Nascido em 6 de novembro de 1931, em Berlim, na Alemanha, Michael Igor Peschkowsky não pôde viver em sua terra natal, assim como muitos outros descendentes de judeus que migraram em virtude da Segunda Guerra Mundial para escapar da sanha nazista. Em 1938, o garoto que mais tarde ficaria amplamente conhecido como Mike Nichols chegou aos Estados Unidos, mais precisamente a Nova Iorque, onde se estabeleceu com os seus. Nessa época, ele sabia apenas duas frases em inglês: “Eu não falo Inglês” e “Por favor, não me beije”. Após a morte do pai, a família Nichols passou por sérios apuros financeiros. Mike foi para Chicago, onde trabalhou para sustentar a faculdade e ajudar nas contas de casa.
Após estudar com Lee Strasberg, numa das voltas à Nova Iorque, Mike Nichols se juntou em Chicago com uma trupe de comediantes, na qual conheceu Elaine May, com quem formou uma dupla de sucesso no fim dos anos 1950. Mais tarde, os dois conquistaram os palcos da Broadway, no que se configurou como o primeiro grande sucesso da carreira artística do então ator, que viria mais tarde a ser um dos grandes diretores de sua geração. Ainda na Broadway, estreou finalmente na direção com Barefoot in the Park, peça estrelada Robert Redford e Elizabeth Ashley, e pela qual ganhou seu primeiro Tony, ainda em 1964. Após mais alguns sucessos nos palcos, Nichols chegou ao cinema, dirigindo Elizabeth Taylor e Richard Burton em Quem tem Medo de Virgínia Wolf? (1966), adaptação da peça teatral homônima escrita por Edward Albee.
A pavimentação definitiva de seu caminho no cinema se deu, porém, um ano depois, com A Primeira Noite de Um Homem (1967), pelo qual venceu o Oscar de Melhor Diretor. Mesmo com o sucesso de público e crítica alcançado, Nichols nunca largou sua paixão pelo teatro. Continuou, assim, intercalando trabalhos nos palcos e nas telonas, entre os anos 1970 e 1980, obtendo êxito semelhante em ambos ambientes de criação. Nesse período, venceu mais dois prêmios Tony, primeiro por dirigir O Prisioneiro da Segunda Avenida para Neil Simon, e depois, cinco anos mais tarde, pela condução do musical popular Annie. Enquanto isso, no cinema recebeu outras duas indicações ao Oscar, primeiro pela direção de Silkwood: O Retrato de uma Coragem (1983) e depois por Uma Secretária de Futuro (1988).
Ainda no cinema, Mike Nichols dirigiu alguns sucessos nos anos 1990, como Lembranças de Hollywood (1990), no qual uma cantora country (Meryl Streep) volta para a casa da mãe (Shirley MacLaine) para tentar exorcizar os fantasmas que prejudicam o relacionamento delas, e A Gaiola das Loucas (1996), remake de um filme franco-italiano de 1978, focado numa insólita situação familiar. Em 2003, Mike Nichols levou à televisão à minissérie Angels In América, produção da HBO que abordava a problemática questão da AIDS. Logo depois, já de volta ao cinema, lançou Closer: Perto Demais (2004), drama de muita densidade cujo foco é a dinâmica entre casais, o choque de seus anseios e desejos. Sua contumaz dedicação ao teatro lhe valeu mais dois prêmios Tony, um em 2005 pelo musical que adaptou aos palcos o filme Monthy Python Em Busca do Cálice Sagrado (1975) e outro (seu sexto) por sua versão de A Morte do Caixeiro Viajante, protagonizada por Philip Seymour Hoffman.
Mike Nichols, um dos únicos 12 profissionais EGOT, ou seja, que venceram ao menos uma vez todos os quatro principais prêmios do entretenimento norte-americano, Emmy, Grammy, Oscar e Tony, morreu na noite de ontem, 19 de novembro de 2014, em virtude de uma parada cardíaca.
Filme(s) imprescindível(is): A Primeira Noite de Um Homem (1967) e Closer: Perto Demais (2004)
Filme esquecível: De Que Planeta Você Veio? (2000)
Maior sucesso de bilheteria: A Gaiola das Loucas (1996)
Maior fracasso de bilheteria: Ânsia de Amar (1971)
Primeiro filme: Quem tem Medo de Virgínia Wolf? (1966)
Último filme: Jogos do Poder (2007)
Guilty pleasure: A Gaiola das Loucas (1996)
Oscar: Venceu o Oscar de Melhor Diretor por A Primeira Noite de Um Homem (1967) e foi indicado para a mesma categoria por Quem tem Medo de Virgínia Wolf? (1966) e Uma Secretária de Futuro (1988).
Frase inesquecível: “Um filme é como uma pessoa. Ou você confia ou não”.