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A câmera registra um homem que celebra seu amor cantando e dançando debaixo de um temporal, naquela que figura, tranquilamente, entre as grandes sequências de todos os tempos. O exímio dançarino que protagoniza o momento icônico em Cantando na Chuva (1952), clássico absoluto que retrata a passagem do cinema mudo ao sonoro, é Gene Kelly. A carreira de Eugene “Gene” Curran Kelly, nascido em Pittsburgh no dia 23 de agosto de 1912, é repleta de episódios similares que o credenciam como um dos mais importantes artistas do musical cinematográfico, gênero que hoje em dia anda meio esquecido, mas que já foi uma das vedetes, sobretudo, de Hollywood.

A paixão pela dança surgiu cedo, na infância, durante um curso feito juntamente com seus quatro irmãos. Mais adiante veio a possibilidade de trabalhar na área, enquanto estava na faculdade. À atividade de bailarino de teatro de variedades, seguiu-se uma bem-sucedida carreira na Broadway, não sem antes ver fracassada a primeira tentativa de estabelecer-se em Nova York como coreógrafo. De volta à Big Apple, já com certo renome, Kelly chamou atenção, primeiro em papeis menores, e depois como protagonista na peça Pal Joey, de 1940, êxito que o colocou na mira da indústria. Não demorou, e a meca do cinema norte-americano cresceu os olhos para o talento daquele que  diziam trazer jovialidade, espiritualidade a animação aos musicais. Contudo, a ideia dele era voltar logo em seguida à Broadway, sem grandes expectativas de seguir carreira no cinema. Não foi bem assim.

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Seu primeiro filme, sob contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer, foi Idílio em Dó-Ré-Mi (1942), no qual contracenou com Judy Garland. Além da ótima recepção, Kelly encontrou nos bastidores da MGM uma série de talentos, muitos deles refugiados europeus em virtude da Segunda Guerra Mundial, que o instigaram a ficar. A efervescência artística na Hollywood da época se mostrava para o rapaz de Pittsburgh como combustível para seu desenvolvimento. Em 1943, Gene Kelly dançou sua própria coreografia em A Filha do Comandante. Dois anos depois, o estúdio lhe deu carta branca para os números musicais de Marujos do Amor, de Charles Vidor. O filme, que tinha no elenco Frank Sinatra e Kathryn Grayson, foi um dos maiores sucessos do ano e rendeu a Kelly sua única indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Ator. De ilustre desconhecido, rapidamente passou a um dos nomes proeminentes do cinema norte-americano.

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Sinfonia de Paris (1951) lhe trouxe o Oscar honorário por sua “versatilidade como ator, cantor, diretor, e dançarino, e especialmente por sua brilhante contribuição à arte da coreografia no cinema”, palavras da própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. No ano seguinte, seu maior filme, pelo qual sempre será lembrado: Cantando na Chuva. Além de dividir a direção com Stanley Donen, Gene Kelly é o protagonista e o coreógrafo, portanto talvez o maior responsável por seu êxito incontestável. A famosa cena do guarda-chuva, segundo ele, foi inspirada no modo espontâneo com que as crianças brincam sob a chuva.

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Nessa altura, Gene Kelly tinha a liberdade da qual só os grandes astros desfrutavam, ou seja, poderia fazer o que quisesse. Decidiu, então, passar 18 meses na Europa, período em que concebeu Convite à Dança. Sua relação com o Velho Continente não parou por aí. Entre os trabalhos mais destacáveis por lá, está a participação em Duas Garotas Românticas (1967), musical dirigido por Jacques Demy e estrelado por Catherine Deneuve e Françoise Dorléac. Mais tarde, já nos anos 1980, foi diminuindo o ritmo de trabalho. Sua última aparição no cinema foi em Xanadu (1980), com Olivia Newton-John. Na televisão, representou alguns papeis secundários e, eventualmente, fez participações como ele mesmo.

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Entre 1994 e 1995, Gene Kelly teve alguns derrames que acabaram o debilitando irreversivelmente. Em decorrência de mais um AVC, faleceu em 2 de fevereiro de 1996, aos 83 anos, deixando como legado oito peças teatrais e 59 filmes, fora os trabalhos televisivos. Ao lado de Fred Astaire e Bob Fosse, entre outros, Gene Kelly elevou o gênero musical à grande arte no cinema, e por isso será sempre lembrado como um de seus nomes mais importantes.

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Filmes imprescindíveis: Cantando na Chuva (1952) e Sinfonia de Paris (1951)

Filme esquecível: Xanadu (1980)

Maior sucesso de bilheteria: Xanadu (1980) – isso sem levar em consideração valores reajustados.

Primeiro filme: Idílio em Dó-Ré-Mi (1942)

Último filme: Xanadu (1980)

Guilty pleasure: Todos a Paris (1957)

Filmes perdidos: Gene Kelly iria repetir a parceria com Judy Garland em Desfile de Páscoa (1948), mas quebrou a perna e foi substituído por Fred Astaire.

Oscar: Recebeu em 1952 um Oscar honorário por sua contribuição à arte da coreografia no cinema, além de ter sido indicado a Melhor Ator por Marujos do Amor (1945)

Frase inesquecível: “Você dança amor, e você dança a alegria, e você dança sonhos. E eu sei que se eu posso fazer você sorrir por saltar sobre um par de sofás ou correndo por uma tempestade, então eu vou ser muito feliz por ser um homem de música e dança”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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