20170927 22af77fb60584ec9a15192f2bba9f7ee film academy academy awards

Nascido no dia 28 de setembro de 1924 na cidade de Lazio, Itália, Marcello Vincenzo Domenico Mastrojanni – ou apenas Marcello Mastroianni, como ficou eternizado na memória de milhares de cinéfilos e admiradores ao redor do mundo – nos deixou no dia 19 de dezembro de 1996 em Paris, vítima de um câncer no pâncreas. Ele tinha 72 anos, e estava ao seu lado uma das suas companheiras mais notáveis: Catherine Deneuve, com quem teve um relacionamento de 1971 a 1975 e se tornou mãe de sua filha mais nova, a também atriz Chiara Mastroianni. Com Deneuve ele também atuou em cinco filmes, mas foi com a conterrânea Sophia Loren com quem manteve uma parceria criativa nas telas mais constante: foram 11 títulos ao todo, entre eles clássicos absolutos como Os Girassóis da Rússia (1970), Ontem, Hoje e Amanhã (1963), Matrimônio à Italiana (1964) e o nostálgico Prêt-à-Porter (1994).

20141218 in memoriam marcello mastroianni papo de cinema 002

Logo após o seu nascimento, sua família se mudou para Turin e, em seguida, para Roma. A vida na capital italiana não foi das mais fáceis, e durante a Segunda Guerra Mundial chegou a ser preso pelos alemães e enviado a um campo de prisioneiros na Alemanha. Felizmente, conseguiu escapar, refugiando-se em Veneza. Sua estreia no cinema foi como extra em Marionetes (1939), comédia de Carmine Gallone. Sua participação foi mínima, mas a experiência o motivou a ir trabalhar no despertamento italiano da produtora Eagle Lion Films, em Roma. Em 1945 começou a ter aulas de teatro, e três anos depois veio a verdadeira estreia em I Miserabili (1948), de Riccardo Freda. Ao mesmo tempo, começou a participar de um clube de teatro, onde atuou em montagens de As You Like It (1948), de Shakespeare, e Um Bonde Chamado Desejo (1949), de Tennessee Williams. Foi durante uma das apresentações dessa peça que chamou a atenção do diretor Luchino Visconti. Desta amizade surgiram convites para integrar os elencos de Um Rosto na Noite (1957), do próprio Visconti, e Os Eternos Desconhecidos (1958), de Mario Monicelli. Mas seu grande momento ainda estava por vir.

20141218 in memoriam marcello mastroianni papo de cinema 003

Marcello Mastroianni se confirmou uma revelação mundial quando foi convidado pelo diretor Federico Fellini para estrelar A Doce Vida (1960). O sucesso desse projeto cultivou a imagem de ‘amante latino’ que o acompanhou até o fim da vida, ainda que volta e meia ele aceitasse papéis de personagens mais passivos e sensíveis, justamente para fugir do estereótipo. Com o passar dos anos desenvolveu uma importante parceria com Fellini, trabalhando sob sua condução em outros quatro filmes: 8 ½ (1963), Cidade das Mulheres (1980), Ginger e Fred (1986) e Entrevista (1987) – além de um longa nunca finalizado. Em 8 ½, ao viver um cineasta em crise em meio aos seus devaneios e fantasias, acabou criando uma persona muito próxima do próprio Fellini, a ponto de começar a ser visto como um alter ego do cineasta em muitos dos seus projetos.

20141218 in memoriam marcello mastroianni papo de cinema 004

Ícone do cinema italiano e europeu, Mastroianni trabalhou com os realizadores mais conceituados do seu tempo, vivendo os mais diversos personagens. Foi um escritor com problemas com a esposa em A Noite (1961), de Michelangelo Antonioni, um homem impotente em O Belo Antônio (1960), de Mauro Bolognini, um príncipe no exílio em Príncipe sem Palácio (1970), de John Boorman, e um anarquista traidor em Allonsanfàn (1974), dos irmãos Taviani. Dois papéis, no entanto, chamaram mais atenção: o sensível homossexual de Um Dia Muito Especial (1977), de Ettore Scola, que lhe valeu sua segunda indicação ao Oscar – a primeira foi por Divórcio à Italiana (1961), de Pietro Germi – e o turco Nacib, apaixonado pela Gabriela de Sônia Braga em Gabriela Cravo e Canela (1983), filmado no Brasil com direção de Bruno Barreto a partir do romance homônimo de Jorge Amado.

20141218 in memoriam marcello mastroianni papo de cinema 005

Mastroianni mantém até hoje o recorde de três indicações ao Oscar – nunca um outro intérprete estrangeiro conseguiu tamanho reconhecimento em Hollywood atuando em sua língua natal (os mais próximos de alcançá-lo são a italiana Sophia Loren, a japonesa – naturalizada sueca – Liv Ullmann, a francesa Isabelle Adjani e o espanhol Javier Bardem, cada um com duas indicações). Foi indicado também quatro vezes ao Globo de Ouro (ganhou uma, por Divórcio à Italiana), ganhou dois Bafta, dois troféus do Festival de Cannes e dois no de Veneza. Os críticos de cinema italianos o premiaram 8 vezes (e o indicaram em outras 12 oportunidades), enquanto que o Globo de Ouro Itália o premiou em cinco ocasiões, mesmo número de vitórias que obteve no David di Donatello – o Oscar da Itália. É, até hoje, quase vinte anos após sua morte, considerado o maior ator italiano de todos os tempos!

20141218 in memoriam marcello mastroianni papo de cinema 006

Filme imprescindível: A Doce Vida (1960). Afirmava que só havia sido contratado pelo diretor Federico Fellini para esse papel porque tinha “uma cara muito ordinária”.

Filme esquecível: Romance de Outono (1992), comédia romântica bobinha em que aparecia ao lado de Shirley MacLaine, uma das poucas produções que fez nos EUA

Primeiro filme: Marionetes (1939)

Último filme: Viagem ao Princípio do Mundo (1997)

Guilty pleasure: Gabriela Cravo e Canela (1983), feito no Brasil com direção de Bruno Barreto a partir do romance de Jorge Amado

Filme perdido: Il Viaggio di G. Mastrona, detto Fernet, de Fellini, filmado em 1966 e nunca finalizado por falta de recursos

Oscar: Foi indicado três vezes como Melhor Ator, por Divórcio à Italiana (1961), Um Dia Muito Especial (1977) e Olhos Negros (1987). Este número é um recorde entre atores estrangeiros. Apesar de nunca ter ganho, venceu cinco vezes o David di Donatello – considerado o Oscar da Itália.

Frase inesquecível:Eu somente existo quando estou atuando em um filme”.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *