Apaixonado por heróis de histórias em quadrinhos. Roteirista do gibi de Flash Gordon. Inventor do termo ‘paparazzi’. Jornalista. Filho de um vendedor de porta em porta e de uma dona de casa. Tudo isso – e muito mais – é Federico Fellini, apontado por muitos como um dos maiores cineastas de todos os tempos. Nascido no dia 20 de janeiro de 1920 em Rimini, na região de Emilia-Romagna, no interior da Itália, aquele que ficou conhecido como Il Maestro nos deixou no dia 31 de outubro de 1993, ao falecer de um ataque de coração em sua casa, em Roma.
Federico Fellini era o mais velho de três filhos, e durante a infância a família circulou por quase toda a Itália, acompanhando o pai viajante. Essas experiências serviram de base para muitos dos seus filmes – alguns dos seus muitos amigos chegavam a afirmar que o cineasta convidava suas próprias memórias pelo simples prazer de narrá-las em seus filmes. Ainda que na adolescência ele e o irmão tenham participado de um grupo fascista obrigatório a todos os jovens da época, conseguiu compor uma obra repleta de sérias críticas à sociedade, ainda que essas viessem sempre envoltas pela magia do cinema.
Fellini conheceu sua esposa, a atriz Giuletta Masina, em 1942 – e se casaram no ano seguinte, tendo permanecidos juntos pelo resto de suas vidas. Porém a união do casal não foi sempre tranquila. Em 1945, após cair de uma escada, Giuletta teve complicações em sua gravidez, resultando num parto prematuro. O menino, batizado de Pierfederico – ou Federichino (Federiquinho) – faleceu com um mês e dois dias de vida. Tragédias como essa serviram de inspiração para A Estrada da Vida (1954), seu primeiro grande sucesso, premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e com o Leão de Prata no Festival de Veneza.
Mas a carreira de Fellini começou muito antes – uma década, para sermos mais exatos. Em 1942 ele conseguiu seus primeiros trabalhos no cinema, escrevendo os roteiros dos filmes Na Frente Há Lugar, de Mario Bonnard, Quarta Página, de Nicola Manzari, e I Cavalieri del Deserto, de Gino Talamo e Osvaldo Valenti. Após ter começado como cartunista, trabalhando em jornais e escrevendo também textos para rádios, em 1945 ficou amigo de Roberto Rossellini, que o chamou para trabalhar como ator em L’Amore (1948), ao lado de Anna Magnani. A experiência, no entanto, foi tão traumática que ele repetiria apenas uma vez, no clássico Nós Que Nos Amávamos Tanto (1974), de Ettore Scola – e interpretando a si próprio.
A carreira como realizador começou mesmo com Mulheres e Luzes (1950), projeto co-dirigido por Alberto Lattuada. Ele tinha apenas trinta anos, e o fraco desempenho do filme só o estimulou a se arriscar ainda mais. Logo em seguida estreou sozinho em Abismo de um Sonho (1952), releitura de uma fotonovela de Michelangelo Antonioni. A primeira parceria com o compositor Nino Rota aconteceria no ano seguinte, em Os Boas Vidas (1953) – e permaneceria por décadas, até a realização do making of de Cidades das Mulheres (1980). A relação artística dos dois era descrita como mágica, empática e irracional.
Após descobrir os livros do psicanalista Carl Jung, passou a explorar esses conceitos em trabalhos como 8 ½ (1963), Julieta dos Espíritos (1965), Satyricon (1969) e Casanova (1976). Poucos títulos de sua filmografia, no entanto, seriam tão marcantes quanto A Doce Vida (1960), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado a quatro Oscars – inclusive à Melhor Roteiro e Direção – e premiado como Melhor Figurino. No entanto, talvez o trabalho que melhor resuma sua obra seja Amarcord (1973) – que em dialeto italiano pode ser traduzido como Eu Me Recordo – longa assumidamente memorialista, premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e indicado ainda nas categorias de Roteiro e Direção.
Apontado como forte influência por cineastas tão diversos quanto Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, Martin Scorsese e Bernardo Bertolucci, Federico Fellini é até hoje o maior nome do cinema italiano. Coincidências e fatos curiosos se seguiram em sua vida até o último instante, contribuindo para aumentar ainda mais a mítica ao redor do seu nome. Sua morte, por exemplo, contribuiria com mais dois exemplos, um positivo e outro negativo: ele viria a falecer exatamente no mesmo dia em que completava cinquenta anos de casado, uma feliz lembrança, porém a data acabou ficando na memória de muitos também por ter levado junto um jovem astro em plena ascensão, o norte-americano River Phoenix. Uma tristeza que só não é maior porque ambos, guardadas as devidas proporções, deixaram seus talentos registrados nas telas e ao alcance de fãs e admiradores de todo o mundo.
Filme imprescindível: Amarcord (1973)
Filme esquecível: A Trapaça (1955), que apesar de ter sido selecionado para o Festival de Veneza, é certamente um dos seus trabalhos “menores”
Maior sucesso de bilheteria: A Doce Vida (1960), a primeira parceria com o grande Marcello Mastroianni
Maior fracasso de bilheteria: Mulheres e Luzes (1950), cujo fracasso levou sua produtora à falência.
Primeiro filme: Na Frente há Lugar (1942), como roteirista, e Mulheres e Luzes (1950), como diretor
Último filme: The King of Ads (1993), documentário coletivo realizado ao lado de cineastas como Martin Scorsese, Jean-Luc Godard, Roman Polanski e David Lynch, entre outros.
Guilty pleasure: Satyricon (1969), um dos seus trabalhos mais radicais, e ainda assim indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro
Filme perdido: Flash Gordon (1980). Ele era a primeira opção do produtor Dino De Laurentiis, que, no entanto, não conseguiu convencê-lo.
Oscar: Recebeu 12 indicações – um recorde entre realizadores estrangeiros que não trabalhavam em Hollywood – nas categorias de Direção e Roteiro, mas só ganhou um troféu honorário, pelo conjunto da carreira, em 1993. No entanto, quatro de seus filmes ganharam o prêmio na categoria de Filme Estrangeiro: A Estrada da Vida (1954), Noites de Cabíria (1957), 8 ½ (1963) e Amarcord (1973).
Frase inesquecível: “Não há fim. Não há começo. Há apenas a infinita paixão pela vida!”
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