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Indiscutivelmente, uma das maiores atrizes de todos os tempos. Assim o nome de Ingrid Bergman ficou eternizado em Hollywood e no cinema de todo o mundo. Nascida no dia 29 de agosto de 1915 na capital da Suécia, Estocolmo, veio a falecer apenas 67 anos depois, nesta exata data do ano de 1982, vítima de um linfoma consequente de um câncer de mama. E se esta passagem pode ter sido rápida, foi ao menos suficiente para lhe garantir três Oscars, quatro Globos de Ouro, dois Emmys, um Bafta, um César, três David di Donatello, dois National Board of Review, um prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e um Leão de Ouro no Festival de Veneza, além de uma estrela na calçada da fama,em Los Angeles. Reconhecimentos que de nada significariam se não fosse a grande adoração recebida por fãs e admiradores e o respeito e apreço que desfrutava junto a alguns dos maiores diretores da época, como Alfred Hitchcock, Roberto Rosselini, Victor Fleming, Vincent Minnelli, Michael Curtiz, Jean Renoir, Sidney Lumet e Ingmar Bergman, entre tantos outros.

Após perder a mãe com apenas dois anos de idade e o pai aos doze, Ingrid foi morar com um tio, que logo percebeu o forte talento artístico da garota. Antes mesmo de terminar sua educação formal ela já declarava ter como sonho seguir na carreira artística, e assim foi feito. Com apenas 17 anos participava de seu primeiro filme, e no ano seguinte já fazia parte do Teatro Real Sueco. Insatisfeita com os palcos, seguiu determinada em busca de oportunidades no cinema. Personagens sem maiores destaques se seguiram, até participar de Intermezzo (1936), filme que foi assistido por ninguém menos que o poderoso produtor David O. Selznick. Decidido a refilmar a mesma história nos Estados Unidos, a trouxe junto para América para reprisar sua participação em Intermezzo: Uma História de Amor (1939), longa que se tornou um grande sucesso e lhe tornou conhecida pela primeira vez em todo o mundo. Mas sua jornada estava só começando.

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Outros filmes se seguiram, inclusive uma versão do clássico O Médico e o Monstro (1941), ao lado de Spencer Tracy e Lana Turner. Porém Selznick tinha algo ainda mais ambicioso para ela em mente: Casablanca (1942), projeto feito aos trancos e barrancos e que se tornaria um dos maiores sucessos da história. O roteiro era refeito diariamente, o trabalho com o co-star Humphrey Bogart não foi dos mais fáceis, e ela declarou em mais de uma ocasião simplesmente não ter entendido sua personagem, a espiã Ilsa Lund. O filme, no entanto, acabou ganhando três Oscars – Melhor Filme, Direção e Roteiro – e os dois protagonistas ficaram marcados para sempre como um dos casais mais românticos da sétima arte. Ela, apesar de não ter sido indicada por este papel, no mesmo ano estreou na maior festa do cinema com outro personagem: Maria, de Por Quem os Sinos Dobram (1943), drama baseado no romance de Ernest Hemingway, que se tornou um dos seus grandes amigos – ela o chamava carinhosamente de “Papa” – e estrelado por Gary Cooper, um dos seus parceiros preferidos.

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A primeira estatueta dourada viria somente no ano seguinte: À Meia Luz (1944), drama teatral de George Cukor, em que aparecia ao lado de Charles Boyer e Joseph Cotten. Ainda nesta década, foi indicada por Os Sinos de Santa Maria (1945), de Leo McCarey, e Joana D’Arc (1948), de Victor Fleming, consagrando-se como um dos maiores nomes de Hollywood. Colaborou para atingir este status também as três parcerias com Alfred Hitchcock: Quando Fala o Coração (1945), com Gregory Peck, Interlúdio (1946), com Cary Grant, e o menos visto Sob o Signo de Capricórnio (1949). Seu nome nunca esteve tão em alta, desfrutava de uma popularidade absoluta, estava casada com o Dr. Petter Lindström e tinha uma bela filha, Pia Lindström. E tudo ia muito bem até aceitar o convite de voltar para a Europa para filmar Stromboli (1950), sob o comando do diretor italiano Roberto Rosselini.

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A atração entre os dois foi imediata e bombástica. O romance começou durante as filmagens, e tanto um quanto o outro decidiu abandonar suas famílias originais para ficarem juntos. A notícia caiu como uma bomba junto às audiências nos dois lados do Atlântico. Bergman foi taxada de mulher infiel, de mau exemplo para suas espectadoras e todos os filmes que estrelou nos anos seguintes – invariavelmente dirigidos por Rosselini – foram mal recebidos pelo público e pela crítica. O reconhecimento ao seu talento parecia ter ficado restrito ao continente europeu, como o prêmio recebido no Festival de Veneza por Europa ’51 (1952). Cansada deste ostracismo geográfico, decide voltar para os Estados Unidos para viver o papel principal de Anastácia: A Princesa Esquecida (1956) – que, curiosamente, foi filmado na Inglaterra. A recepção foi incrível, lhe valendo seu segundo Oscar como protagonista. Como consequência, o casamento com Rosselini chegou ao fim, não sem antes ter lhe dado o menino Roberto e as gêmeas Isotta e Isabella Rossellini.

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Ingrid Bergman voltaria a se casar em 1958 com o produtor sueco Lars Schmidt, e os dois ficariam juntos por vinte anos – apesar de terem permanecido amigos pelo resto da vida. Durante esse período, seu nome no elenco de qualquer produção era invariavelmente sinônimo de qualidade. Mostrou versatilidade ao ser indicada ao Globo de Ouro como Melhor Atriz em Comédia por Indiscreta (1958), ao lado de Cary Grant, e por Flor de Cacto (1969), com Walter Matthau. Por uma participação de pouco mais de cinco minutos no thriller Assassinato no Expresso Oriente (1974) – baseado em um livro de Agatha Christie – ganhou seu terceiro Oscar, dessa vez como coadjuvante, num resultado que surpreendeu até a ela própria – durante o discurso de agradecimento, pediu desculpas a sua colega concorrente Valentina Cortese, de A Noite Americana (1973), que é quem acreditava que merecia ter ganho.

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Sua única reunião nas telas com o compatriota Ingmar Bergman – nenhuma relação de parentesco havia entre os dois, entretanto – marcou também seu adeus cinematográfico: o espetacular Sonata de Outono (1978) foi seu último filme, e além de ter lhe rendido indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, lhe valeu prêmios da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA, do National Board of Review e dos críticos de Nova York. Foi durante as filmagens desse trabalho que tomou conhecimento de um câncer nos seios, exigindo-lhe uma severa – e ingrata – luta contra a doença. O avanço foi tão repentino que nem teve condições de ir à festa do Oscar no ano seguinte. Mesmo assim, realizou mais um trabalho, o telefilme Golda (1982) – pelo qual foi premiada postumamente no Emmy e no Globo de Ouro. Naquele mesmo ano Ingrid Bergman nos deixava para sempre, saindo da vida e entrando para a história como poucos antes.

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Filme imprescindível: Casablanca (1942), um dos maiores clássicos de Hollywood

Filme esquecível: Sob o Signo de Capricórnio (1949), longa dirigido por Alfred Hitchcock que o próprio cineasta se arrependia de ter feito. Felizmente os dois – Hitchcock e Bergman – haviam trabalhado juntos antes em dois clássicos, Quando Fala o Coração (1945) e Interlúdio (1946)

Filme favorito de sua filmografia: Por Quem Os Sinos Dobram (1943), baseado no clássico de Ernest Hemingway, pelo qual ela chegou a declarar que “para conseguir esse papel, cortaria até a cabeça fora se fosse necessário” – e pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar

Maior sucesso de bilheteria: Casablanca, que a transformou no nome mais popular junto ao público americano no ano de 1942

Maior fracasso de bilheteria: Stromboli (1950) e os cinco filmes seguintes, todos feitos entre 1950 e 1954 e dirigidos por Roberto Rosselini, que foram mal recebidos pelo público devido ao escândalo do romance entre a atriz e o cineasta

Primeiro filme: Landskamp (1932), uma participação não-creditada como uma garota esperando na linha do trem

Último filme: Golda (1982), cinebiografia da primeira-ministra israelense, feito para a televisão, em que interpretou a protagonista e pelo qual ganhou o Emmy

Guilty Pleasure: Assassinato no Expresso Oriente, pelo qual recebeu seu terceiro Oscar, dessa vez como coadjuvante. O filme é uma das adaptações de maior sucesso de um romance de Agatha Christie, e reproduz com fidelidade o clima de mistério e suspense dos livros da autora. Bergman aparece muito pouco tempo em cena, mas o elenco é tão impressionante – há ainda Albert Finney, Lauren Bacall, Jacqueline Bisset, Sean Connery, Vanessa Redgrave, John Gielgud e Anthony Perkins, entre tantos outros – que é quase impossível não se deliciar com esse divertida brincadeira!

Papéis perdidos: Recusou estrelar ao lado de Charlton Heston o clássico de ficção-científica O Planeta dos Macacos (1968), um papel que acabou com Kim Hunter. Recusou também o papel de Terry McKay, imortalizado por Deborah Kerr, no romântico Tarde Demais Para Esquecer (1957). Outras recusas históricas foram as de Ambiciosa (1947), que deu o Oscar para Loretta Young, e A Cova da Serpente (1948), pelo qual Olivia de Havilland foi indicada como Melhor Atriz.

Oscar: Foi indicada sete vezes, e ganhou em três ocasiões – Melhor Atriz por À Meia Luz (1944) e por Anastasia (1956) e Melhor Atriz Coadjuvante por Assassinato no Expresso Oriente (1974). É uma das recordistas da premiação: apenas Meryl Streep tem tantos Oscars quanto ela, e somente Katharine Hepburn ganhou mais do que as duas, tendo vencido em quatro ocasiões

Frase inesquecível:Play it once, Sam. For old times’ sake. (…) Play it, Sam. Play ‘As Time Goes By’”. Esta, afinal é a frase original dita em Casablanca pela personagem Ilsa (Bergman). A versão eternizada pela cultura pop, “play it again, Sam”, não chega a ser dita em nenhum momento durante todo o filme!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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