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Charlton Heston, nome artístico de John Charles Carter, um dos mais importantes astros da Era de Ouro de Hollywood, passou pela vida pública não apenas como grande ator. Nascido no estado de Illinois, ele foi um artista com forte senso de cidadania, daqueles que colocam o prestígio alcançado a serviço de causas. Heston testemunhou o divórcio dos pais quando tinha dez anos e mudou-se para Chicago por conta do segundo casamento da mãe. Lá, envolveu-se com teatro na escola secundária, afinidade logo reconhecida com uma bolsa para estudar artes dramáticas na universidade. Em meio às disciplinas, conheceu sua futura esposa, Lydia Marie Clarke, com quem teve dois filhos mais tarde.

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Seu primeiro contato com o cinema ocorreu em 1941, quando protagonizou Peer Gynt (1941), adaptação de uma peça de Henrik Ibsen filmada em 16mm. O filme estudantil lhe garantiu experiência, contudo não uma migração imediata dos palcos às telas. Em 1944, Heston se alistou na força área do exército, dando uma pausa na carreira para servir ao país como operador de rádio de bombardeiros. Chegou à patente de sargento antes de encerrar sua passagem pela Segunda Guerra Mundial. Logo depois, estabeleceu-se com Lydia em Nova York, apostando todas as fichas na carreira teatral. Destacou-se em 1948 como um dos atores principais de Antonio e Cleópatra, espetáculo baseado na obra de Shakespeare, encenado por aproximadamente dois anos. Charlton Heston, como todo talento evidente da época, chamou novamente a atenção do cinema.

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Em 1949, foi contratado para interpretar Marco Antonio em Julius Caesar (1949), produção dirigida por David Bradley, na qual pôde usar a bagagem shakespeariana e demonstrar-se ideal, por seu semblante pétreo e sua forte presença cênica, para dar vida a personagens de grandeza. O Maior Espetáculo da Terra (1952), superprodução de Cecil B. DeMille, foi o filme que consolidou sua nova posição na indústria. Dali em diante, os vários convites para trabalhar com cinema mostraram que Charlton Heston era mais que um nome em ascensão. E ele soube aproveitar muito bem as oportunidades que se seguiram.

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Colecionador de papeis em diversos filmes de importância indiscutível, ele viveu o profeta Moisés em Os Dez Mandamentos (1956), o escravo Ben-Hur no clássico homônimo de 1959 (dirigido por William Wyler), o herói da reconquista espanhola Don Rodrígo Díaz de Vivar em El Cid (1961), entre outras encarnações icônicas. Mas não foi apenas nas grandes produções que ele demonstrou capacidade. Prova maior disso é sua excepcional performance em A Marca da Maldade (1958), como um chefe de polícia mexicano que questiona os limites éticos de sua profissão em meio a um assassinato ocorrido na fronteira entre o México e os Estados Unidos. O embate entre Charlton Heston e Orson Welles prova o talento de ambos.

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Paralelo à atividade cinematográfica, Heston era um liberal democrata de forte atuação nos anos 1960. Acompanhou Martin Luther King durante a Marcha pelos direitos civis a Washington, em 1963, carregando uma faixa em que se lia a frase: “Todos os homens nascem iguais”. Compareceu a programas de televisão defendendo o controle da venda de armas nos Estados Unidos, além de ser um opositor ferrenho de Richard Nixon e do macarthismo. Entretanto, a partir dos anos 1980, depois de ter atuado com destaque em O Planeta dos Macacos (1968), A Última Esperança da Terra (1971), No Mundo de 2020 (1972) e Terremoto (1974), estranhamente adotou uma postura antagônica, conservadora. Trocou seu registro do Partido Democrata para o Republicado, condenou publicamente o aborto, fez campanha pelo direito do cidadão norte-americano comprar e portar armas de fogo (foi, inclusive, presidente da National Rifle Association) e apoiou publicamente Ronald Reagan e os Bush, pai e filho.

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Em 2002, Charlton Heston afastou-se do trabalho em virtude do mal de Alzheimer. Figura lendária do cinema norte-americano, conviveu com os sintomas por seis anos, até falecer em 5 de abril de 2008, aos 84 anos, na sua residência de Beverly Hills, deixando um legado artístico dos mais sólidos, difícil de ser igualado, a despeito das controvérsias que suas posturas políticas causaram.

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Filmes imprescindíveis: Os Dez Mandamentos (1956) e Ben-Hur (1959);

Filme esquecível: Quanto Mais Idiota Melhor 2 (1993);

Maior sucesso de bilheteria: Sem correção monetária, levando em consideração apenas os números, o maior sucesso de Charlton Heston nas bilheterias foi True Lies (1994), que arrecadou mundialmente quase 370 milhões de dólares;

Primeiro filme: Peer Gynt (1941), adaptação de uma peça escrita em versos pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen;

Último filme: Josef Mengele: My Father, Rua Alguem 5555 (2003), drama de guerra dirigido pelo italiano Egidio Eronico;

Guilty pleasure: Aeroporto 75 (1974);

Papeis Perdidos: Desistiu de protagonizar Darby’s Rangers (1958), posto assumido por James Garner;

Oscar: Venceu o Oscar de Melhor Ator em 1960 por Ben-Hur e o Prêmio Jean Hersholt, em 1978, por suas contribuições com programas humanitários;

Frase inesquecível: “Meu rosto pertence a outro século”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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