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Marvel esmaga!

Publicado por
Rodrigo de Oliveira

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Vim lhe falar sobre a Iniciativa Vingadores”. Desde que Samuel L. Jackson proferiu esta frase na cena pós-créditos de Homem de Ferro, nenhum fã da Marvel conseguiu dormir direito. Seria apenas uma piada ou referência longínqua sobre a super-equipe ou a Marvel realmente estava cogitando levar para o cinema Os Vingadores? Este era o sonho máximo de muitos fãs dos quadrinhos, poder conferir em carne e osso uma reunião entre Homem de Ferro, Hulk, Capitão América, Thor, e outras figuras do panteão de heróis da editora. A resposta veio, primeiramente, com as maiúsculas bilheterias dos filmes solo dos personagens da Casa das Ideias, possibilitando a concretização deste plano. Com isso, e com o Universo Marvel cada vez mais coeso nas telonas, em 2012 finalmente pudemos conferir o que qualquer fanboy (ou girl) sempre quis. E o resultado não poderia ser melhor.

Com direção e roteiro de Joss Whedon (criador de Buffy – A Caça Vampiros), Os Vingadores reúne os heróis da Marvel em uma ameaça que nenhum deles poderia enfrentar sozinho. Quando Loki (Tom Hiddleston), irmão invejoso de Thor (Chris Hemsworth), consegue retornar do limbo que fora jogado, seu principal objetivo é vingança e poder. Aliando-se a uma raça alienígena perigosa, o vilão invade o nosso planeta e se apodera do cubo mágico, uma poderosa fonte de energia que pode abrir um portal para a chegada de um exército que dominará a raça humana. Para salvar o planeta, o diretor da S.H.I.E.L.D. Nick Fury (Samuel L. Jackson) precisa contar com o recém descongelado super-soldado Capitão América (Chris Evans), com o brilhante – mas altamente volátil – cientista Bruce Banner (Mark Ruffalo), com a habilidosa Viúva Negra (Scarlett Johansson), o destemido Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e, claro, o ególatra Tony Stark (Robert Downey Jr.). Com a chegada de Thor, saído direto de Asgard para caçar seu irmão, a equipe parece completa e pronta para atuar. Mas será que estes super-heróis são realmente um time ou uma bomba-relógio, pronta para estourar?

O maior desafio em um longa-metragem que conta com tantos personagens e tantos atores famosos é conseguir dar espaço de tela para cada um deles, sem parecer apenas um grande check list de aparições. Os fãs desejam ver seus personagens favoritos bem representados, os atores querem ter seu momento para brilhar e é necessário, para melhor contar a história, que cada um deles tenha função ativa. Para a alegria dos admiradores do Universo Marvel, Joss Whedon conseguiu se sair bem nesta tarefa improvável. Cada um dos personagens que forma a equipe dos Vingadores, assim como alguns coadjuvantes de luxo, tem tempo para mostrar o que sabe fazer. Mesmo que Tony Stark ainda seja o mestre de cerimônias, com as melhores falas e momentos cômicos, Os Vingadores não é um “Homem de Ferro e seus Super-Amigos”. É verdadeiramente um filme de equipe, com cada um desempenhando seu papel da forma como deveria.

Nada mais normal que, por ser Robert Downey Jr. e por ser o intérprete do herói mais bem sucedido nos cinemas da Marvel, o Homem de Ferro ganhe um pouco mais de destaque que os demais. Suas falas são as melhores, muito porque o personagem tem esta verve irônica e Downey Jr. é um mestre em entregar falas inteligentes, como se fossem as mais corriqueiras. Sua dinâmica com o grupo, e as rusgas principalmente com o Capitão América, fazem muito sentido, observando a personalidade de cada um. Mas Homem de Ferro não é o único a chamar a atenção.

Depois da boa performance em seu filme solo, Chris Evans retorna ao papel de Capitão América mantendo muito bem a característica de bom sujeito de Steve Rogers, o alterego do herói. Sua inabalável confiança nas listras vermelhas da bandeira, na hierarquia e em suas funções de soldado o coloca em rota de colisão com Tony Stark, um sujeito que nunca trabalhou bem com parceiros, muito menos é dado a acatar ordens. O filme peca por não acrescentar muito do processo de adaptação de Rogers no presente, visto que Capitão América ficou congelado durante 70 anos. Algumas piadas acabam dando conta do recado, é verdade. Joss Whedon teve de cortar meia hora de filme e, diz-se que, dentre as cenas deletadas estão mais sequências envolvendo o seu deslocamento nos dias atuais. Seus diálogos com o agente Coulson (Clark Gregg, ótimo) dão conta da idolatria que as pessoas sentem pelo herói do passado.

O Thor de Chris Hemsworth demora a surgir na tela, mas quando aparece, já começa arrebentando com os planos de Homem de Ferro e Capitão América. Tanto que sua presença dá origem a uma das brigas mais bacanas do filme, entre o herói de lata e o Deus do Trovão. Qualquer fã da Marvel sabe que um combate deste quilate não teria graça, visto que Thor é um Deus. Mas a luta convence e é encerrada com um clash de titãs. Quem vence? O escudo mais forte ou o martelo mais poderoso?

Hemsworth está ainda mais a vontade como o herói de Asgard, surgindo inclusive como alívio cômico em alguns momentos. Sua batalha é ainda mais sofrida, pois o seu principal inimigo é o próprio irmão, em mais uma boa performance de Tom Hiddleston. Mais afeito às confusões e malandragens pelas quais seu personagem Loki é conhecido, Hiddleston é um perfeito super-vilão – ameaçador, falante e, claro, querendo dominar o mundo.

A Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, os dois membros mais humanos da equipe, podem perder em poder de fogo, mas tem arcos interessantes. Enquanto a espiã russa precisa ajudar um velho amigo a se livrar da prisão mental em que está enclausurado, o homem das flechas parte para vingança depois de um encontro pouco favorável com Loki. Existe uma certa tensão sexual entre os personagens de Scarlett Johansson e Jeremy Renner, mas nunca isto é devidamente explorado pelo filme – de novo, talvez por falta de tempo.

Samuel L. Jackson finalmente ganha mais tempo para expandir seu Nick Fury, e aparece como um sujeito que é obrigado a seguir certas regras, mas que nem sempre as acata. Mostrando um lado um tanto dúbio de personalidade – no estilo “os fins justificam os meios” – ele é a figura, ao lado do agente Coulson, que sempre acreditou na união daqueles heróis.

No fim das contas, quem surpreende positivamente e rouba o filme assim que surge é o gigante Hulk. No terceiro ato, durante a batalha final, o personagem é responsável pelas cenas mais bombásticas e pelas mais engraçadas também. Mark Ruffalo defende bem o personagem, empregando inteligência ao seu Bruce Banner. Seu approach para o papel é diferente do de Edward Norton. Enquanto em O Incrível Hulk, Banner estava obcecado por descobrir uma cura, neste, o cientista parece ter ficado em paz com seu destino. Mas é no momento em que ele se transforma no grandalhão esmeralda é quando os fãs realmente vibram.

O mais divertido em Os Vingadores é poder ver os heróis dialogando – e brigando – entre si. Isso é bastante normal nas histórias em quadrinhos. Quando heróis se conhecem, partem para as vias de fato antes de se entenderem. E neste quesito, o longa-metragem de Joss Whedon é um prato cheio. É praticamente um todos contra todos, até que eles se acertem e descubram seu inimigo em comum. Isso, claro, para chegarmos à apoteose, quando os heróis se unem para acabar com uma ameaça global. A famosa cena dos Vingadores em círculo, armando-se para enfrentar o inimigo já é antológica para qualquer apreciador da Marvel.

Divertido e altamente escapista, Os Vingadores é o filme que todo fã de quadrinhos sempre quis conferir. Tem seus personagens preferidos muito bem retratados, uma grande ameaça a ser combatida, uma dinâmica interessante entre os heróis e efeitos especiais muito bem realizados. É verdade que demora um pouco a engrenar. Até mostrar os personagens e fazê-los se unir leva uns bons 30 minutos. No entanto, nunca é enfadonho. Pode não ser tão agitado quanto poderíamos esperar no início, mas quando engrena, é uma verdadeira montanha russa.

Feito especialmente para os fãs, não só dos quadrinhos, mas para os do Universo Marvel no cinema, Os Vingadores abre muito bem a temporada de verão dos blockbusters norte-americanos. É bom avisar que existe uma cena durante os créditos que dá um grande gancho para uma continuação, que, de acordo com o sucesso do filme, não deve demorar a aparecer. Faltou só a frase “Avante Vingadores” (Avengers Assemble) para que o programa ficasse completo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

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