Se fosse vivo, James Dean teria completado, no último dia oito de fevereiro, 81 anos. Sua morte repentina aos 24 interrompeu uma carreira meteórica consagrada nos três filmes que protagonizou e uma vida cheia de mitos e fofocas, principalmente os que circundavam sua capacidade artística e sua personalidade complexa. A rebeldia, o gosto pelos riscos, em busca da intensidade da vida, a quebra do padrão do bom mocismo americano são algumas das questões que influenciaram a criação de um jeito de ser muito próprio que juntava intensidade com a capacidade.
James Dean foi a personificação maior da ideia de que entre uma vida intensa e uma longeva, se prefere a primeira opção. Ao lado do esforço para ser livre, corria uma busca intensa, tentando preencher o espaço vazio deixado com a morte de sua mãe, aos nove anos, e o afastamento do pai. Sua paixão pela velocidade era, talvez, uma forma de querer cruzar as barreiras que o separavam destas perdas, tentando – no vencer destes desafios – buscar o reconhecimento não correspondido e o afeto cortado. E assim foi com as sucessivas motos que chegou a colecionar, com os carros “envenenados” até adquirir o famoso Porsche 550 Spyder prata, que foi pintado com o número 130 no capô, e com o qual morreu em 30/09/55 na estrada de Salinas, no estado americano da Califórnia.
Sua capacidade de sedução mobilizou homens e mulheres ao seu redor, e ele soube usar bem este talento criando um universo de admiradores, não apenas entre os que corriam ao cinema para vê-lo na telona, mas também entre atores e diretores. Os mais clássicos foram a paixão que nutriu por Ursula Andrews, a quem convidou para a viagem no Porsche no dia de sua morte, a tentativa frustrada de relacionamento com Pier Angeli, impedida pela mãe de namorar o galã, e a verdadeira adoração despertada em Salvadore Mineo – seu parceiro em Juventude Transviada (1955). Após a morte de Dean, Mineo se envolveu com inúmeros garotos de programa, todos loiros e com o mesmo tipo físico do colega falecido e acabou sendo morto por um deles, esfaqueado em frente ao prédio onde morava. A mistura de sedução, rebeldia e angústia foram canalizadas para a atuação no cinema e para a necessidade gigante de intensidade nos dias de James Dean. Uma dos exemplos mais curiosos disto foi o apelido de “cinzeiro humano” que lhe deram os frequentadores de um bar em Hollywood, pelo costume do ator de oferecer o corpo para apagarem os cigarros.
Fica difícil, com todo este histórico, imaginar James Dean hoje com mais de 80 anos, envelhecido e enrugado (certamente tossindo em função do contínuo vicio do cigarro e do gosto pelas bebidas e vida noturna), fazendo pose de senhor sério e conservador. Os pilares de seu comportamento se baseavam nos valores de contestação da juventude em várias épocas, o que através dos tempos mudou muito pouco. Sempre os jovens querem a liberdade de dizer o que pensam, a inconsequência de quebrar os tabus, sem ter o que colocar no lugar, o questionamento do estabelecido ou o uso do deboche como forma de refletir sobre o cristalizado. Enquanto boa parte destes contestadores vai, com o tempo, se transformar em acomodados pelas circunstâncias da idade adulta, da necessidade de estabilidade ou em nome dos compromissos, outros permanecem para sempre no imaginário das gerações como símbolos desta rebeldia. O morrer cedo talvez seja mais um elemento que contribua para a criação destes mitos, deixando para sempre na memória e nas telas uma imagem que a ferrugem do tempo não consome: eternamente jovens, eternamente lindos, eternamente livres. No fundo um ideal inatingível para a grande maioria, que vê neste culto uma alternativa idealizada as suas limitações.
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