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Se o conceito de diva do cinema hoje parece perdido entre vários nomes e estilos, dos mais interessantes aos que beiram o supérfluo, Greta Garbo foi uma das precursoras à altura da alcunha. Palavra derivada do latim divus, tem como significado original deusa. No caso da estrela dos anos de 1920 e 1930 de Hollywood, uma das mais belas e enigmáticas da história do cinema. O que até seria difícil de acreditar se lembrarmos de sua origem humilde. Sueca nascida no dia 18 de setembro de 1905, Greta Lovisa Gustafson tinha 14 anos quando seu pai morreu e a garota teve que trabalhar em uma barbearia para ajudar a família composta pela mãe e seus três irmãos. De bico em bico, foi notada quando virou vendedora, sendo convidada para ser modelo fotográfica.

A partir daí, sua carreira começou a deslanchar. Participou de um curta-metragem, foi figurante em um longa e ainda atuou em dois filmes publicitários. Isto até chegar sua grande oportunidade em 1922, quando teve uma boa participação no filme Pedro, O Vagabundo, de Erik A. Petschler. Foi o que precisava para ter o talento dramático reconhecido e notado pelo finlandês Mauritz Stiller, um diretor finlandês radicado na Suécia, que a dirigiu em A Saga de Gosta Berling (1924). Foi ele também quem mudou seu nome para Greta Garbo. O filme foi tão bem quisto que logo a atriz foi chamada para filmar na Alemanha seu último filme europeu, A Rua das Lágrimas (1925), dirigido pelo expressionista Wilhelm Pabst. Louis B. Mayer, chefão da MGM na época, se impressionou tanto que contratou Stiller e Garbo.

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A estreia em Hollywood se deu um ano depois com Laranjais em Flor (1926), onde a intérprete já foi lançada como protagonista, impressionando público e crítica. Porém, seu grande salto foi em 1927 com A Carne e o Diabo, onde ao lado do futuro caso John Gilbert, a atriz seria alçada ao estrelato. Seu salário subiu de seiscentos para cinco mil dólares por semana. Além de tudo, seu romance viraria notícia pelas idas e vindas com Gilbert, que até lhe propôs casamento para ser abandonado pouco antes de subir ao altar.

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Neste meio tempo, protagonizou a versão muda de Anna Karenina (1927), papel que reprisaria quase dez anos depois. Seu último longa antes do advento do cinema sonoro foi O Beijo (1929). A seguir, com várias carreiras em declínio por conta desta transição, muitos se perguntaram o que aconteceria a Garbo. Pois Anna Christie (1930), seu primeiro longa falado, foi um sucesso de público e crítica que garantiu sua primeira nomeação ao Oscar de Melhor Atriz, que foi dupla: ela também foi lembrada por Romance.

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Já consolidada como grande diva da década, Garbo assumiu o disfarce da espiã Mata Hari (1932), um de seus papeis mais queridos pelos fãs. Ainda assim, um de seus maiores sucessos foi o Grande Hotel (1932). Nesta produção ela profere a famosa frase “I want to be alone (eu quero ficar sozinha)“, que marcaria o resto de sua vida. Foi o primeiro filme “all-star” da história, com várias estrelas em diferentes histórias, uma jogada arriscada da MGM, que não só foi uma grande bilheteria como conquistou o Oscar de Melhor Filme.

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Em 1933, vestiu os trajes da Rainha Christina, sendo muito elogiada, e voltaria a viver Anna Karenina no filme homônimo de 1935. A interpretação lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz da Associação de Críticos de Cinema de Nova Iorque. No ano seguinte, conseguiria aquele que é considerado o seu maior papel no cinema. A adaptação do romance de Alexandre Dumas, A Dama Das Camélias (1936) foi o maior sucesso de sua carreira. Voltou a ganhar o prêmio de NY e foi indicada novamente ao Oscar.

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Em 1939, voltaria à cerimônia da Academia pela quarta vez (sem vencer novamente) por sua primeira comédia, Ninotchka. A produção dirigida por Ernst Lubitsch inclusive foi anunciada como “Garbo RI!”, devido à sua intensa entrega em papeis dramáticos ao longo dos anos. Após este papel insólito, a estrela apareceria nas telas pela última vez, aos 36 anos, em Duas Vezes Meu (1941), sob a direção de George Cukor. O filme não foi bem recebido e muitos atribuíram por anos seu afastamento das telas por conta do fracasso comercial, assim como sua promessa de voltar aos cinemas após a Segunda Guerra Mundial. Algo que nunca se concretizou pois Garbo, realmente, só queria ficar sozinha. E foi assim que ficou nas décadas seguintes: reclusa em Nova Iorque. Não gostava de dar entrevistas, muito menos autógrafos. Saber de sua vida pessoal era um mistério, ainda que não escondesse sua bissexualidade e os tórridos romances nos bastidores com homens e mulheres. Nem seu Oscar honorário pelo conjunto da obra em 1954 a fez sair de casa.

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Garbo se manteve isolada até sua morte no dia 15 de abril de 1990. Curiosamente, no mesmo ano seria citada por outra diva, desta vez da música pop. No já clássico hit Vogue, de Madonna, ela é a primeira personalidade famosa citada na letra da música. Mesmo que seja pela sonoridade da canção ou por favoritismo, fato é que seu nome ecoa junto com a música, assim como sua carreira, ainda que meteórica, causando comoção até hoje. Nunca houve uma estrela tão brilhante e tão misteriosa quanto Greta Garbo. Sua beleza atemporal é referência até hoje, assim como seu talento. Alcançá-la é uma tarefa árdua para qualquer atriz que queira se juntar ao panteão da história do cinema.

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Filme imprescindível: A Dama das Camélias (1936), considerado seu grande papel.

Último filme (e também esquecível): Duas Vezes Meu (1941), um fracasso de público e crítica que, por pouco, não arranhou a carreira da atriz, mesmo ela tendo se desligado do cinema após.

Primeiro filme: Pedro, O Vagabundo (1921), ainda assinando como Greta Gustafsson.

Guilty pleasure: Mata Hari (1932). Greta Garbo em um filme de espionagem como agente dupla. Precisa mais?

Oscar: Foi indicada quatro vezes a Melhor Atriz por Anna Christie (1930), Romance (1930), A Dama das Camélias (1936) e Ninotchka (1939), mas só levou o prêmio pelo Conjunto da Obra em 1954. Aliás, não foi recebê-lo.

Filme perdido: Garbo recebeu inúmeros convites para voltar às telas, mas o que mais lhe interessou foi A Duquesa de Langeais, de 1949, baseado no romance homônimo de Honoré de Balzac e que teria como diretor Walter Wanger. Mas os altos custos de produção e um possível colapso nervoso da atriz impediram que o longa sequer fosse produzido.

Frase inesquecível: I want to be alone/Eu quero ficar sozinha. Fala de Grande Hotel (1932) que eternizaria sua vida longe dos holofotes por quase cinquenta anos até sua morte.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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