Um dos pais do neorrealismo italiano, Vittorio De Sica teve uma infância difícil, o que é um dos motivos para uma cinebiografia tão densa e que influenciou sua forma de fazer filmes na época. Nascido em Soria e criado em Nápoles, logo se mudou para Roma, onde começou muito cedo a trabalhar em um escritório para ajudar a família de origem humilde. Se formou em contabilidade, mas a paixão pela atuação foi maior. Com o tempo, conseguiu bicos como ator até se juntar a uma companhia de teatro em 1923.
Logo viria o olhar incisivo através da câmera. Estreou na direção em 1939 com o filme Rosas Escarlates. Após uma série de comédias, A Culpa dos Pais (1944) elevou seu nome como cineasta perante a crítica, que começou a notar a sensibilidade de De Sica na direção, especialmente com filmes estrelados por crianças.
Dois anos, o cineasta levaria para a Itália seu primeiro Oscar, um prêmio honorário antes da criação da categoria de Melhor Filme Estrangeiro, por Vítimas da Tormenta (1946). O longa sobre dois jovens que se envolvem na compra de um cavalo no pós-guerra italiano causou comoção no mundo e sensibilizou a Academia que encheu de elogios o longa de De Sica.
Irônico é pensar que sua obra-prima do neorrealismo, Ladrões de Bicicletas (1948) foi um fracasso de público na Itália, onde os espectadores acabaram pedindo o dinheiro de volta, tamanha a revolta que tiveram com o filme. Por outro lado, recebeu seu primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, assim como atestou de ver ser um dos cineastas mais importantes de sua época, assim até hoje.
Sua trajetória de sucesso continuaria nos anos seguintes. Ganhou o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, por Milagre em Milão, em 1951. No mesmo ano, teve que enfrentar o fracasso de Umberto D., filme sobre os problemas da terceira idade que não vingou nas bilheterias e nem com a crítica. Tanto que o cineasta se voltou a filmes mais leves e comerciais, dando armas para que falassem que sua carreira como cineasta havia acabado. Ledo engano.
Nos anos 1960, De Sica voltaria a ter o respeito do público em geral com Ontem, Hoje e Amanhã (1963), longa que lhe rendeu seu segundo Oscar de Filme Estrangeiro. No ano seguinte, voltaria à cerimônia com a indicação da comédia na mesma categoria. O filme também rendeu a lembrança de Sophia Loren, sua atriz fetiche, como uma das indicadas a Melhor Atriz. A mesma produção traria outro favorito do cineasta, Marcello Mastroianni.
A dupla estrelaria mais um sucesso do cineasta, Os Girassóis da Rússia, em 1970, época que De Sica produzia sem parar, mesmo com 69 anos. No ano seguinte, levaria o Urso de Ouro no Festival de Berlim, por O Jardim dos Finzi-Contini (1970), além de mais um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Seu último longa foi A Viagem Proibida (1974), que estreou após sua morte. Mais uma vez, com sua musa Sophia Loren. No dia 13 de novembro na França, De Sica deixou o mundo aos 73 anos por complicações de uma cirurgia de remoção de um cisto.
Filme imprescindível: Ladrões de Bicicletas (1948)
Filme esquecível: Umberto D. (1951)
Primeiro filme: Como ator, Il Processo Clémenceau (1917), e, como diretor, Rosa Escarlate (1940).
Último filme: A Viagem Proibida (1974)
Guilty pleasure: O Ouro de Nápoles (1954)
Oscar: Indicado a Melhor Ator Coadjuvante por Adeus às Armas (1957). Vencedor honorário por Vítimas da Tormenta (1946) e de Melhor Filme Estrangeiro por Ladrões de Bicicletas (1948), Ontem, Hoje e Amanhã (1963) e O Jardim dos Finzi-Contini (1971).
Frase inesquecível: (sobre a exibição de filmes na televisão) “Não há ninguém mais preguiçoso do que o público. Quando as pessoas não têm que sair de casa, elas ficam muito felizes. Filmes em casa incentivam o público a não se mexer.”