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Filósofo, anarquista, esteta, rebelde, perfeccionista. A personalidade de Stanley Kubrick era multifacetada e respingava através de sua filmografia, que contém sérios estudos sobre o ser humano e o seu papel no desenvolvimento (ou fim) da sociedade. O cineasta não era de brincar ou se divertir com suas obras. Ele sempre tinha algo a dizer, mesmo que todos ao redor não quisessem ouvir. Sua trajetória pode ser considerada até pequena, pois foram 16 filmes (três curtas) em mais de 40 anos de carreira. Nada que conteste sua profundidade na realização destas produções.

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A rebeldia era marca registrada de Kubrick desde muito novo. Nascido no dia 26 de julho de 1928 no Bronx, Nova Iorque, o então garoto estava longe de ser um aluno exemplar na escola. As notas não eram das melhores, as lições de casa ficavam por fazer. Por conta deste histórico, se formou sem conseguir vagas em nenhuma faculdade. Mesmo assim, o pai incentivava sua mente criativa e lhe ensinou a arte da fotografia. Era o gatilho que precisava para trabalhar aquilo que é uma das grandes marcas de suas obras cinematográficas.

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O jovem foi trabalhar como fotógrafo na revista Look. Com o aprendizado e o passar dos anos, resolveu arriscar na sua grande paixão: o cinema. Aos 22 anos de idade, filmou seu primeiro curta-metragem. E de cara já foi elogiado. Por conta de uma cena ao contrário, muitos já começaram a ver o potencial de um grande cineasta. Após deixar a publicação em que trabalhava, se dedicou a produzir outros documentários com a produtora RK. Day Of The Flight (1951), Flying Padre (1951) e The Seafares(1953) foram os únicos trabalhos de Kubrick fora da ficção.

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Quando completou 25 anos, o diretor teve ajuda financeira do pai para produzir o primeiro longa-metragem, que não agradou muito ao próprio cineasta. Medo e Desejo, de 1953, foi exibido poucas vezes em festivais ou de forma ilegal. Kubrick realizaria mais uma tentativa em 1955 com A Morte Passou Por Perto. Porém, sua grande porta de entrada em Hollywood surgiu com O Grande Golpe (1956), que inclusive lhe rendeu uma indicação ao BAFTA. A partir de então, o cineasta começaria a provocar a cena cinematográfica norte-americana.

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Com Glória Feita de Sangue (1957), estrelado por Kirk Douglas, lançou um olhar inédito sobre a insanidade da guerra, rendendo elogios e polêmica por todos os lados. Inclusive o filme foi proibido na França. Sua “redenção” (se é que podemos chamar assim) aconteceu em 1960 ao dirigir o épico blockbuster Spartacus, que, na época, foi um dos longas mais vistos de todos os tempos. Não que importasse muito para o gênio difícil do cineasta. Ele mesmo não gostou muito do resultado. Talvez apenas o próprio, já que o filme ganhou quatro Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme do ano. As constantes interferências de produtores fizeram com que o cineasta só dirigisse trabalhos que produzisse.

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Já com o nome estabelecido, Stanley Kubrick começou a se focar em projetos que realmente lhe agradavam e, o melhor, que ele poderia fazer do próprio jeito. Assim, em 1962 fez fora dos EUA sua versão de Lolita, sem poupar a dose de pedofilia que a obra carrega. O resultado? Uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Dois anos mais tarde, realiza a comédia de humor negro Dr. Fantático (1964), uma deliciosa e ácida sátira sobre a Guerra Fria. Considerada uma de suas obras-primas, a produção em preto e branco foi indicada a quatro Oscar, inclusive Melhor Direção e Melhor Filme. Como seria de praxe em praticamente toda a carreira do cineasta, ele saiu da festa de mãos abanando.

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Porém, em 1968 realizou um dos grandes marcos da filmografia mundial e a melhor ficção científica das telonas. Com a saga interestelar de 2001: Uma Odisseia no Espaço, Kubrick assinava de vez o atestado de genialidade e polêmica. Com vários elogios e boa bilheteria, o longa até hoje é tema de análises filosóficas sobre o destino do homem e da própria humanidade, além de ter sido um dos marcos dos efeitos especiais na sétima arte e fonte de inspiração para qualquer filme do gênero que viria a seguir.

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Mas Kubrick era perfeccionista e não estava satisfeito, mesmo tendo uma obra com tamanha qualidade em mãos. Do espaço ele veio para a terra violenta com o sadismo de Laranja Mecânica (1971). Na Inglaterra do futuro, a gangue liderada por Alex (Malcolm McDowell) estupra e comete atos hediondos como algo absolutamente normal. A polêmica segue a mesma linha de 2001, desta vez com os olhos voltados para o fim da humanidade através da própria. E, assim, mais quatro indicações ao Oscar.

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Cada vez mais, Kubrick começou a estender o intervalo entre seus filmes. Em 1975, realizou o drama de época Barry Lyndon, que não fez tanto barulho. Cinco anos depois, provocou a ira de Stephen King ao adaptar, ao seu modo, a obra O Iluminado (1980) com um Jack Nicholson enlouquecido. Os bastidores foram turbulentos, já que diversas cenas foram regravadas dezenas de vezes, o que provocou um mal-estar com a atriz Shelley Duvall. Foi então que ocorreu um fato inédito na carreira do cineasta: assim como sua protagonista, ele foi indicado ao Framboesa de Ouro pelo filme. Injustiça recompensada com o ar cult que o longa tomou com o passar dos anos, hoje sendo considerado uma das melhores obras de terror.

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Sete anos mais tarde, seria a vez de Kubrick voltar seus olhos para a guerra do Vietnã em Nascido Para Matar (1987). O realismo foi elogiado e ignorado ao mesmo tempo, ainda mais que, um ano antes, Oliver Stone havia realizado Platoon (1986). A fama de perfeccionista e até de chato tomou proporções gigantescas na carreira do cineasta. Ainda mais pelo fato de não gostar de dar entrevistas. Tanto que demoraria mais doze anos para vermos um novo longa do diretor. De Olhos Bem Fechados (1999) foi seu último trabalho, realizado após três anos. O público e a crítica se dividiram na época, maculando o desfecho de sua obra, já que Kubrick faleceu no dia 7 de março daquele ano, antes mesmo da estreia do longa. Porém, a cada dia que passa, sua obra é revisitada por cinéfilos do mundo inteiro que estudam sua linguagem inventiva como poucos.

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Filme imprescindível: 2001: Uma Odisséia no Espaço, por ser um marco incontestável da ficção científica

Filme Esquecível: É Kubrick. Como esquecer?

Maior sucesso de bilheteria: Pelos valores corrigidos com a inflação, seus três grandes sucessos de público foram 2001: Uma Odisséia no Espaço (US$ 349 milhões arrecadados), Spartacus (US$ 288,50 milhões) e Laranja Mecânica (US$ 185 milhões)

Primeiro filme: Medo e Desejo (1953)

Último filme: De Olhos Bem Fechados (1999)

Guilty pleasure: Em termos, O Iluminado (1980), já que o filme não foi bem recebido apenas na época

Premiações: Nunca ganhou um Oscar de Melhor Direção, apesar de ter sido indicado quatro vezes (por Dr. Fantástico, 2001 – Uma Odisséia no Espaço, Laranja Mecânica e Barry Lyndon). Também teve três indicações a Melhor Filme por três destes longas citados, menos 2001. Além disso, recebeu outras cinco indicações como roteirista pelos filmes já lembrados e por Nascido Para Matar. Seu único prêmio foi o de Melhores Efeitos Especiais por 2001.

Direção perdida: A.I.: Inteligência Artificial (2001), que foi parar nas mãos de Steven Spielberg. Kubrick demorou 15 anos com a produção em mãos e morreu antes de começar as filmagens. Além disso, recusou-se a dirigir Perfume: A História de um Assassino (2006), que anos depois se tornaria um longa de Tom Tykwer. Após sua morte, foi descoberto o roteiro de Lunatic at Large, um filme noir que teria Scarlett Johansson e Sam Rockwell no elenco. Porém, o caso mais famoso é a cinebiografia de Napoleão Bonaparte, em que o cineasta teria guardado mais de 500 livros sobre a vida dele para produzir um longa após o sucesso de 2001. No entanto, nunca saiu do papel.

Frase inesquecível: “A sensação da experiência é a coisa mais importante, não a habilidade de verbalizar ou analisar”.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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