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In Memoriam :: James Dean (1931-1955)

Publicado por
Marcelo Müller

Diferentemente de astros longevos, que acompanharam os humores de uma indústria volátil como a do cinema norte-americano, que experimentaram diversas levas de criadores e abordagens distintas, James Dean brilhou num período bem curto. Sua morte precoce, aos 24 anos, no auge da beleza e da fama, abreviou uma carreira que poderia ter sido ainda mais recheada de papeis inesquecíveis. Conjecturas à parte, a despeito do pouco tempo em que respirou no firmamento hollywoodiano, Dean marcou intensamente o imaginário dos fãs do cinema, tendo seu ímpeto juvenil eternizado em película. Nasceu James Byron Dean – seu nome não era homenagem ao poeta inglês Lord Byron, diferentemente da crença popular –, no seio de uma família de fazendeiros metodistas de Marion, Indiana, nos Estados Unidos. Aos oito anos, já tocava violino e fazia aulas de sapateado, demonstrando talento nato para as artes. Quando tinha nove anos, perdeu a mãe, por conta de um câncer agressivo, e foi morar com os tios, numa fazenda em Fairmount. Era considerada uma criança introspectiva.

Na companhia desses tios que, portanto, foram imprescindíveis à sua criação, aprendeu a ordenhar vacas e dirigir tratores, integrando-se totalmente à vida campesina. Aos 14 anos, começou a participar de atividades teatrais na Fairmount Hight School e aos 17 ganhou sua primeira motocicleta, descobrindo o amor pela velocidade. Em 1949, após a formatura, mudou-se para a Califórnia para estudar artes dramáticas, passando a morar com o pai e a madrasta. Matriculou-se na Santa Monica College, mas, no ano seguinte, inquieto e sedento por novidades, largou tudo e transferiu-se para Los Angeles, ingressando na prestigiada Universidade da Califórnia (UCLA), mais especificamente no curso de especialização em teatro. Segundo consta, atou em adaptações de William Shakespeare, com destaque para uma montagem de Macbeth. Infeliz, largou o curso para ir à Nova York, cidade em que integrou a trupe do Actor’s Studio, de Lee Strasbery. Para se sustentar na Big Apple, trabalhou como garçom e cobrador de ônibus. Nessa época, conheceu Jane Deacy, que se tornou sua agente.

A primeira aparição de James Dean na televisão foi num comercial da Pepsi, em 1950. Especula-se que ele tenha recebido em torno de 10 dólares pelo trabalho. Já em 1951, fez sua estreia nas telas grandes, no filme Baionetas Caladas, numa participação não creditada, assim como em outros longas, tais como O Marujo Foi na Onda (1951) e Sinfonia Prateada (1952). Nessa mesma época, recorria a pequenas aparições em programas televisivos para tornar-se conhecido no meio. Levando em consideração que sua trajetória artística foi abreviada pela tragédia, os cerca de 30 créditos a ele atribuídos são um número considerável, embora a maioria se refira a pontas. Em 1953, estreou na Broadway, na peça de Richard Wash, See the Jaguar, um verdadeiro fracasso, mas que serviu para a crítica descobrir o jovem promissor que, sem demora, seria alçado ao panteão dos mitos. Logo depois, Dean viveu um personagem homossexual na peça O Imoralista, baseada na obra de André Gide. O reconhecimento foi ainda maior. Por esse papel, venceu o um prêmio de Melhor Estreante do Ano, definitivamente ficando no radar de produtores, encenadores e diretores de cinema.

Nesse período, James Dean tentava imitar os maneirismos de Marlon Brando, ator que já era considerado um dos grandes de Hollywood. Aliás, muito se especula sobre um possível caso amoroso entre eles. O livro James Dean: Tomorrow Never Come, escrito por Darwin Porter e Danforth Prince – dois veteranos jornalistas da cobertura das celebridades –, afirma que Dean foi uma espécie de escravo sexual de Brando e que também teve relações sexuais com Walt Disney e Paul Newman. Hipóteses à parte, em 1954 Dean teve seu primeiro grande papel no cinema. Ele interpretou um jovem solitário e amargurado que disputa a atenção paterna com o irmão mais velho em Vidas Amargas, de Elia Kazan. Ironicamente, no seu contrato havia uma cláusula em que ele se comprometia a não dirigir carros de corrida durante as filmagens. Nesse mesmo ano, conheceu a atriz Pier Angeli, de O Cálice Sagrado, que alguns biógrafos consideram o amor de sua vida. A mãe da atriz, no entanto, foi contra o relacionamento pelo fato de Dean não ser católico. Ele não lidou bem com o rompimento, chegando a fazer “uma cena” em frente à igreja em que Pier e o cantor Vic Damone se casaram bem em seguida.

James Dean não escondia seu fascínio por carros e motos, mais especificamente por trafegar em alta velocidade. No embalo do sucesso que Vidas Amargas lhe proporcionou, foi escalado pelo cineasta Nicholas Ray para viver o protagonista de Juventude Transviada (1955), se tornando imediatamente o porta-voz da mocidade rebelada contra o conservadorismo de uma sociedade tacanha como a norte-americana. O filme foi lançado praticamente um mês após sua morte. A soma da tragédia real com a poderosa interpretação do jovem de jaqueta vermelha que não encontra facilmente um lugar no mundo, isso enquanto cresce e aprende as regras da vida adulta, tornou-lhe um ícone instantâneo, praticamente sem igual em Hollywood. James Dean levava uma vida social agitada, bebia e fumava bastante. No dia 30 de setembro de 1955, no intervalo das filmagens de Assim Caminha a Humanidade, de George Stevens, envolveu-se num acidente, a bordo de seu Porsche Spyder, que lhe vitimou fatalmente aos 24 anos. O motorista do outro carro, o estudante de 23 anos Donald Turnupseed, teve poucos ferimentos. O passageiro de Dean, Rolf Wütherich, ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. O episódio criou uma lenda.

No dia em que James Dean morreu, Vidas Amargas, seu primeiro filme de destaque, estava ainda cartaz. Pelo papel, foi nominado ao Oscar de Melhor Ator – primeira vez em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas indicou alguém postumamente. À tragédia, sobreveio a definitiva consagração, primeiro, com Juventude Transviada, e, segundo, com Assim Caminha a Humanidade, pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. O que se viu na sequência foi uma verdadeira histeria em torno do mito James Dean. Sua casa foi invadida por fãs em busca de memorabilia; seu túmulo foi vandalizado por admiradores querendo lembranças; seu busto foi roubado, bem como restos do Porsche em que morrera. Durante muito tempo, seu jazigo teve de ser cercado por seguranças. Considerado, além de muito talentoso, um verdadeiro símbolo sexual – atualmente está na posição 42 na lista dos atores mais sexys da história do cinema, da Revista Empire –, é uma figura trágica, que viveu intensamente, brilhando de maneira ímpar antes de morrer fazendo uma das coisas que mais gostava além de atuar.

 

FILME IMPRESCINDÍVEL: Juventude Transviada (1955), pelo qual se tornou um verdadeiro símbolo da rebeldia juvenil.

PRIMEIRO FILME: O Marujo Foi na Onda (1951), participação não creditada.

ÚLTIMO FILME: Assim Caminha a Humanidade (1955), interpretando um jovem ambicioso, contracenando com Rock Hudson e Elizabeth Taylor. Sua morte se deu em meio às filmagens.

OSCAR: Indicado ao Oscar de Melhor Ator por Vidas Amargas, em 1956, e por Assim Caminha a Humanidade, em 1957. É o único artista da História a ter duas indicações póstumas ao Oscar.

MÚSICA: É o tema das músicas James Dean, do Eagles, e Mr. James Dean, de Hilary Duff . É mencionado nas letras de muitas outras canções, incluindo Rock On, de David Essex, Electrolite, do REM, Jack and Diane, de John Mellencamp, Vogue, de Madonna, We Didn’t Start the Fire, de Billy Joel, Forever, de Skid Row, American Pie, de Don McLean, Speechless, de Lady Gaga, Walk on the Wild Side, de Lou Reed, Rather Die Young, de Lana Del Rey, Estilo, de Taylor Swift e Ghost Town, de Adam Lambert.

CURIOSIDADES: Seu livro favorito era O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry; perdeu os dois dentes da frente num acidente de moto em sua juventude; era terrivelmente míope e usava óculos grossos quando não estava na tela.

FRASE INESQUECÍVEL: “Viver o mais intensamente, arriscar sempre. Se tivesse 100 anos para viver, eu ainda não teria tempo para fazer tudo o que quero fazer.”

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.