Tata Amaral papo de cinema

Tata Amaral não é filha da também diretora paulistana Suzana Amaral (Hotel Atlântico, 2009). Essa foi a primeira informação, dada pela própria Tata, ao corrigir a sua apresentação, no encontro do Filmes da Minha Vida, projeto que acontece no Lounge da Mostra (Augusta, 1470), durante a programação da 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Nascida em 1960, Tata Amaral estreou com Um Céu de Estrelas (1996), filme ambientado no bairro da Mooca, em São Paulo. Considerada uma das mais importantes cineastas brasileiras, Hoje (2011), seu último longa, levou nada menos do que seis Candangos – inclusive o de Melhor Filme – no 44° Festival de Brasília.

Tata Amaral e Denise Fraga papo de cinema
Tata Amaral e a protagonista de Hoje, Denise Fraga

O destaque que o ambiente urbano tem na filmografia da diretora não é mero acaso. Neta de um gerente de cinema na cidade de Botucatu, frequentadora do Cine Metrópole, no centro da cidade, e assídua espectadora de televisão, foi do contato com produções americanas que nasceu seu gosto pelos filmes. Através da incrível variedade de produções, unicamente possível na indústria americana, Tata recebeu o cinema como uma possibilidade de encantamento e experiência. “Todos os filmes“, diz ela, “são os filmes da minha vida. Até filme ruim, pois nos provoca“.

Com o olhar já aguçado para receber os filmes como instrumento de deleite estético, foi através dos cineclubes, ambiente de formação difundido no Brasil a partir dos anos 30, e da efervescência que tinha seu ícone na imagem de Paulo Emílio Salles Gomes, ferrenho defensor e propulsor do cinema nacional, que a diretora tornou-se cinéfila e solidificou as bases do sua obra. As correntes cinematográficas de renovação, especialmente o neorrealismo italiano, a nouvelle vague e o cinema novo, incutiram em Tata a importância de um cinema social, extraído da e voltado para a realidade. A visão em retrospectiva de Rio 40 Graus (1950), de Nelson Pereira do Santos, obra clássica do cinema novo, a impressionou de forma decisiva. O longa de Nelson permitiu que os espectadores de uma geração reconhecessem em tela histórias do cotidiano, que diziam respeito ao público que conhecia Paris e Londres, mas igualmente àquele que nunca deixara o centro do Rio de Janeiro. O impacto de um cinema que comunicasse no mesmo idioma a fez vislumbrar a possibilidade de uma produção nacional – que acontecia.

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Se é possível dizer que a influência francesa, em especial Acossado (Jean-Luc Godard, 1960) teve em Tata um resultado na estrutura da linguagem cinematográfica, o conteúdo e a decisão da cidade não como mero pano de fundo, mas como protagonista, se originou de Roma: Cidade Aberta (1945) e Alemanha: Ano Zero (1948), ambos de Roberto Rossellini. Títulos fundamentais do neorrealismo, estes títulos fazem da cidade o expoente dos conflitos humanos, das lutas físicas e de ideais. Seja pela construção, destruição ou reconstrução, o ambiente urbano torna-se invólucro do conteúdo. É no meio desse labirinto de marcas ideológicas, de cimento e tijolo, beleza e feiura, onde são esculpidos seus homens, invariavelmente transformados em heróis, em monumentos vivos do ambiente que ajudaram a criar.

(O Papo de Cinema é um veículo oficialmente credenciado na 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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