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In Memoriam :: Mickey Rooney (1920-2014)

Publicado por
Robledo Milani

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Muita gente hoje em dia talvez não reconheça o nome de Mickey Rooney, mas tenham certeza de uma coisa: estamos falando de um dos grandes da história do cinema. Reconhecido pelo Livro Guinness dos Recordes como o ator com a mais longa carreira nos palcos e nas telas, Ninian Joseph Yule Jr. (seu nome de batismo) nasceu no dia 23 de setembro de 1920, no Brooklyn, Nova Iorque, nos Estados Unidos. Em mais de 80 anos dedicados à arte da interpretação, trabalhou em mais de 300 projetos no cinema e na televisão, além de peças de teatro, trilhas sonoras e livros.

Nascido de pai escocês e mãe norte-americana, ambos atores do vaudeville, Mickey Rooney começou a atuar aos quinze meses de idade, acompanhando os pais. Com a separação deles apenas quatro anos após seu nascimento, foi com o pai para Hollywood, onde acabou conseguindo a oportunidade de estrelar uma série de curtas-metragens como o personagem ‘Mickey McGuire’. Foram ao total 78 episódios cômicos, lançados entre 1927 e 1936, resultando no primeiro trabalho artístico profissional do ator. O sucesso foi tanto que pensou-se em mudar legalmente o nome do rapaz para o mesmo do personagem. Acredita-se que o próprio Mickey Mouse (criado em 1928 e batizado inicialmente como ‘Mortimer Mouse’) tenha sido batizado em sua homenagem, versão negada, no entanto, pelo próprio Walt Disney.

Com o término da série, a Fox o impediu de seguir usando o apelido que o fez famoso, obrigando-o a alterar para ‘Mickey Looney’, e, logo em seguida, por sugestão materna, para o ‘menos frívolo’ Mickey Rooney. Em 1934 assinou contrato com a MGM, e três anos depois foi escalado para viver o personagem ‘Andy Hardy’, no longa A Family Affair (1937), em que aparecia como o filho de Lionel Barrymore. Foi outro incrível sucesso, que gerou 13 sequências. Naquele mesmo ano teve sua primeira parceria nas telas com Judy Garland em Menino de Ouro (1937), formando uma das duplas de maior sucesso da época, com ambos cantando e dançando em diversos outros projetos.

O primeiro Oscar veio em 1939, em um prêmio especial chamado ‘Troféu Juvenil’ (inexistente atualmente), dividido com Deanna Durbin. No ano seguinte, no entanto, seria indicado pela primeira vez como Melhor Ator por Sangue de Artista (1940), talvez o mais bem sucedido longa da dupla Rooney-Garland. A segunda indicação veio por A Comédia Humana (1943), um dos seus primeiros papéis dramáticos. Em 1944 integrou o serviço militar durante a Segunda Guerra Mundial, e após retornar sua carreira viveu um dos períodos de maior popularidade. Logo se tornaria uma das maiores celebridades do showbiz, e conquistaria sua terceira indicação ao Oscar, agora como Coadjuvante, por O Preço da Audácia (1956). O prêmio, no entanto, viria somente em 1983, em forma de uma estatueta honorária “em reconhecimento aos 50 anos de versatilidade em uma memorável variedade de performances”, como anunciado pela Academia.

Um dos casos clássicos de estrela infantil que conseguiu manter a popularidade ao ficar adulto, Mickey Rooney seguiu trabalhando até o dia da sua morte, em 06 de abril de 2014, quando faleceu em sua casa, North Hollywood, em Los Angeles. Nos últimos anos, teve participações especiais em comédias como Uma Noite no Museu (2006) e Os Muppets (2011), entre outras. E entre tantos e inúmeros trabalhos inesquecíveis, esse seria, na nossa opinião, o Top 5 do astro. Confira!

 

Com os Braços Abertos (Boys Town, 1938)
Após estrelar uma série de curtas-metragens e se tornar o astro mais bem pago de Hollywood nos anos 1930, Mickey Rooney enfrentou um impasse: como deixar de ser apenas um ídolo juvenil e se tornar um ator de verdade? O primeiro passo neste sentido foi dado com este drama biográfico sobre a história do Padre Flanagan (Spencer Tracy), um homem de Deus decidido a dar uma nova vida à rapazes sem rumo. Sua missão ganha novo foco ao conhecer o jovem e desiludido Whitey Marsh (Rooney, mostrando um potencial inédito como ator dramático), que encontra um rumo através da determinação do religioso. O filme foi um grande sucesso, rendeu o segundo Oscar a Tracy (que havia ganho no ano anterior por Marujo Intrépido, 1937, também estrelado por Rooney), foi premiado ainda como Melhor Argumento Original e indicado a Filme, Direção (Norman Taurog) e Roteiro Original.

 

Sangue de Artista (Babes in Arms, 1939)
Apenas um ano depois Rooney consolidaria sua parceria com Judy Garland neste musical dirigido pelo mestre Busby Berkeley. A história destes dois jovens em busca de sucesso no show business como cantores e dançarinos foi um dos campeões de bilheteria daquela temporada – faturou mais do que O Mágico de Oz (1939), também estrelado por Garland! Além disso, rendeu a primeira indicação ao Oscar para Rooney, como Melhor Ator. O filme concorreu ainda como Melhor Trilha Sonora, e gerou uma verdadeira febre popular ao redor dos dois artistas, que reprisaram esses papéis em adaptações para o rádio e também para a televisão.

 

A Mocidade é Assim Mesmo (National Velvet, 1944)
Mickey Rooney já tinha 18 anos e, no mesmo ano em que foi convocado pelo Serviço Militar para se juntar aos esforços da Segunda Guerra Mundial, teve seu primeiro personagem adulto neste drama familiar estrelado ao lado de Elizabeth Taylor. Ele aparece como um jóquei de prestígio que ajuda uma garota (Taylor) e domar um belo e selvagem cavalo e prepará-lo para o Grande Prêmio da Inglaterra. O sucesso do filme foi tanto que a atriz foi premiada com o animal após as filmagens, além do longa ter ganho dois Oscars (Melhor Atriz Coadjuvante, para Anne Revere, e Melhor Edição) e ter sido indicado ainda à Direção (Clarence Brown), Fotografia em Cores e Direção de Arte em Cores.

 

Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961)
Rooney foi à Guerra, voltou, conquistou novas indicações ao Oscar, enfrentou o descaso do público – que passou a considerar a impetuosidade que aplaudiam nele quando criança em antipatia quando adulto – e após um tempo se dedicando apenas à projetos na televisão causou controvérsia ao aparecer caracterizado como Sr. Yunioshi, o japonês míope vizinho da protagonista Holly Golightly (Audrey Hepburn) neste clássico dirigido por Blake Edwards a partir do livro de Truman Capote. O produtor Richard Shepherd chegou a pedir desculpas publicamente ao ator no lançamento comemorativo do DVD de 45 anos do filme, pois o personagem foi acusado de ser preconceituoso e estereotipado. No entanto, temos aqui um dos seus filmes mais admirados pelo público e que permanece atual até os dias de hoje.

 

O Corcel Negro (The Black Stallion, 1979)
Henry Daley, o famoso treinador de cavalos que ajuda o pequeno Alec Ramsey (Kelly Reno) a fazer do belo cavalo árabe negro um dos mais rápidos do mundo, rendeu à Rooney sua última indicação ao Oscar, como Melhor Ator Coadjuvante. O filme, que concorreu ainda como Edição e foi premiado pela Edição de Som, recebeu indicações também ao Globo de Ouro (Melhor Trilha Sonora) e ao Bafta (Fotografia), além de ter ganho uma continuação (O Regresso do Corcel Negro, 1983) e se tornado no Brasil um clássico da Sessão da Tarde, tendo ganho inúmeras reprises com o passar dos anos. Além de ser um dos seus trabalhos mais memoráveis, possibilitou ao ator fechar um círculo iniciado 35 anos, em A Mocidade é Assim Mesmo, filme de temática bastante similar (fotos dessa produção, inclusive, chegaram a ser usadas no novo trabalho para ilustrar o passado do personagem).

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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