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In Memoriam :: Bob Hoskins (1942-2014)

Publicado por
Robledo Milani

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Nascido no dia 26 de outubro de 1942 na pequena Bury St. Edmunds, Suffolk, interior da Inglaterra, Robert William Hoskins ficou conhecido mundialmente pelo apelido ‘Bob’ Hoskins, que adotou como nome artístico. A família morava no local após fugir de bombas durante a Segunda Guerra Mundial, e seus primeiros anos de vida não foram nada fáceis. Filho de uma enfermeira e de um motorista, o rapaz sempre teve que ajudar nas tarefas de casa, a ponto de ter que abandonar os estudos aos 15 anos de idade. No entanto, foi durante esse período escolar que descobriu sua paixão pelas letras e pela literatura, o que o levou também a descobrir o teatro. A carreira de ator, no entanto, começou quase que por acaso, ao acompanhar um amigo em audições e ser confundido como um dos candidatos. O resultado foi uma inesperada aprovação, levando-o finalmente aos palcos. Logo em seguida veio a televisão, estreando na minissérie The Main Chance (1972), no começo da década de 1970. Outros pequenos papéis se seguiram, até o sucesso finalmente aparecer nos seriados Thick as Thieves (1974) e Pennies from Heaven (1978). Estabelecido na telinha, faltava o grande passo: o cinema!

Durante todo o tempo em que se ocupava em produções televisivas, ia alternando qualquer período livre com pequenas participações em projetos cinematográficos. A estreia na tela grande se deu com a comédia Up The Front (1972), de Bob Kellett, como um personagem que nem nome tinha. Assim foi durante toda a década, até seu primeiro grande trabalho: Alvorada Sangrenta (1979), drama histórico em que atuava ao lado dos grandes Burt Lancaster e Peter O’Toole. No ano seguinte, o reconhecimento da crítica: Caçada na Noite (1980), de John Mackenzie, lhe valeu sua primeira indicação ao Bafta. Os anos 1980 foram um período de consagração, tanto pelo talento – foi indicado ao Oscar por Mona Lisa (1986), de Neil Jordan – como em popularidade – é o protagonista do revolucionário Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), de Robert Zemeckis.

Nos anos seguintes, alternou produções elogiadas, como Nixon (1995), de Oliver Stone, e O Fio da Inocência (1999), de Atom Egoyan, com produções mais comerciais, como o personagem Barrica, de Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991), de Steven Spielberg, e o herói Mario, de Super Mario Bros. (1993). Também esteve envolvido nos constrangedores O Mundo das Spice Girls (1997), O Filho do Máskara (2005) – que lhe valeu uma indicação às Framboesas de Ouro – e a animação Garfield 2 (2006), como dublador. Na maioria das vezes, no entanto, foi um coadjuvante fiel de longas de destaque como Sra. Henderson Apresenta (2005), Paris, Te Amo (2006), Hollywoodland: Bastidores da Fama (2006) e Revolução em Dagenham (2010). Seu último trabalho foi o campeão de bilheteria Branca de Neve e o Caçador (2012), como um dos sete anões.

Hoskins morreu aos 71 anos no dia 29 de abril de 2014, vítima de pneumonia e cercado pela esposa e filhos. O ator, no entanto, estava aposentado desde 2012, quando foi diagnosticado com Mal de Parkinson. Ele parte deixando sua marca na história do cinema, um ator de personalidade forte e bastante versátil, competente tanto na comédia quanto no drama. Um grande nome da sétima arte, e sua ausência será muito sentida. Abaixo segue nossa seleção com os cinco trabalhos inesquecíveis do grande Bob Hoskins!

 

Caçada na Noite (1980)
Após o sucesso do drama histórico Alvorada Sangrenta (1979), Bob Hoskins foi escalado para ser o protagonista deste thriller estrelado também por Helen Mirren. Ele aparece como um gângster à beira de um grande negócio quando tudo em sua vida começa a dar errado. Dirigido por John Mackenzie, ficou em segundo lugar entre os melhores filmes estrangeiros do ano pelos críticos de Los Angeles, além de ter rendido a primeira indicação em cinema ao Bafta – o Oscar inglês – para Hoskins (o ator foi indicado mais duas vezes, tendo sido premiado na última). O retrato seco e cruel de um homem em desespero marcou sua carreira, e somente os trabalhos mais leves e alternativos que defenderia nos anos seguintes é que iriam mudar a percepção do público a ser respeito.

 

Mona Lisa (1986)
Este talvez seja o filme mais importante de toda a carreira de Bob Hoskins, aquele que lhe valeu a consagração absoluta. No papel de um homem recém solto da prisão cujo único emprego que encontra é o de motorista de uma prostituta de luxo, ele transcorre com suavidade da antipatia inicial que nutre pela garota para uma real afeição que surge entre os dois, até se envolverem com o mafioso interpretado por Michael Caine, o que colocará o pescoço dos dois em perigo. Hoskins ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Drama, o Bafta, o prêmio do Festival de Cannes, foi reconhecido pelos críticos de Boston, Kansas, Londres, Los Angeles, Nova York e da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de ter recebido sua única indicação ao Oscar. Ele chegou à maior festa do cinema mundial na condição de favorito absoluto, apenas para perder a estatueta dourada para uma interpretação protocolar do grande Paul Newman em A Cor do Dinheiro (1986), uma vitória considerada por muitos como de compensação por todas as suas derrotas anteriores. Bob Hoskins pode ter se sentido roubado, mas foi o grande campeão moral daquele ano.

 

Uma Cilada para Roger Rabbit (1988)
Este foi o filme protagonizado por Bob Hoskins de maior sucesso de público de toda a sua carreira: foram quase US$ 330 milhões arrecadados nas bilheterias de todo o mundo. Dirigido por Robert Zemeckis, a revolucionária produção que combinava atores reais com desenhos animados tinha ainda produção de Steven Spielberg, dando início a uma parceria que renderia três anos depois o ambicioso Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991), dirigido por Spielberg e que contou com Hoskins como um dos seus melhores personagens, o pirata Barrica, braço direito do temido Capitão Gancho. Em Uma Cilada para Roger Rabbit, no entanto, ele é o detetive Eddie Valiant, especializado em casos no mundo da animação, que precisa ajudar o coelho Roger Rabbit a desvendar uma conspiração contra ele. O resultado foi tão surpreendente que rendeu ao filme três Oscars – Edição, Efeitos Sonoros e Efeitos Visuais – além de duas indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme em Comédia ou Musical e Melhor Ator em Comédia ou Musical, para Bob Hoskins.

 

Minha Mãe é uma Sereia (1990)
Pouca gente lembra desse filme, mas só o fato do casal formado por Hoskins e pela diva Cher, no primeiro trabalho dela após a vitória no Oscar por Feitiço da Lua (1987), ter funcionado tão bem, a despeito de todas as aparências contrárias, já conta muitos pontos a favor. O filme dirigido por Richard Benjamin a partir do livro de Patty Dann é uma deliciosa comédia romântica sobre uma família disfuncional só de mulheres que encontra um porto seguro na presença de Lou Landsky (Hoskins), um vizinho que se apaixona por essa mãe (Cher) nada convencional. As filhas, interpretadas por Winona Ryder e Christina Ricci, são outro destaque da produção. Ryder, aliás, concorreu ao Globo de Ouro e ganhou o National Board of Review como Melhor Atriz Coadjuvante, mas é no casal formado pelos protagonistas que reside todo o charme e carisma da produção.

 

O Fio da Inocência (1999)
Esse curioso e discreto suspense dirigido pelo cineasta canadense Atom Egoyan, a partir do livro de William Trevor, foi um sucesso cult, aplaudido pela crítica, porém menosprezado pelo público. Bob Hoskins, no entanto, entrega aqui sua última grande atuação, como um personagem complexo e capaz de grandes revelações. De volta a sua terra natal, ele interpreta um solitário cozinheiro que sonha em ser um grande chef de cozinha. Ao se aproximar de uma garota irlandesa que está se mudando para a Inglaterra para encontrar seu namorado, ela acaba desenvolvendo um curioso jogo de gato e rato com ela, que nem percebe que está se envolvendo com um assassino em potencial. Contado em flashbacks, é um filme que surpreende pelo impressionante estudo dos personagens. Bob Hoskins ganhou o Genie – o Oscar canadense – por este filme, que foi premiado ainda como Melhor Roteiro, Fotografia e Trilha Sonora, além de ter recebido outras seis indicações, inclusiva a Melhor Filme.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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