paulo goulart papodecinema inmemoriam

Paulo Goulart nasceu em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, em 9 de janeiro de 1933. Começou sua carreira no rádio, como ator das então populares rádionovelas, passando posteriormente para a televisão e para o teatro. Na década de 50, conheceu a atriz Nicete Bruno, com quem dividiu sua vida desde então. Para o grande público, seus papéis mais famosos talvez estejam atrelados às novelas globais. No entanto, não foi apenas na tevê ou no teatro que o ator com voz potente desfrutou de bons personagens. Na tela grande, Paulo Goulart teve performances marcantes, em produções históricas e de sucesso incontestável.

No dia da morte do ator, que faleceu vítima de câncer aos 81 anos, o Papo de Cinema relembra cinco produções, em ordem cronológica, que contaram com a participação de Paulo Goulart e que merecem ser lembradas. Uma homenagem justa a um ator que muito fez pelas artes cênicas. Faltou algum grande trabalho? Participe nos comentários e preste seu tributo ao ator relembrando seu filme favorito.

 

destino em apuros papodecinema1. Destino em Apuros (1953)
O longa-metragem de estreia de Paulo Goulart nos cinemas não seria apenas um marco para a carreira do ator. Dirigido pelo cineasta Ernesto Remani, Destino em Apuros foi o primeiro filme brasileiro em cores, uma novidade bastante falada à época, mas infelizmente sem o retorno de bilheteria necessário para transformá-lo em sucesso. Como não existia a tecnologia de revelação de filmes coloridos no Brasil, o filme teve de ser mandado para os Estados Unidos, o que encareceu demais a sua pós-produção – dificultando o retorno financeiro para seus produtores. No elenco, além de Goulart, destaque para Paulo Autran, Sérgio Britto, Grande Otelo, Oscarito e Ítalo Rossi. Na trama, o Destino aparece em carne-e-osso e faz confusão com a vida de duas pessoas. Tido como um dos tantos filmes brasileiros perdidos com o passar do tempo, Destino em Apuros foi encontrado no começo da década passada, mas até hoje não existe notícia sobre algum relançamento ou trabalho de restauração acerca deste longa-metragem histórico.

 

riozonanorte papodecinema2. Rio Zona Norte (1958)
Escrito e dirigido por Nelson Pereira dos SantosRio Zona Norte foi o segundo longa-metragem do cineasta, logo após o bem sucedido Rio 40 Graus (1955). No filme, Grande Otelo vive o sambista carioca Espírito da Luz. Sonhando em apresentar seus sambas e ser gravado por grandes artistas, o músico sofre um acidente e passa a relembrar seu passado e seus percalços na tentativa do sucesso. Paulo Goulart vivia Moacyr, um admirador da obra de Espírito que se oferece para ajudá-lo a gravar suas composições. Infelizmente, o amigo golpista do músico, Maurício (vivido por Jece Valadão), acaba estragando os planos de Espírito. O longa-metragem conta com participação da cantora Ângela Maria e venceu prêmios pela performance de Grande Otelo e pelo roteiro de Nelson Pereira dos Santos no Festival de Cinema do Distrito Federal.

 

calaabocaetelvina papodecinema3. Cala a Boca, Etelvina (1958)
Chanchada estrelada por Dercy Gonçalves, Cala a Boca, Etelvina! conta com Paulo Goulart vivendo o galã da história. Na trama, Adelino (Goulart) e Zulmira (Mara di Carlo) estão endividados até o pescoço e sonham com a herança de um tio rico, chamado Macário (Manoel Vieira). Não suportando mais a situação financeira da casa, Zulmira some deixando alguns vestidos para a empregada da casa, a falastrona Etelvina (Dercy). Macário chega inesperadamente na casa de Adelino, vê Etelvina vestindo roupas de Zulmira e logo pensa se tratar da esposa de seu sobrinho. Temendo que o tio o retire de seu testamento por detestar separações, Adelino segue com a farsa e transforma Etelvina em Zulmira. O que, obviamente, trará muitas confusões para aquela casa. Dirigido por Eurípides Ramos, foi um sucesso na época, com números musicais de Golden Boys, Nélson Gonçalves, Emilinha Borba e Jackson do Pandeiro.

 

gabriela poste papodecinema4. Gabriela (1983)
Depois de ter feito o grande sucesso Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), Bruno Barreto resolveu investir novamente em uma transposição da obra de Jorge Amado para os cinemas. Para tanto, convidou o ator italiano Marcello Mastroianni e a estrela brasileira Sônia Braga para viverem o casal central em Gabriela. Filme tipo exportação, com produção da norte-americana United Artists, o longa-metragem não conseguiu repetir o feito de Dona Flor com uma grande bilheteria nacional, mas ainda é visto como um dos destaques da carreira de Barreto e, claro, do ator Paulo Goulart, que vivia o amigo de Nacib, João Fulgêncio, em um papel pequeno, porém marcante.

 

oautodacompadecida papodecinema5. O Auto da Compadecida (2000)
O caso de O Auto da Compadecida merece ser estudado. Exibido na televisão como uma minissérie em quatro capítulos, a produção da Globo foi reeditada, sintetizada e enviada para os cinemas. Dirigida por Guel Arraes, a série foi um grande sucesso na tevê e, como tal, muitos apostavam no fracasso da empreitada quando chegasse às telonas – quem pagaria para ver algo que já viu na televisão e de forma estendida? Muitos, pelo visto. O longa-metragem teve público de mais de 150 mil pessoas em apenas três dias, com pouco menos de 90 cópias. Uma média altíssima para um produto que, como dito, havia saído da televisão. No filme, baseado na obra de Ariano Suassuna, João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) são dois sujeitos famintos e matreiros que passam a perna em Deus e o mundo para conseguir sobreviver. Paulo Goulart vivia o Major Antonio Morais, um homem linha-dura, pai da bela Rosinha (Virginia Cavendish), que se vê às voltas com Chicó quando ele pede sua filha em casamento.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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