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20150322 01 claudio marzo papo de cinema

Claudio Marzo nasceu no dia 26 de setembro de 1940 em São Paulo, filho de uma família de operários e descendente de italianos. Desde cedo teve que trabalhar para ajudar em casa, mas sabia que seu destino não seria como mão de obra bruta. O pai o forçava a estudar, mas isso também não o conteve. Aos 17 anos abandonou os estudos e conseguiu um emprego como figurante na TV Paulista. Ali começava a carreira de um dos maiores astros do cenário popular e artístico nacional. A paixão pelo teatro foi o primeiro impulso, mas o cinema e a televisão sempre estiveram por perto. E hoje, dia 22 de março de 2015, quando tinha 74 anos de idade, deixou o mundo mais pobre com sua ausência, ao falecer vítima de pneumonia em uma clínica no Rio de Janeiro. Deixou também três filhos, cada um filho de uma das suas três primeiras mulheres, as atrizes Betty Faria, Xuxa Lopes e Denise Dumont.

Antes dos 20 anos já trabalhava na TV Tupi, e aos 25 foi chamado para compor o primeiro time da TV Globo, que inaugurou suas transmissões em 26 de abril de 1965. Naquela época fazia muitos trabalhos como dublador, e sua voz era mais famosa do que seu rosto. Já entre o público paulista era muito conhecido por fazer parte do Grupo Oficina, uma dos mais populares da época. A primeira oportunidade no cinema veio em 1967, quando foi chamado para participar da comédia romântica O Mundo Alegre de Helô, de Carlos Alberto de Souza Barros. De cara, teve a oportunidade de atuar ao lado de nomes como Célia Biar e Jorge Dória, além de fazer par com a diva Leila Diniz. O sucesso desse longa o levou a investir na carreira na tela grande, atuando em títulos como O Homem que Comprou o Mundo (1968), um dos únicos longas de ficção de Eduardo Coutinho, e Copacabana Me Engana (1968), ao lado de Odete Lara.

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Cena de Copacabana Me Engana, de 1968

Neste mesmo ano atuou em O Engano (1968), em que apareceu ao lado de Hugo Carvana. A amizade entre os dois perduraria por toda a vida, e juntos fariam diversos outros filmes, tanto atuando como com Carvana na direção. Um dos seus últimos trabalhos na tela grande, por sinal, foi na comédia Casa da Mãe Joana (2008), dirigida pelo amigo. Em 1969, estrelaria o drama Máscara da Traição, em que apareceu ao lado do casal Tarcísio Meira e Gloria Menezes. A química entre eles foi tão forte que no ano seguinte seriam chamados para estrelarem, juntos, um dos maiores sucessos televisivos de todos os tempos: a novela Irmãos Coragem (1970).

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Cena de Nunca Fomos Tão Felizes, 1984

Outro grande sucesso popular foi como protagonista da aventura O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil (1971), de Antonio Calmon e escrito a partir de um argumento do próprio Carvana. O crescimento da televisão como veículo de massa o atraía cada vez mais, deixando menos espaço para aparições cinematográficas. O retorno à tela grande se deu com a comédia O Flagrante (1976), em que começaria outra parceria que rendeu muitos frutos durante sua carreira: com o ator e diretor Reginaldo Faria. Aqui, os dois apareciam como foliões tentando aproveitar o melhor do Carnaval enquanto fugiam das próprias mulheres. Mas o trabalho mais marcante do duo seria o drama Pra Frente, Brasil (1982), que chegou a ser premiado até no Festival de Berlim.

Antes disso, no entanto, Claudio Marzo se consagraria ao aparecer em um dos maiores sucessos de público do cinema nacional em todos os tempos: A Dama do Lotação (1978), dirigido por Neville de Almeida a partir de um conto de Nelson Rodrigues. Ao lado de nomes como Paulo César Peréio, Jorge Dória e Nuno Leal Maia, interpretava um dos tantos homens que tinham suas vidas reviradas por Sônia Braga, a personagem-título. Antes do final dos anos 1970 marcou presença ainda na comédia Se Segura, Malandro! (1978), de Carvana, e no drama A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Júnior, premiado no Festival de Brasília.

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Cena de O Homem Nu, 1997

A nova década começou bem, com sucessos de público, como O Segredo da Múmia (1982), terrir de Ivan Cardoso, e o drama Nunca Fomos Tão Felizes (1984), de Murilo Salles, premiado no Festival de Locarno. As oportunidades começaram a rarear, e seu vício em bebidas e cigarros complicaram muitas possibilidades. Voltou a aparecer no fenômeno Pantanal (1990) e no remake de Irmãos Coragem (1995), duas obras que o apresentaram para um novo público através da televisão. Em alta, foi chamado pelo amigo Carvana para estrelar O Homem Nu (1997), adaptação do best seller de Fernando Sabino que lhe deu seu primeiro – e único – prêmio no cinema: o kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado. Vieram poucos trabalhos de destaque nos anos seguintes, como a comédia histórica O Xangô de Baker Street (2001), adaptação do romance de Jô Soares, e a aventura A Selva (2002), uma coprodução entre Brasil e Portugal. Ao todo foram 35 longas-metragens, que deixaram marcados para a eternidade o talento e a versatilidade deste astro que deixou sua trajetória marcada para sempre na história do cinema nacional. 

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Cena de Bela Noite Para Voar (2009), seu último filme

Filme imprescindível: O Homem Nu (1997), longa baseado no romance de Fernando Sabino que foi seu primeiro sucesso como protagonista em muitos anos

Filme esquecível: Adágio ao Sol (1996), pretenciosa produção dirigida por Xavier de Oliveira que não teve sucesso nem junto ao público, muito menos com a crítica

Maior sucesso de bilheteria: A Dama do Lotação (1978), thriller erótico que levou mais de 6,5 milhões de espectadores aos cinemas e é a terceira maior bilheteria da história do cinema brasileiro

Primeiro filme: O Mundo Alegre de Helô (1967)

Último filme: Bela Noite Para Voar (2009)

Guilty pleasure: Em Busca do Su$exo (1970), pornochanchada em que é vítima de uma garota que deseja se tornar uma estrela como dançarina na TV Globo

Premiações: Ganhou o kikito de Melhor Ator no Festival de Gramado por O Homem Nu (1997)

Frase inesquecível:Sempre tive vontade de ser ator, achava uma coisa fantástica. Os atores me emocionavam. Achava interessante você transmitir emoções e consciência de mundo para as pessoas. Ingenuamente, talvez, sempre acreditei que a arte pudesse mudar o mundo”.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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