Marion Morrison, ou melhor, John Wayne, não foi apenas o maior astro de faroestes de Hollywood. Seu nome é praticamente uma instituição graças ao seu talento, à personalidade e ao carisma. Patriota ao extremo, defensor dos ideais norte-americanos, o ator, acima de tudo, era o retrato geral do individualismo. Não por ser egoísta ou qualquer coisa do gênero. Pelo contrário. Sua fama nos bastidores era a humildade entre os colegas, da mais alta estrela com quem contracenava ao trabalhador da limpeza. Sua fama de individualista se deu por ser um solitário. Retrato próximo dos personagens que atuou na maior parte dos 180 filmes com seu nome nos créditos.
John Wayne nasceu em 26 de maio de 1907 na cidade de Winterset, em Iowa, e logo se mudou com a família para o sul da Califórnia, onde o pai era dono de um rancho. Não demorou para aprender a andar de cavalo. Anos depois foi para Glendale, ainda na Califórnia, onde tinha um cachorro chamado Airdale “Duke”, o que inspiraria seu apelido homônimo anos mais tarde. Disposto a defender seu país sempre que preciso, Wayne quase entrou para a Academia Naval de Annapolis, Maryland, não passando nos testes por ter problemas de audição.
As coisas começariam a mudar quando, durante a faculdade, conseguiu emprego como assistente em um set de filmagens. Lá conheceu John Ford, diretor com quem firmou uma parceria que rendeu, ao longo dos anos, produções como O Céu Mandou Alguém (1948), Depois do Vendaval (1952), Rastros de Ódio (1956), Asas de Águias (1957), Marcha de Heróis (1959) e O Homem que Matou o Facínora (1962), além da Trilogia sobre a Cavalaria, composta por Sangue de Heróis (1948), Legião Invencível (1949) e Rio Grande (1950).
Porém, antes desta parceria se consolidar, Wayne demorou um pouco para se tornar o astro que conhecemos. Após participar de cerca de 70 filmes (a maioria B), teve sua grande chance com No Tempo das Diligências (1939), filme do já citado John Ford com o nome de John Wayne sendo o primeiro nos créditos. O status de astro e bom ator começou a crescer, público e crítica voltaram seus olhos para o eterno cowboy e, desde então, a maior parte dos seus filmes foram sucessos de bilheteria e, seus personagens, caíram no imaginário americano e mundial.
Dono de um jeito de andar sem igual, imitado à exaustão em 99% dos faroestes clássicos e modernos, Wayne trabalhou com grandes diretores. Howard Hawks foi responsável por outros de seus sucessos como Rio Vermelho (1948), El Dorado (1967) e um dos clássicos absolutos do gênero, Onde Começa o Inferno (1959). Mas Ford e Hawks não foram os únicos.
Ao lado do cineasta Henry Hathaway, ganhou seu único Oscar de Melhor Ator por Bravura Indômita (1969). Com Don Siegel, fez seu derradeiro trabalho, O Último Pistoleiro (1976). Sua primeira indicação ao prêmio da Academia veio com Iwo Jima – O Portal da Glória (1949), de Allan Dwan. O ator se arriscou na direção algumas vezes entregando o clássico O Álamo (1960), também indicado ao Oscar, e Os Boinas Verdes (1968), que lhe causou dor de cabeça pelo roteiro a favor da Guerra do Vietnã.
Wayne, além de tudo, detém o recorde de maior número de papéis importantes para um ator: foram 142 filmes como protagonista ao longo da carreira. Seu lado pessoal também sempre esteve em foco. Foi casado três vezes com mulheres latinas, sua “preferência”, assim digamos: Josephine Saenz, Esperanza Baur e Pilar Palette. O resultado de todos estes relacionamentos foram seis filhos. Após anos e mais anos fumando cerca de 100 cigarros por dia, The Duke foi diagnosticado em 1964 com câncer de pulmão, passando por uma cirurgia para remoção de todo o pulmão esquerdo e quatro costelas. Seus agentes fizeram de tudo para impedir que a doença se tornasse pública, mas Wayne continuou atuando neste período e revelou à imprensa sua condição com um apelo para que a população fizesse exames preventivos.
Foram cinco anos longe dos cigarros, mas após saber que estava livre da doença, o ator voltou a mascar tabaco e a fumar. Sua luta por uma cura da enfermidade que o acometeu fez com que, nos anos 1970, Wayne se voluntariasse para os estudos de uma vacina contra o câncer. Ironicamente, foi para este mal que o grande astro perdeu a batalha. Deixou os estúdios e a família em 11 de junho de 1979, vítima de um câncer de estômago. Porém, seu legado continua irretocável nas telas e fora delas, sendo um dos nomes mais importantes, não apenas de Hollywood, mas da América como um todo.
Filme imprescindível: Onde Começa o Inferno (1959)
Filme esquecível: Heróis do Inferno (1968)
Maiores sucessos de bilheteria: A Conquista do Oeste (1962) e O Mais Longo dos Dias (1962)
Primeiro Filme: Mocidade Esportiva (sem créditos, 1926) e A Grande Jornada (1930, já creditado)
Último Filme: O Último Pistoleiro (1976)
Guilty Pleasure: Sangue de Bárbaros (1956) – listado como um dos 100 piores filmes de todos os tempos pelo Razzie Guide
Papel perdido: Perseguidor Implacável (1971) – foi a segunda escolha após Frank Sinatra também ter recusado o papel que catapultou a carreira de Clint Eastwood
Oscar: vencedor por Bravura Indômita (1969), como Melhor Ator; indicado por O Álamo (1960), como Melhor Ator, e por Iwo Jima – O Portal da Glória (1949), como Melhor Filme (produção)
Frase inesquecível: “Um homem deve fazer aquilo que acredita ser correto” – Hondo, em Caminhos Ásperos (1953)