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Até o fim da vida, Joan Crawford disse que nasceu em 1908, embora a data mais aceita, no geral, seja 23 de março de 1905. Coisas de uma atriz cuja vaidade era proporcional ao talento que fez dela uma das grandes de Hollywood. Aliás, Lucille Fay LeSueur (seu nome de batismo) possui uma trajetória repleta de histórias contestáveis, o que ajuda a manter certa aura misteriosa em torno de sua imagem. Filha de pais separados antes mesmo de seu nascimento, Crawford começou a carreira artística como dançarina. Com 18 anos, venceu um concurso que lhe proporcionou excursionar por Chicago, Detroit e Nova York. Já inebriada pela reputação que havia alcançado nos circuitos de entretenimento, partiu para Los Angeles dois anos depois, apostando no cinema como catapulta para um estrelato ainda maior.

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Estreou nas telonas no ocaso do período mudo, dois anos antes que O Cantor de Jazz trouxesse consigo a revolução do sonoro, interpretando uma corista em A Mosca Negra (1925). Os produtores não acharam que Lucille Fay LeSueur era um bom nome para a então promessa, e promoveram, via revista Movie Weekly, um concurso que escolheu a alcunha pela qual ela ficou mundialmente conhecida. Seguiram-se ao primeiro, três longas em que basicamente fez participações especiais, sem qualquer destaque. Apenas em 1928 conseguiu seu primeiro papel de protagonista, em Garotas Modernas, interpretando uma jovem em disputa amorosa com sua melhor amiga. Crawford começava ali a construir seu sucesso.

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Ao contrário de outras atrizes que tiveram as carreiras aniquiladas com a chegada do som, Crawford não enfrentou muitos problemas para ser aceita pelo público que agora podia ouvir. Seu primeiro filme falado, A Indomável (1929), teve ótima recepção. Nos anos 1930, ela foi uma das principais estrelas da MGM, trabalhando em produções de renome, como Grande Hotel (1932) Três Amores (1934) e Do Amor Ninguém Foge (1936). Crawford já desfrutava dos privilégios das grandes estrelas, inclusive, vez ou outra batendo de frente com produtores e diretores para garantir uma fatia cada vez maior de exposição. Depois de anos contracenando com Spencer Tracy, Margaret Sullavan, Melvyn Douglas, William Powell, entre tantos outros, se viu internamente perdendo terreno, no fim dos anos 1930, para nomes em ascensão, tais como Lana Turner, Judy Garland e Ava Gardner.

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Em 1943, Joan Crawford deixou a MGM e assinou com a concorrente Warner. Na nova companhia, entre outros filmes importantes, protagonizou Alma em Suplício (1945), pelo qual recebeu seu Oscar de Melhor Atriz. Dois anos depois, uma nova indicação, por Fogueira de Paixões (1947). O êxito parecia incontestável, mas uma série de fatores fez com que os quase dez anos de parceria não ocorressem sem rusgas. Até que veio a maior reviravolta que Hollywood viu desde o advento do cinema falado: o fim da exclusividade dos astros com os estúdios. Não sendo mais obrigada a enquadrar-se neste ou naquele modelo, partiu para trabalhos diversos, entre eles Johnny Guitar (1954), faroeste icônico que protagonizou sob a direção de Nicolas Ray, Precipícios D’Alma (1952), produção da RKO que lhe rendeu sua terceira indicação ao Oscar e, mais tarde, O Que Terá Acontecido à Baby Jane? (1962), drama no qual “duela” com a concorrente Bette Davis.

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A rivalidade de Joan Crawford e Bette Davis, aliás, merece capítulo à parte. Era notório o ódio que uma nutria pela outra, sendo recorrentes os ataques via imprensa. Estrelas dos anos 30 e 40, Crawford na MGM e Davis na Warner, elas brigavam pelos holofotes, buscando cada qual mais atenção para si. Bette Davis atribuía o sucesso de Crawford apenas à beleza, chegando a declarar: “Eu sou tão boa em interpretar malvadas porque eu realmente não sou uma…é por isso que a Srta. Crawford sempre interpreta as boazinhas”. E, continuou: “Ela já dormiu com todos os astros da MGM, exceto a Lassie”. Aproveitando-se disso, em 1961 o diretor Robert Aldrich cogitou ambas para O Que Terá Acontecido à Baby Jane?. Foi, a priori, rechaçado por Crawford, que teria dito: “Como iriam estar interessados em duas coroas passadas do ponto?” Davis, enfurecida, mandou uma nota para a rival pedindo que nunca mais se referisse a ela nesses termos. Felizmente as duas aceitaram e o resultado é um dos grandes filmes norte-americanos dos anos 1960.

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Na seara pessoal, Joan Crawford casou-se quatro vezes. As três primeiras uniões foram com os atores Douglas Fairbanks Jr., Franchot Tone e Philip Terry e a quarta com o empresário Alfred Steele, um dos maiores acionistas da Pepsi Cola. Quando Steele faleceu, em 1959, ela exerceu por vários anos o cargo de presidente do conselho da empresa. Não teve filhos biológicos, mas adotou quatro crianças: Christina, Christopher e as gêmeas Cynthia e Cathy. Foi Christina que escreveu o best-seller Mommie Dearest, publicado após a morte de Crawford, no qual descreve os muitos abusos sofridos por ela e seu irmão, Christopher, quando crianças. A atriz é pintada como uma tirana alcoólatra e desequilibrada, o que contradiz a imagem pública de mãe carinhosa e afetiva. A adaptação cinematográfica ajudou a implodir essa reputação favorável.

Joan Crawford não chegou a testemunhar a exposição de sua vida pessoal, pois faleceu vitimada por um câncer no pâncreas no dia 10 de maio de 1977, depois de um período em reclusão. Encontra-se sepultada no Ferncliff Cemetery, Hartsdale, Condado de Westchester, Nova York, nos Estados Unidos

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Filmes imprescindíveis: Alma em Suplício (1945), Johnny Guitar (1954) e O Que Terá Acontecido à Baby Jane? (1962).

Primeiro filme: A Mosca Negra (1925)

Último filme: O horror trash Trog: O Monstro da Caverna (1971), hoje considerado um clássico cult para os amantes do gênero.

Guilty pleasure: Sob o Signo do Sexo (1959)

Cinebiografia: Mamãezinha Querida (1981), dirigido por Frank Perry, com base no livro homônimo de Christina Crawford, retrata o comportamento tirânico da atriz com seus dois primeiros filhos adotivos.

Oscar: Foi indicada três vezes ao Oscar de Melhor Atriz: por Alma em Suplício (1945), por Fogueira de Paixões (1947) e por Precipícios D’Alma (1952). Venceu em 1946, por Alma em Suplício.

Frase inesquecível: “O amor é fogo. Se vai aquecer seu coração ou incendiar sua casa, nunca se sabe.”

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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