Fazer um balanço de 2021 é também relembrar inúmeras perdas no campo artístico-cultural. E o pesar fica mais grave quando o colocamos no contexto de um governo federal que faz de tudo para desvalorizar o artista e sua arte. Some isso às tragédias ocasionada pela Covid-19 e certamente teremos um saldo duro. E por que mencionamos o âmbito político na abertura desse artigo que visa homenagear os nossos mortos célebres? Porque especialmente os que morreram em decorrência da Covid-19 no primeiro semestre de 2021 poderiam ter outro destino caso o nosso (des)governo desastroso não tivesse assumido uma postura negacionista e protelado a compra dos imunizantes que, como estamos vendo, são a principal saída para a crise na qual estamos mergulhados há dois anos. Além dos que estão destacados abaixo, perdemos outros nomes fundamentais, tais como Berta Zemel, Maurice Capovilla, Paulo Thiago, Julio Calasso, Rex Schindler, Marina Miranda, Mila Moreira, Gilberto Braga, Mabel Calzolari, Caike Luna e Luiz Carlos Araújo. Alguns, artistas consagrados e de vasta carreira. Outros, jovens que tinham um mundo pela frente. Fica a saudade e a admiração por todos esses artistas brilhantes que nos deixaram em 2021.
Léo Rosa (1983-2021)
Data de falecimento: 09 de março
O ator Léo Rosa morreu aos 37 anos em decorrência de um câncer nos testículos que tinha evoluído para uma metástase de comportamento agressivo. Ele estreou nos cinemas em 2007 no filme Podecrer!, interpretando o personagem Rafael. Ainda nas telonas, participou de produções premiadas, tais como Faroeste Caboclo (2013) e Por Trás do Céu (2016). Quanto às séries de TV, ele viveu Flávio na comentada O Mecanismo (2018-2019). A novela Amor de Mãe (2020-) acabou sendo seu último trabalho, uma vez que sua trajetória foi abreviada.
João Acaiabe (1944-2021)
Data de falecimento: 01 de abril
Diagnosticado com a Covid-19 no dia 15 de março, ele estava internado em São Paulo. O quando se agravou e o artista não resistiu. Amplamente conhecido por ter interpretado o Tio Barnabé no programa Sítio do Picapau Amarelo entre os anos de 2001 e 2006, ele estrelou o premiado curta-metragem O Dia em Que Dorival Encarou a Guarda (1986), que lhe rendeu o Kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado. Entre os 23 créditos que ele tem no cinema, destacam-se as participações no clássico Eles Não Usam Black-Tie (1981) e em Casa de Areia (2005).
Paulo Gustavo (1978-2021)
Data de falecimento: 04 de maio
Diagnosticado com a Covid-19 no dia 13 de março, o artista não resistiu às complicações da doença que tirou mais de 600 mil vidas no Brasil. Conhecido pelo espetáculo Minha Mãe é uma Peça, ele participou de filmes como Divã (2009) e Xuxa em O Mistério de Feiurinha (2009). Em 2013, estreou o filme Minha Mãe é uma Peça, êxito enorme de bilheterias que rendeu duas sequências ainda mais bem-sucedidas comercialmente, somando mais de 26 milhões de ingressos vendidos. Na televisão, foi a figura principal de programas populares, tais como 220 Volts, Vai que Cola e A Vila.
Matéria especial: In Memoriam Paulo Gustavo (1978-2021)
Eva Wilma (1933-2021)
Data de falecimento: 15 de maio
Depois de ficar internada durante um mês para o tratamento de problemas cardíacos decorrentes de um câncer de ovário, a artista octogenária não resistiu. Ao longo de mais de seis décadas, ela estrelou vários sucessos na televisão, sendo uma das grandes damas das novelas. Nos cinemas, será para sempre lembrada por suas atuações em Cidade Ameaçada (1960), de Roberto Farias, e São Paulo: Sociedade Anônima (1965), de Luiz Sérgio Person. Este desempenho chamou a atenção de Alfred Hitchcock, que a convidou para um teste para o filme Topázio (1969). Ela, no entanto, acabou recusando, por não querer se afastar do Brasil e da família (marido e filhos).
Matéria especial: In Memorian Eva Wilma (1933-2021)
Camilla Amado (1938-2021)
Data de falecimento: 06 de junho
Depois de um bom tempo lutando contra um câncer pancreático, a atriz não resistiu. A carreira artística de Camilla começou na televisão. Ao todo, participou de 39 produções. Nos cinemas, fez parte do elenco de vários títulos, sendo o último deles Chacrinha: O Velho Guerreiro (2018). Nos cinemas, estreou no filme Quem tem Medo de Lobisomem (1975), no mesmo ano interpretando Noêmia em O Casamento, de Arnaldo Jabor – papel pelo qual foi premiada como Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado. Um de seus principais trabalhos recentes às telonas foi no curta-metragem O Vestido de Myriam (2017), no qual também desempenhou a função de produtora.
Orlando Drummond (1919-2021)
Data de falecimento: 28 de julho
O artista morreu em sua casa em decorrência de uma falência múltipla dos órgãos. Drummond ficou conhecido como Seu Peru na Escolinha do Professor Raimundo, além de fazer as vozes brasileiras de Scooby-Doo, Popeye, Alf, o ETeimoso, Gargamel, Patolino, Frajola, Comissário Gordon, Bionicão e o Vingador da Caverna do Dragão, entre outros. A formação em rádio permitiu ao artista moldar a sua voz para os trabalhos de dublagem. Ele entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, por interpretar Scooby-Doo durante mais de 35 anos.
Paulo José (1937-2021)
Data de falecimento: 11 de agosto
Internado durante cerca de 20 dias, não resistiu às complicações de uma pneumonia. Ele convivia há duas décadas com o Mal de Parkinson. Paulo José iniciou a sua carreira artística no teatro, na década de 1950, unindo-se a grandes nomes da dramaturgia nacional no Teatro de Equipe, onde encenou clássicos de Brecht, Molière e Sartre. Mais tarde, juntou-se ao icônico Teatro de Arena. Já nas telonas, estrelou obras fundamentais do cinema brasileiro, a exemplo de O Padre e a Moça (1966), de Joaquim Pedro de Andrade; Todas as Mulheres do Mundo (1966), de Domingos Oliveira; Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman; Dias Melhores Virão (1989), de Cacá Diegues; Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado; Policarpo Quaresma: Herói do Brasil (1998), de Paulo Thiago; e O Homem que Copiava (2003), de Jorge Furtado.
Tarcisio Meira (1935-2021)
Data de falecimento: 12 de agosto
Outra vítima da Covid-19, um dos grandes galãs da telenovela brasileira teve seu primeiro sucesso estrondoso como João Coragem, protagonista da novela Irmãos Coragem (1970). Tarcísio também transitou pelo humor, como quando viveu o atrapalhado Felipe em Guerra dos Sexos (1983). Nos cinemas, estreou em Casinha Pequenina (1963), mas sobressaiu como o imperador D. Pedro I em Independência ou Morte (1972). Outros pontos altos de sua carreira cinematográfica são o Cristo bélico em A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha, e Aprígio, de O Beijo no Asfalto (1981), sucesso baseado numa história de Nelson Rodrigues. Tarcísio colaborou com o cineasta Walter Hugo Khouri em filmes importantes, tais como Amor, Estranho Amor (1982) e Eu (1987). O ator foi agraciado em 2005 com o Troféu Oscarito, honraria concedida pelo Festival de Gramado.
Sergio Mamberti (1939-2021)
Data de falecimento: 03 de setembro
Depois de lutar contra uma agressiva infecção nos pulmões, o artista morreu de falência múltipla dos órgãos. Com uma trajetória meteórica no teatro, foi chamado para atuar em novelas, tais como Brilhante (1980), Dona Beija (1986), Vale Tudo (1988), Pantanal (1990) e Anjo Mau (1997). Para as gerações mais novas, ficou conhecido principalmente como o Dr. Victor no programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum (1994-1997). Nos cinemas, participou de filmes fundamentais, como Toda Nudez Será Castigada (1973), O Homem do Pau-Brasil (1982) e A Dama do Cine Shanghai (1987). Também teve participação ativa na política, desempenhando as funções de Secretário de Música e Artes Cênicas, Secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, Secretário de Políticas Públicas e Presidente da FUNARTE, dentro do hoje extinto Ministério da Cultura, durante os governos Lula.
Luis Gustavo (1934-2021)
Data de falecimento: 19 de setembro
O artista morreu em decorrência de um câncer de intestino. Sua entrada no mundo das artes se deu atrás das câmeras. Depois de um tempo trabalhando como contrarregra, cinegrafista e auxiliar de iluminação, conseguiu se tornar assistente de direção nos primórdios da televisão brasileira. Em 1968, participou de uma verdadeira revolução: Beto Rockfeller, na qual viveu o personagem-título, é considerada um divisor de águas e a composição de Luís Gustavo como o anti-herói é tida como transformadora para a atuação em folhetins. Já nos cinemas, o ator teve menos destaque – principalmente pela dedicação à televisão. Ele participou de O Casamento de Romeu e Julieta (2005) e mais discretamente de Sai de Baixo: O Filme (2019), grande parte por conta das dificuldades impostas por seu já debilitado estado de saúde.
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