É, o cinema brazuca está de pernas pro ar, apostando forte em comédias rasteiras, boas de público e ruins de arte. Claro que é bom ver as pessoas indo às salas de exibição conferir os filmes que falam sua língua, mas custava ser menos subserviente aos signos televisivos, aos estereótipos e ao humor diluído? Mas, muita calma nessa hora, pois nem tudo está perdido. Vez ou outra surge algum exemplar de dar orgulho, mas aí ele não emplaca, fica pouco em cartaz, some nas prateleiras de DVD, vira filme de gueto. Onde está a felicidade? No diminuto público que aprecia filmes de qualidade, ou na multidão que gosta dos rasos, mas que justamente por ser numerosa alavanca o mercado? É, nosso cinema está no divã, cheios de complexos, neuras e síndromes. Parece que damos voz a qualquer gato vira-lata que tenha um roteiro esperto sobre alguma bobagem, enquanto os bons artistas ficam anos esperando o financiamento de seus próximos projetos. Os bons filmam pouco por falta de oportunidade. Os oportunistas surfam na onda que vem.
Ninguém aqui é louco de negar os benefícios deste tipo de produto que se convencionou chamar de “globochanchada”, pois ele aquece o mercado interno e chama atenção. Cilada é relevar demais esta corrente apoiada num humor duvidoso, como se ISTO, e SÓ ISTO, representasse cinema brasileiro. Se eu fosse você, abriria mais os olhos, e os sentidos, para a pluralidade do que é feito em nosso território, sairia de vez em quando da fila quilométrica daquele filme com as caras de sempre no multiplex, e daria uma chance para aquele outro que fala sua língua, cuja fila está curta, numa das poucas salas que se abrem às alternativas. É, a velha luta do poderoso dragão da maldade contra o corajoso, porém enfraquecido, santo guerreiro.