Categorias: ArtigosIn Memoriam

In Memoriam :: Henry Fonda (1905-1982)

Publicado por
Rodrigo de Oliveira

Dependendo de qual geração você pertence, pode ter conhecido Henry Fonda de formas diferentes. Para alguns, mais jovens, ele pode ser lembrado como o avô da sumida Bridget Fonda. Para outros, o pai dos premiados Jane e Peter Fonda. Mas muito mais do que o patriarca de uma prole de dedicados talentos, Henry Fonda foi um astro. Um dos mais respeitados em Hollywood, figura que trabalhou com os maiores diretores do cinema – Fritz Lang, John Ford, Alfred Hitchcock, Sidney Lumet – e contracenou com tantos outros gigantescos nomes da sua época – James Stewart, John Wayne, Bette Davis, Audrey Hepburn, entre tantos outros.

Henry Jaynes Fonda nasceu em Grand Island, Nebraska, Estados Unidos, em 12 de março de 1905. Seria conhecido como um dos maiores atores de sua geração, mas o gosto pelo ofício não apareceu cedo. Seu primeiro desejo era tornar-se jornalista. Chegou a entrar na Universidade de Minnesota, mas não concluiu o curso. Seu caminho seria as artes cênicas. Uma de suas primeiras oportunidades nos palcos, com vinte anos de idade, foi num teatro comunitário em Omaha, indicado por uma das amigas de sua mãe, Dodie Brando – que tinha acabado de dar a luz a um bebê chamado Marlon (sim, aquele). Fonda foi se interessando cada vez mais pelos palcos, conquistando papéis em peças maiores. Não demorou muito para que ele fosse a Nova York tentar a sorte por lá, conseguindo papéis na Broadway. Outro que seguiu seu exemplo foi James Stewart, que chegou a dividir quarto com Fonda durante a estada de ambos na Big Apple. A amizade entre os dois astros duraria a vida toda e renderia futuros filmes como No Nosso Alegre Caminho (1948), O Último Tiro (1968) e Cheyenne (1970).

Depois de muitos personagens defendidos nos palcos, finalmente surgia a oportunidade de Henry Fonda brilhar na telona. E diferente de muitos atores que começam em pequenos papéis, ele iniciou como protagonista de um longa-metragem dirigido por Victor Fleming, Amor Singelo (1934), dividindo a tela com a oscarizada Janet Gaynor (a primeira atriz a vencer o prêmio da Academia, em 1929). A escolha de Fonda para o papel não foi por acaso. Ele havia defendido o personagem na Broadway e sua interpretação chamou tanto a atenção que lhe rendeu o convite para a adaptação cinematográfica.

Na década de 1930, outros importantes papéis seguiram, firmando Henry Fonda como um dos mais talentosos jovens atores em Hollywood. Filmes como Vivendo na Lua (1936), no qual dividia a tela com a ex-mulher Margaret Sullavan, Vive-se uma só Vez (1937), dirigido por Fritz Lang, Cinzas do Passado (1937), em que contracenava com Bette Davis, e Jezebel (1938), com direção de William Wyler e novamente atuando ao lado de Davis, pavimentaram o caminho de Fonda para um encontro profissional que mudaria sua carreira: a parceria com o diretor John Ford, duradoura e responsável por um punhado dos melhores papéis do ator.

O primeiro trabalho desta parceria aconteceu em 1939, em A Mocidade de Lincoln, no qual o ator interpretava o presidente do título em performance muito elogiada. No mesmo ano, a primeira incursão de Fonda ao western, em Ao Rufar dos Tambores. Dois ótimos filmes, indicados pela Academia em categorias como Roteiro, Atriz e Fotografia. Mas nada de Henry Fonda ser lembrado. A primeira indicação do ator estaria próxima, no entanto, no incontestável melhor filme da dupla: As Vinhas da Ira (1940), baseado na obra de John Steinback. Vencedor de dois Oscar (Melhor Diretor e Atriz Coadjuvante, para Jane Darwell) e indicado a mais cinco (incluindo Melhor Filme e Ator), o longa-metragem era a prova real de que o talento de Fonda no cinema começava a ser reconhecido. Mal sabia ele que demorariam mais quarenta anos para vencer sua primeira e única estatueta dourada da Academia.

Assim como seu amigo James Stewart, Fonda se alistou para lutar a Segunda Grande Guerra e voltou condecorado do campo de batalha. Seu retorno ao cinema se deu com mais uma parceria com John Ford: Paixão dos Fortes (1946), no qual interpretava o mítico Wyatt Earp. Os bem sucedidos trabalhos ao lado do diretor continuaram em O Fugitivo (1947) e Forte Apache (1948), este último com uma bela dobradinha com o cowboy John Wayne. E a parceria teria tudo para continuar não fosse um terrível desentendimento durante as filmagens de Mister Roberts (1955). Henry Fonda havia deixado de lado o cinema e se empenhado em papéis na Broadway. Dentre estes, foi premiado com um Tony em 1948 por sua performance na peça Mister Roberts. John Ford quis transportá-la para o cinema e só faria caso Fonda fosse contratado pelo estúdio (que relutava por entender que um astro mais jovem seria a escolha mais acertada). Depois de brigar e vencer o braço de ferro com os executivos, Ford encontrou um Henry Fonda desestimulado com o roteiro que havia recebido. Uma conversa acalorada entre ator e diretor (que estava sob influência do álcool no momento) acabou em um soco desferido por Ford no astro. Pedidos de desculpas foram feitos, mas a relação azedou. O cineasta nem chegou a terminar o filme, por causa dos seus problemas com a bebida, e Fonda prometeu nunca mais trabalhar com seu antigo mentor.

Outros grandes diretores viriam, é verdade. King Vidor em Guerra e Paz (1956); Alfred Hitchcock em O Homem Errado (1956); e, claro, Sidney Lumet em 12 Homens e uma Sentença (1957), uma das melhores performances de Henry Fonda no cinema – e sua primeira e única tentativa como produtor. Nos anos 1960, estrelaria outras boas produções como O Mais Longo dos Dias (1962), A Conquista do Oeste (1962), no seguimento dirigido por Henry Hathaway, e Era uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone.

Os bons papéis começaram a rarear na década de 1970, com Henry Fonda passando a apelar para produções televisivas e filmes-catástrofe. Seu reencontro com um papel importante foi ao lado da filha, Jane Fonda, e Katharine Hepburn em Num Lago Dourado (1981), filme que lhe valeria sua única estatueta do Oscar como Melhor Ator. Já doente, não pode receber o prêmio pessoalmente, sendo representado pela filha. Curiosamente, ainda que tivesse uma prole talentosíssima, Fonda não era conhecido por ser um pai amoroso. Peter e Jane herdaram o talento, mas não tiveram muito apoio do pai para seguir a carreira em Hollywood. Quis o destino que o único prêmio do velho Fonda fosse num papel em que a filha fez questão (e muito lobby) para que ele pudesse trabalhar. A história do filme – baseada em peça escrita por Ernest Thompson – tinha pontos que remetiam à história dos dois.

Em 12 de agosto de 1982, poucos meses depois de ter vencido o Oscar, Henry Fonda faleceu, aos 77 anos, vitima de doença no coração.

Filme imprescindível: As Vinhas da Ira (1940), sua primeira indicação ao Oscar
Filme esquecível: Tentáculos (1977), co-produção Itália/EUA, primeiro filme-catástrofe de Henry Fonda
Maior sucesso de bilheteria: Num Lago Dourado (1981), arrecadando US$ 120 milhões em uma produção de orçamento modesto
Primeiro filme: Amor Singelo (1934), já vivendo o protagonista da história
Último filme: Nos cinemas, Num Lago Dourado (1981). Ainda estrelaria para a tevê a produção Summer Solstice, naquele mesmo ano.
Guilty pleasure: Cidade em Chamas (1979), mais um filme-catástrofe, desta vez estrelado ao lado de Leslie Nielsen, Shelley Winter e Ava Gardner
Papel perdido: Quem tem Medo de Virginia Woolf? Mas no teatro, não no cinema. Ficou furioso ao saber que seu agente havia passado a oportunidade sem consultá-lo.
Oscar: Indicado em As Vinhas da Ira (1940) e vencedor em Num Lago Dourado (1981). É até hoje o recordista de maior intervalo entre indicações na Academia: 41 anos.
Frase inesquecível: “Eu só quero conversar”, Jurado #8, em 12 Homens e uma Sentença (1957), tentando fazer com que o júri debata a respeito do caso que acabaram de ouvir.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)