Boyega é o protagonista do longa Red, White and Blue, o terceiro da antologia Small Axe (ainda inédita no Brasil), e muitos chegam a afirmar que a performance dele é digna de Oscar. Por outro lado, Cynthia Nixon também já viveu dias melhores (tanto na icônica Sex and the City, como na Broadway), mas após cinco indicações ao Globo, essa pode ser a vitória que há tanto lhe devem.
Melhor Minissérie ou Telefilme
Vai ganhar: O Gambito da Rainha
Merece ganhar: Normal People
Dos cinco concorrentes, há quatro minisséries e uma coletânea de longas-metragens. Portanto, a pergunta é óbvia: como comparar Small Axe e suas cinco histórias independentes com os quatro outros na disputa? Os votantes do Globo de Ouro demonstram ter um perfil que prefere evitar esse tipo de complicação, e como o trabalho do diretor Steve McQueen parece ser político demais, talvez a indicação aqui já seja reconhecimento suficiente. Temos também Normal People (Starzplay/Hulu), uma obra ao mesmo tempo sensível e poderosa, que não permite nenhum tipo de impessoalidade da parte de quem a assiste. É um trabalho que por muitos momentos beira a perfeição, e não poderia ser ignorado. Mas há duas concorrentes da Netflix, e se Nada Ortodoxa soa específica demais, O Gambito da Rainha, por outro lado, é pop o suficiente para cair das graças da premiação – e por mais que não seja tudo isso que falam sobre ela, também não chega a ser problemática (ou mesmo ruim), como alguns dos demais candidatos (alô, The Undoing!).
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