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In Memoriam :: Dennis Hopper (1936-2010)

Publicado por
Rodrigo de Oliveira

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Por muito tempo, Dennis Hopper teve seu talento como ator e diretor ofuscado pelo seu comportamento errático fora das telas. Também pudera. Hopper, nascido em 17 de maio de 1936, em Kansas, Estados Unidos, tinha certa inclinação para a rebeldia. Curiosamente, seu primeiro trabalho nos cinemas seria um marco para toda uma geração de “rebeldes sem causa”: Juventude Transviada (1955), de Nicholas Ray, primeiro dos dois trabalhos em que o ator dividiria a tela com o astro James Dean – Assim Caminha a Humanidade (1956), de George Stevens, sendo o outro. A amizade com Dean acabou de forma trágica com a morte do jovem ator em um acidente de carro. O rebelde mais famoso do cinema havia morrido, mas Hopper estava preparado para preencher esta lacuna deixada pelo amigo.

Isso, claro, se seu comportamento nos bastidores não fosse tão problemático. Nos sets de Caçada Humana (1958), Hopper se desentendeu com o diretor Henry Hathaway que, reza a lenda, teria afirmado que o ator nunca mais conseguiria emprego em Hollywood depois daquela experiência. Curiosamente, o mesmo cineasta que havia afirmado este final de carreira abrupto para Dennis Hopper o dirigiria em mais duas ocasiões: Os Filhos de Katie Elder (1965) e Bravura Indômita (1969). Na verdade, quem o ajudou neste caso foi o astro John Wayne, que era amigo da sogra do ator e bancou a participação do jovem problemático nestes filmes que protagonizava. Uma ajudinha que representou o retorno do rapaz às grandes produções de Hollywood.

Westerns pareciam uma boa saída para Dennis Hopper, que havia achado um gênero confortável para trabalhar. Isso até uma moto cruzar o caminho do ator em Sociedade Violenta (1967), dirigido por Anthony M. Lunza. Seu amigo Henry Fonda também estava envolvido em outra produção similar: Os Anjos Selvagens (1966), de Roger Corman. E Jack Nicholson, por sua vez, trabalhou em Os Demônios sobre Rodas (1967), de Richard Rush. Ou seja, existia uma febre de produções deste gênero e, aproveitando o bom momento, Hopper encontrou sua chance de estrear como diretor.

Sem Destino (1969) foi um marco em Hollywood. O roteiro era um verdadeiro esboço, a produção tinha orçamento baixíssimo e Hopper, estreante na função, não tinha como ver as gravações do dia (as dailies) por estar legitimamente na estrada. Em contrapartida, a forma como o longa-metragem tratava a temática das drogas e da contracultura, sem papas na língua ou subterfúgios, falou de forma potente com o público da época. A trilha sonora roqueira e a edição criativa transformaram Sem Destino em um dos pontos de virada para a chamada Nova Hollywood, uma geração comandada por diretores do calibre de Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Michael Cimino. Curiosamente, não era vontade de Dennis Hopper iniciar sua carreira como cineasta com mais uma produção envolvendo motocicletas. O roteiro pronto de The Last Movie tinha tudo para ser o seu primeiro trabalho atrás das câmeras. Mas sem dinheiro para fazê-lo, o ator/cineasta se viu obrigado a começar com Sem Destino. Um início bastante promissor, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e Ator Coadjuvante (Nicholson).

Com este trabalho, o mundo estava aberto para Dennis Hopper. Infelizmente, o vício em drogas e seu alcoolismo foram freios para a ascensão da carreira do artista. A recepção fria de The Last Movie (1971) deixou Hopper afastado da cadeira de diretor por nove anos. Não fosse o papel do atormentado fotojornalista em Apocalypse Now (1978), de Francis Ford Coppola, a década de 1970 ficaria mais lembrada pelos casamentos problemáticos (apenas sete dias casado com a cantora do Mamas and the Papas, Michelle Phillips, devem ser algum tipo de recorde) e pelo uso abusivo de álcool e cocaína.

A década de 1980 representaria um revival para a carreira de Dennis Hopper. Sua elogiada performance em Anos de Rebeldia (1980), marcando o retorno do ator atrás das câmeras, e sua nova parceria com Coppola em O Selvagem da Motocicleta (1983) mostraram um ator pronto para voltar aos holofotes. O que aconteceu em 1986, época em que Hopper conseguiu superar seu vício em álcool,  mantendo-se sóbrio por um longo período. Seus trabalhos em Veludo Azul, de David Lynch, Juventude Assassina, de Tim Hunter e Momentos Decisivos, de David Anspaugh – este último lhe rendendo a primeira e única indicação ao Oscar como Ator Coadjuvante – representaram a guinada que ele precisava para voltar a trabalhar novamente em grandes produções. Fato que o deixou apto a dirigir Sean Penn, em 1988, no elogiado As Cores da Violência.

Veio a década de 1990 e mais personagens memoráveis surgiram na filmografia de Hopper – para o bem e para o mal. O pequeno papel em Amor à Queima Roupa (1993), de Tony Scott, com roteiro de um pouco conhecido Quentin Tarantino, foi sua melhor performance da década, embora seja mais lembrado pelo grande público por personagens vilanescos em Super Mario Bros (1993), Velocidade Máxima (1994) e Waterworld (1995).

No novo milênio, Dennis Hopper se aventurou mais na televisão, com uma pequena participação no seriado 24 Horas (2001) e como protagonista da série Crash, spin-off da produção vencedora do Oscar. Seu último grande papel no cinema veio em 2006, contracenando ao lado de Ben Kingsley e Penélope Cruz em Fatal. Em 2009, começou sua luta contra um câncer de próstata que tiraria sua vida em 29 de maio de 2010. O ator que começou como um legítimo enfant terrible em Hollywood, que viveu no limite durante décadas e décadas, se despediu do seu público aos 74 anos de idade, pouco depois de ter ganhado uma estrela na calçada da fama.

Filme imprescindível: Sem Destino (1969)
Filme esquecível: Super Mario Bros (1993)
Maior sucesso de bilheteria: Velocidade Máxima (1994)
Maior fracasso de bilheteria: Waterworld (1995)
Primeiro Filme: Juventude Transviada (1955)
Último Filme: A Lady e o Lobo: O Bicho tá Solto (2010)
Guilty Pleasure: O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986)
Papel perdido: O Show de Truman (1998), substituído por Ed Harris
Oscar: indicado por Sem Destino, como Melhor Roteiro, e Momentos Decisivos, como Melhor Ator Coadjuvante
Framboesa de Ouro: vencedor por Waterworld, como Pior Ator Coadjuvante
Frase inesquecível: Qual é o problema com a liberdade? É pra isso que vivemos!” – Billy, em Sem Destino

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

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