Astolfo Barroso Pinto sabia, desde muito pequeno, o que queria ser na vida: estrela! De criança já dava sinais de ser afeminado, mas isso nunca foi motivo para conflitos em casa. Com o apoio da família, foi logo atrás dos seus sonhos. Primeiro, começou como cabelereiro, atendendo atrizes como Lolita Rodrigues e Fernanda Montenegro. Foi esta, aliás, que após ouvir um dos seus desabafos (“sou homem, veja só, como vou poder ser a diva dos palcos que imagino?”), virou para ele e disse: “o artista pode tudo”. Ele acreditou, e assim fez. Quando menos esperou, já estava montado com longas perucas, belos vestidos e muita maquiagem, se apresentando nas boates cariocas à noite, enquanto continuava sendo um rapazinho muito discreto durante o dia. Após uma temporada pelo exterior, voltou ao Brasil para se assumir, definitivamente, como Rogéria! A estreia no cinema veio no clássico O Homem que Comprou o Mundo (1968), de Eduardo Coutinho, ao lado de Marília Pêra (antes, havia feito apenas algumas pontas durante os anos 1950). Aquela combinação de homem e mulher, forte e frágil, despertava a atenção de fãs e admiradores, e mesmo em plena Ditadura Militar ela conseguiu se tornar “a travesti da família brasileira”. Atuou em pornochanchadas e em novelas. No cinema, outros papeis de sucesso foram em A Maldição de Sanpaku (1991), de José Joffily, A Causa Secreta (1994), de Sergio Bianchi, e Copacabana (2001), de Carla Camurati. Sua despedida foi em grande estilo, no emocionante documentário Divinas Divas (2016), de Leandra Leal. Um adeus que ficará para sempre na memória. No dia 04 de setembro, aos 74 anos, após permanecer uma semana no hospital por conta de uma infecção urinária, nos deixou, virando de vez o que sempre sonhou: uma estrela, de fato.