Sejamos honestos e diretos: estrelar algum filme da saga Crepúsculo não é lá motivo para se gabar, com exceção da quantia depositada em sua conta bancária. Sonho dourado de muitos jovens atores, a presença em uma franquia de sucesso é garantia de ao menos alguns anos de estrelato e muita badalação, suficientes para fazer uma boa poupança. Os melhores, ou mais espertos, aproveitam a oportunidade para ir além, seja em busca de desafios artísticos ou mesmo da fama perene. Já os demais precisam se contentar com o ocaso ao término da tal franquia, sonhando com um futuro revival enquanto perambula em eventos de fãs, aqui e ali. Se você pensou em Taylor Lautner, é por aí!
Sete anos após o lançamento de A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2 (2012), é curioso notar como seus dois protagonistas seguiram caminhos bastante parecidos, no sempre difícil mercado cinematográfico. Tanto Kristen Stewart quanto Robert Pattinson não estrearam nas telonas com a adaptação cinematográfica da série de livros escrita por Stephenie Meyer, mas foi graças a ela que se tornaram mundialmente conhecidos, para o bem e para o mal. Como esquecer das muitas críticas à ausência de expressividade por parte de Stewart, mencionada até mesmo por Woody Allen ao dirigi-la em Café Society (2016) – “ela tem cara de cochilo”, disse o diretor. Ou ainda os diversos ataques à beleza de Pattinson como único meio de garanti-lo diante das câmeras, impulsionado pela reação ao icônico vampiro purpurinado por ele interpretado?
Enquanto existia a saga Crepúsculo ambos seguiram em frente, alheios às críticas, mas ao término da franquia era preciso se (re)afirmar. Foi o que fizeram, curiosamente no mesmo local e data: o Festival de Cannes de 2012.
Reinventar é preciso
Tanto Stewart quanto Pattinson adotaram a mesma tática em sua trajetória pós-Crepúsculo: usaram a popularidade recém-conquistada para conseguir espaço em filmes de diretores autorais, que também se aproveitaram de sua fama para conseguir o orçamento desejado – produtores adoram ter no elenco um nome conhecido do público, desde sempre. Ela se arriscou como nunca (até então) em Na Estrada (2012), dirigido por Walter Salles, enquanto ele protagonizou o cínico Cosmópolis (2012), comandado por David Cronenberg. Ambos os filmes disputaram a Palma de Ouro, ambos saíram de mãos abanando. Mas apresentaram ao mundo personas até então inéditas, e bem diferentes, dos eternos Bella Swan e Edward Cullen. Era o início da reinvenção, para ambos.
Se Pattinson ainda faria mais um filme com Cronenberg – Mapas para as Estrelas (2014) -, Stewart adotou de vez a França após conquistar a crítica local com Acima das Nuvens (2014). Seu sucesso foi tanto que lhe rendeu o César de atriz coadjuvante, feito inédito para uma americana, e mais um filme em parceria com o diretor Olivier Assayas, Personal Shopper (2016). O já citado filme com Woody Allen e outro com Ang Lee, A Longa Caminhada de Billy Lynn (2016), deram continuidade à sua peregrinação pelos filmes autorais.
Já Pattinson foi além e passou a colecionar belas atuações em papéis difíceis e inusitados, como em The Rover: A Caçada (2014), Z: A Cidade Perdida (2016) e, especialmente, Bom Comportamento (2017). Pouco a pouco, desconstruiu a imagem de galã para estabelecer a do ator versátil, que gosta de se arriscar, com uma boa dose de competência. Tudo, uma vez mais, no cenário independente.
O canto da sereia
É claro que a reinvenção de Kristen Stewart e Robert Pattinson não passou despercebida, seja pelos cinéfilos mundo afora ou mesmo pelo mercado, sempre ávido por oportunidades. Não demorou muito para que ambos fossem, de novo, cooptados pelas grandes franquias. Em 2019, Pattinson foi anunciado como o novo Batman em mais um reboot do Homem-Morcego, para a surpresa e empolgação de muitos, e Stewart estrela a nova versão de As Panteras, produzida pela Sony. O ciclo se repete, ainda mais se as esperadas seqüências forem confirmadas.
Ainda é cedo para dizer se Stewart e Pattinson voltarão a se dedicar mais aos blockbusters em detrimento dos filmes independentes, como no início da carreira. Certo é que eles irão lhes exigir mais tempo, com tantos afazeres além da mera atuação em torno de produções de tal porte. De toda forma, a jornada do ex-casal – nas telonas e fora delas – é uma demonstração de como funciona a gangorra do mercado cinematográfico, lidando com altos e baixos de forma a satisfazer necessidades, artísticas e financeiras. Assim caminha Hollywood, antes, hoje e sempre.
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