Um dos momentos mais emocionantes nas cerimônias anuais do Oscar é o In Memoriam, a pequena homenagem aos grandes nomes do cinema que se foram no ano anterior. É mais ou menos o que nos propusemos a fazer por aqui, tanto com esta matéria quanto com a que cita os artistas brasileiros que infelizmente nos deixaram (e que você pode ler clicando aqui). Como já dissemos em outras matérias dessa nossa retrospectiva 2021, o ano que está prestes a acabar não foi necessariamente fácil. Saudamos o fim de 2020 como se estivéssemos saindo automaticamente do pesadelo da Covid-19, mas a doença se provou resistente, gerando variantes, preocupações, restrições e muito sofrimento mundo afora. Reclamamos do Brasil, especialmente do desgoverno que certamente custou a vida de muitos compatriotas com seu comportamento negacionista, mas outros lugares do mundo também viram manifestações antivacina, ceticismo e uma politização nojenta desta questão de sobrevivência. Nem todos os artistas aqui listados morreram em decorrência do novo coronavírus, mas uma parcela significativa sim. Bom, antes que 2021 acabe, vamos nos lembrar com saudade dos homens e das mulheres que partiram. Além dos dez destacados, também partiram: Jessica Walter, Marion Ramsey, Michael Apted, Jean-Pierre Bacri, Mira Furlan, Gunnel Lindblom, Hal Holbrook, William Wedell, Jean-Claude Carriere, Ronald Pickup, Yaphet Kotto, Bertrand Tavernier, Paul Ritter, Walter Olkewicz, Helen McCrory, Monte Hellman, Norman Lloyd, Charles Grodin, Kevin Clark, Ned Beatty, Vladimir Menshov, Pilar Bardem, Rick Aiello, Sonny Chiba, Michael K. Williams, Art Metrano, Willie Garson, Roger Mitchell, Granville Adams, James Michael Tyler, Jean-Marc Vallé. Um viva a todos.
Cloris Leachman (1926-2021)
Data de falecimento: 27 de janeiro
O sucesso que a artista alcançou foi apenas possível depois de quase duas décadas de trabalho árduo no teatro, na televisão e em filmes de menos destaque. Em 1972, teve vários reconhecimentos de porte imenso, tais como o fato de ter vencido o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por A Última Sessão de Cinema, um dos emblemas da chamada Nova Hollywood, e ser indicada pela primeira vez ao Emmy, o principal prêmio da televisão norte-americana, também como coadjuvante, mas pela série Mary Tyler Moore (1970-1977). Ao todo, foi indicada a 19 Emmy, tendo vencido em sete oportunidades. Nos cinemas, outros papeis de destaque dela foram em O Jovem Frankenstein (1974), de Mel Brooks, e Espanglês (2004), com Adam Sandler.
Cicely Tyson (1924-2021)
Data de falecimento: 28 de janeiro
Começou a atuar nos anos 1950 com êxito em peças off-Broadway. Chamou atenção como Portia de Por que Tem de ser Assim (1968). Quatro anos mais tarde, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por Lágrimas de Esperança (1972). Já em 1974, foi agraciada com o Emmy de Melhor Atriz em Drama por The Autobiography of Miss Jane Pittman, no qual viveu uma ex-escravizada de 110 anos. Ela buscava apenas interpretar papeis que a permitissem construir uma imagem forte e positiva das mulheres negras. Nos anos 1990, sobressaiu em filmes como Tomates Verdes Fritos (1991). Nos 2000, participou dos elencos de Histórias Cruzadas (2011), O Limite da Traição (2020) e da série House of Cards (2013-2018). Seu último crédito foi na série How to Get Away With Murder (2014-2020). Em 2019, ela foi agraciada com um merecidíssimo Oscar Honorário.
Christopher Plummer (1929-2021)
Data de falecimento: 05 de fevereiro
Sua carreira nas artes dramáticas começou nos anos 1950, quando se dedicava especialmente a adaptações de Shakespeare, a exemplo de Henry V, Othello e Macbeth. Conquistou alguns papéis em séries de televisão nos anos 1950, além de pequenos filmes, mas sua carreira definitivamente se transformou com a atuação em A Noviça Rebelde (1965), que o tornou mundialmente conhecido como o Capitão Von Trapp. Com o passar das décadas, pôde mostrar a versatilidade em obras muito diferentes, como Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991), Os 12 Macacos (1995), O Palhaço Assassino (1998), Uma Mente Brilhante (2001) e A Lenda do Tesouro Perdido (2004).
MATÉRIA ESPECIAL – In Memoriam :: Christopher Plummer (1929 – 2021)
George Segal (1934-2021)
Data de falecimento: 23 de março
Descendente de imigrantes judeus russos, começou a trabalhar com teatro após uma breve passagem pelo exército. Estreou nos cinemas nos anos 1960, rapidamente chamando a atenção pelo talento. Venceu o Globo de Ouro de 1965 como Melhor Astro Promissor por Torvelinho de Paixões (1964). Logo depois, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por seu papel no filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966). Nos anos 1970, consolidou seu status ascendente ao participar de sucessos como O Corujão e a Gatinha (1970), Amantes em Veneza (1973) e Jogando com a Sorte (1974). Ainda na década de 1970, muitos o comparavam a Jack Nicholson por conta do talento análogo ao do colega para transitar entre comédia e drama. Por uma conjunção de fatores, nunca chegou a decolar como prenunciavam seus anos iniciais de ator.
Olympia Dukakis (1931-2021)
Data de falecimento: 01 de maio
Provavelmente o papel mais marcante da atriz norte-americana que nasceu na cidade de Lowell, no estado do Massachusetts, foi em Feitiço da Lua (1987), pelo qual recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante de 1988. No longa-metragem, interpretou a mãe de Cher. A cantora/atriz também fez questão de render suas homenagens à falecida em suas redes sociais: “Olympia Dukakis foi uma atriz incrível e vencedora do Oscar. Ela interpretou minha mãe em Feitiço da Lua“, escreveu Cher. Também teve uma prolífica carreira teatral no circuito off-Broadway, mas também em alguns espetáculos da Broadway. Seu trabalho mais recente foi na série Crônicas de São Francisco (2019-). Uma curiosidade: ela era prima do político Michael Dukakis, derrotado por George Bush na campanha presidencial dos Estados Unidos em 1988.
Richard Donner (1930-2021)
Data de falecimento: 05 de julho
Mesmo que tenha começado sua carreira artística como ator, logo buscou formação para atuar como diretor de televisão. Por conta de seu talento rapidamente evidente, chegou a trabalhar em grandes sucessos, tais como Além da Imaginação (1963-1964) e O Agente da UNCLE (1964). O grande salto na sua carreira cinematográfica se deu em 1976 com A Profecia, cujo sucesso o credenciou a comandar Superman: O Filme (1978). Naquele momento, parecia até um tanto ridícula a ideia de levar super-heróis ao cinema, mas ele fez um trabalho tão bom que até hoje é considerado um dos melhores exemplares baseados em histórias em quadrinhos, apenas não voltando à sequência por conta de um litígio sério com os produtores. Esteve à frente de grandes sucessos, tais como Os Goonies (1985), aventura que marcou toda uma geração, e logo depois começou o que seria a sua franquia de estimação – quando elas não eram quase uma obsessão em Hollywood – com Máquina Mortífera (1987).
Jean-Paul Belmondo (1933-2021)
Data de falecimento: 06 de setembro
Poucos atores foram eternizados praticamente como o rosto de uma vanguarda. Jean-Paul Belmondo é um deles. Junto com seus contemporâneos Anna Karina, Jean-Pierre Leaud, entre outros, ele ficará para sempre marcado como uma das personificações da Nouvelle Vague francesa. Seu primeiro papel de destaque nos cinemas é aquele pelo qual muitos o reconhecem: o anti-herói Michel Poiccard de Acossado (1960). A irreverência e desacordo com um mundo repleto de regras e tradições são características desse personagem que obviamente serviu como molde a tantos outros que vieram depois com semelhante ímpeto transgressor. Jean-Paul Belmondo foi ainda o protagonista de O Demônio das Onze Horas (1965). Um ano antes, em 1964, participou de O Homem do Rio, mistura de aventura e romance dirigida por Philippe de Broca e que teve filmagens no Brasil.
Dean Stockwell (1936-2021)
Data de falecimento: 07 de novembro
Começou sua trajetória no mundo do cinema ainda nos anos 1940, chamando a atenção dos estúdios por ser uma criança prodígio. Contracenou com Gene Kelly e Frank Sinatra em 1945 em Marujos do Amor. Foi indicado ao Oscar em 1988 por seu papel coadjuvante em De Caso com a Máfia. Um de seus grandes papeis foi na televisão, na série Quantum Leap (1989-1993), pelo qual foi indicado quatro vezes ao Emmy. Os fãs do cineasta David Lynch certamente conhecem bem o trabalho de Dean Stockwell. Afinal de contas, ele viveu o indefectível Ben em Veludo Azul (1986), sujeito que dubla a canção Candy-colored Clown para aclamar os nervos do não menos icônico personagem de Dennis Hopper. Também com Lynch, Stockwell fez Duna (1984), no qual interpretou o doutor Wellington Yueh. Outros filmes que contaram com o ator em seu elenco foram Paris, Texas (1984), Um Tira da Pesada II (1987), Madonna: Inocência Perdida (1994), O Homem que Fazia Chover (1997) e Sob o Domínio do Mal (2004). Na televisão, seu último grande sucesso foi em Battlestar Galactica (2004-2009).
Lina Wertmüller (1928-2021)
Data de falecimento: 09 de dezembro
Começou sua carreira através da amizade com Federico Fellini, que se tornou seu mentor no cinema italiano. No mesmo ano em que foi assistente de direção de 8 1/2, ela dirigiu seu primeiro longa-metragem, I Basilischi (1963), pelo qual venceu o prêmio de melhor direção no Festival de Locarno. A seguir, tornou-se uma figura frequente nos maiores festivais de cinema do mundo: ela apresentou Mimi, o Metalúrgico (1972) em Cannes; Dois Perdidos numa Noite de Chuva (1978) e Camorra (1985) em Berlim, e Em Noite de Lua Cheia (1989) em Veneza. Em 2010, recebeu o David di Donatello honorário pela carreira. Tornou-se conhecida como a primeira mulher da história a ser indicada ao Oscar de melhor direção por Pasqualino Sete Belezas (1975), que também lhe rendeu uma indicação na categoria de melhor roteiro. Em 2020, ela recebeu o Oscar honorário pelo conjunto da carreira.
Veronica Forqué (1955-2021)
Data de falecimento: 13 de dezembro
Um dos rostos mais populares do cinema espanhol, frequente tanto em comédias de sucesso quanto nos dramas, a artista se tornou conhecida principalmente pelas parcerias com o diretor Pedro Almodóvar. Embora tenha começado a atuar no início da década de 1970, despontou nas comédias extravagantes do cineasta, caso de O que Eu Fiz para Merecer Isto? (1984), Matador (1986) e Kika (1993), no qual interpretou o papel principal. Ela havia terminado recentemente sua participação em três novos projetos, ainda inéditos nos cinemas: a comédia Tudo Menos Natal (2021), o curta-metragem dramático Es Navidad (2021) e a comédia Espejo, Espejo (2022).