Conhecido como um dos grandes dramaturgos do teatro norte-americano, Tennessee Williams também fez do cinema sua casa, adaptando muitas de suas peças para a telona. Nascido em 26 de março de 1911, Tennessee não era seu nome de batismo – ele adotaria o nome anos depois, ao ser apelidado por colegas de faculdade. Ele nasceu Thomas Lanier Williams, natural do Mississippi, filho de um casal infeliz. O pai, um vendedor de sapatos alcóolatra; a mãe, uma bela, mas complicada dona de casa. Filho do meio, Williams tinha uma irmã mais velha, Rose, e um caçula, Walter. Este resumo familiar é importante pois o escritor utilizava muito sua própria vivência e sua dinâmica familiar em seus trabalhos.
Desde muito pequeno Tennessee começou a escrever e, durante seus estudos posteriores, percebeu que seu destino seria realmente contar histórias. Estudou jornalismo, mas não concluiu o curso. Chegou a ser empregado como vendedor, por pressão do pai, mas infeliz com a condição, sofreu um colapso nervoso que o levou a abandonar a profissão. Quando chegava em casa depois do trabalho, se trancava no quarto e escrevia até não poder mais. Sua meta era criar uma história por semana, no mínimo, para poder viver apenas de suas peças. Pouco antes de concluir seu curso de Inglês na Universidade de Iowa, em 1938, já tinha alguns trabalhos finalizados, mas nenhum com grande alarde. Foi um ano depois que sua sorte começou a mudar, quando conseguiu uma bolsa de 1000 dólares da fundação Rockefeller. Com o estímulo, montou a peça Battle of Angels em Boston, em 1940.
Foi depois de sua inclusão na fundação Rockefeller que o nome de Williams começou a circular e, com isso, um contrato com a Metro Goldwyn Mayer foi assinado. O jovem escriba passaria os próximos seis meses escrevendo roteiros pro estúdio, em troca de 250 dólares semanais. Infelizmente, registros dos seus trabalhos neste período são difíceis, visto que muitos roteiristas contratados não eram creditados. Isso, no entanto, foi apenas um trampolim para o primeiro grande trabalho de Tennessee, a peça The Glass Menagerie. Os personagens? Uma mãe sulista decadente, uma filha com problemas mentais e um filho sonhador, distante. Nada mais, nada menos, que a família do escritor colocada em sua dramaturgia. A peça foi encenada em 1944, com grande sucesso, e logo virou um longa-metragem, com roteiro adaptado pelo próprio artista. Com o título Algemas de Cristal (1950), o filme contava com a direção de Irving Rapper e um elenco capitaneado por Kirk Douglas e Jane Wyman.
O sucesso retumbante de The Glass Menagerie não seria páreo para um trabalho ainda mais bem sucedido, lançado em 1947, chamado A Streetcar Named Desire – que dependendo da tradução em português pode ser Uma Rua Chamado Pecado ou Um Bonde Chamado Desejo. A história de Blanche DuBois e Stanley Kowalski foi encenada inúmeras vezes, deu a Tennessee Williams seu primeiro prêmio Pullitzer e colocou seu nome no panteão dos grandes escritores norte-americanos. A adaptação para o cinema, em 1951, chamada no Brasil de Uma Rua chamada Pecado, contava com Marlon Brando e Vivien Leigh nos papéis principais, e direção de Elia Kazan. Pelo roteiro, adaptado pelo próprio escritor, recebeu sua primeira indicação ao Oscar.
Foi pouco tempo depois de escrever A Streetcar Named Desire que Williams conheceu seu parceiro mais duradouro. Ainda que tenha tido uma ou outra namorada durante a faculdade, Tennessee era homossexual e passou boa parte da sua vida ao lado do companheiro e secretário Frank Merlo. Dito isso, não era de se estranhar que um dos protagonistas de Cat in a Hot Tin Roof, ou Gata em Teto de Zinco Quente, era acusado por sua esposa de ter um relacionamento homossexual com seu amigo – fato esse completamente apagado da adaptação cinematográfica estrelada por Elizabeth Taylor e Paul Newman em 1958. Desta vez, Williams ficou de fora da adaptação – o que talvez explique as diferenças entre o material original e o que vemos na telona.
Antes disso, o dramaturgo se envolveu em duas adaptações de peças suas para o cinema. Em 1955, com A Rosa Tatuada, dirigido por Daniel Mann e com Burt Lancaster no elenco; e, claro, o polêmico Boneca de Carne (1956), dirigido novamente por Elia Kazan e estrelado por Karl Malden, Carroll Baker e Eli Wallach. Por este trabalho, Tennessee levou sua segunda e última indicação ao Oscar. Outros destaques de sua carreira foram De Repente, no Último Verão (1959), com Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn e Montgomery Clift no elenco. E Vidas em Fuga (1960), com Marlon Brando como protagonista e Sidney Lumet na direção.
A partir da década de 1960, a vida foi mais difícil para Tennessee Williams. Suas peças começaram a decair em popularidade, com isso seu abuso de álcool e pílulas aumentava, o que transformava seu texto em algo bastante inferior ao que costumava criar, o que determinava o fracasso de seus trabalhos. Ou seja, um terrível círculo vicioso. A depressão o assombrava e ainda que tenha tentado se tratar, o resultado nunca chegou. Foram duas décadas de fracassos no teatro e escassos filmes produzidos com sua assinatura. Em 25 de fevereiro de 1983, o mundo perdia Tennessee Williams, encontrado morto um quarto de hotel em Nova York. Seus trabalhos até hoje são referência para qualquer pessoa que queira criar personagens humanos, falhos, mas ainda assim, determinados. Talvez uma tradução perfeita da personalidade daquele grande escritor.
Filme imprescindível: Uma Rua Chamada Pecado (1951), filme pelo qual ficou mundialmente conhecido e recebeu sua primeira indicação ao Oscar;
Filme esquecível: O Homem que Veio de Longe (1968), filme que contou novamente com Elizabeth Taylor no elenco, mas – assim com suas versões na Broadway – foi um retumbante fracasso;
Primeiro filme: Algemas de Cristal (1950);
Último filme: Tesouro Perdido (2008), estrelado por Bryce Dallas Howard e Chris Evans, realizado em cima de um roteiro esquecido do autor;
Seu filme preferido: Ainda que tenha sido um fracasso, costumava dizer que O Homem que Veio de Longe era o melhor filme adaptado de uma peça sua;
Oscar: Recebeu duas indicações, por Uma Rua Chamada Pecado (1951) e Boneca de Carne (1956);
Frase inesquecível: “Por que escrevo? Porque acho a vida insatisfatória”.