Os Sapos (2025) chegou aos cinemas na última quinta-feira, 06, pela Livres Filmes. Dirigido por Clara Linhart, o longa-metragem é derivado de uma peça de teatro escrita pela Renata Mizrahi (baseada em experiências reais dela) e de um curta-metragem lançado em 2010 (também dirigido por Linhart). Na trama, Patrícia é envolvida numa série de episódios que escancaram as armadilhas da dependência emocional e a brutalidade da masculinidade tóxica. Convidada para um churrasco de reencontro com ex-colegas de escola, ela descobre tardiamente que a ocasião foi cancelada e decide ficar na casa com o antigo companheiro de aula e sua atual namorada. A chegada de um casal vizinho deixa ainda mais evidentes que naquelas dinâmicas de relacionamento há elementos causando sofrimento e frustração.
Em Os Sapos há dois personagens masculinos. Marcelo, o aparentemente boa praça que mantém um relacionamento aberto e vive falando de uma rotina mais livre e despreocupada. No entanto, ao olhar mais atentamente às suas ações percebemos pequenas rachaduras (que logo viram grandes buracos) nessa imagem de bom moço, a começar pelo “esquecimento” de avisar a amiga que o reencontro da turma havia sido cancelado, passando pela pouca escuta aos incômodos da namorada que provavelmente aceitou ser não monogâmica para lidar com a necessidade dele de se afirmar por meio da conquista, chegando ao apoio imediato ao vizinho cheio de atitudes claramente opressoras.
Há também Cláudio. Outro lobo sob a pele de um cordeiro. Músico, ele não perde a oportuniadade de exaltar a qualidade de vida na serra, assim como não hesita em dar em cima da forasteira e, saberemos adiante, de sufocar sua companheira com um ciúme doentio. Marcelo e Cláudio estão em posições distintas no espectro da masculinidade tóxica, pois enquanto o primeiro tem consciência de reproduzir uma estruturalidade patriarcal nociva, ao menos tentando escutar e melhorar, o segundo é o tipo de homem incapaz de retroceder na sua postura de macho imperialista onipotente. Os Sapos chega num momento em que a toxicidade da masculinidade estereotipada (que não permite diálogo, afeto ou demonstração de fraqueza) é bastante debatida e questionada. Nós do Papo de Cinema fomos procurar outros exempplos de filme sobre isso. Confira.
PSICOPATA AMERICANO
Dirigido por Mary Harron, baseado no romance do mesmo nome de 1991 de Bret Easton Ellis, este longa-metragem tem como protagonista um típíco homem que reproduz padrões nocivos de masculinidade. Patrick Bateman (Christian Bale) é um membro do mercado financeiro norte-americano que vive tendo comportamentos agressivos, demonstrando quilos de misoginia para afirmar a sua posição de macho alfa dominante e não se envergonhando de recorrer à violência dentro de uma lógica selvagem de dominação e conquista. Trata-se de um homem rico e bonito, a quem, supostamente, as mulheres recorrem em busca de um ideal. Assim, se torna um exemplo torto para outros homens que acreditam no conto de fadas sombrio dessa geração de norte-americanos conhecidos como yuppies, os sucessores conservadores dos hippies que deixaram de lado as causas sociais importantes aos seus precedessores e abraçaram o desejo do êxito financeiro e individual.
ATAQUE DOS CÃES
Dirigido por Jane Campion, este longa-metragem começa desconstruindo alguns modelos caros ao faroeste, gênero cinematográfico comumente associado mais ao masculino, ao protagonismo dos homens na luta para desbravar um território “selvagem” e garantir a possibilidade de fixar moradia para construir família. A cineasta neo-zelandesa começa questionando esse cenário social em que os protagonistas acreditam que mostrar vulnerabilidade é fraqueza, no qual parece vigorar de maneira tácita a lei do mais forte. Nele, Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons) são irmãos e comandam a fazenda familiar que receberam de herança. Enquanto o primeiro é um patrão tirânico, respeitado pelos funcionários, o segundo tem um temperamento dócil, sendo ignorado pelos pastores e caubóis. Quando George se casa com Rose (Kirsten Dunst), uma viúva cujo filho adolescente (Kodi Smit-McPhee) é considerado sensível demais para os padrões locais, Phil faz questão de deixar claro que os dois não são bem-vindos na propriedade. Começa então uma batalha silenciosa e feroz pelo poder e nesse campo de batalha o desejo surge como fator decisivo.
BARBIE
Dirigido por Greta Gerwig, este foi um dos principais eventos cinematográficos de 2023. Baseado numa popular linha de brinquedos, ele mostra a boneca mais célebre de todas começando a se sentir incomodada com o mundo supostamente perfeito onde vive. O que Barbie (Margot Robbie) vai encarar é uma jornada de descobertas onde aprenderá valores introjetados a séculos na construção social de gêneros, seu papel como mulher e como Ken (Ryan Gosling) pode ser perigoso quando descobre que no mundo real há uma inversão de valores em relação à Barbieland e os homens são os manda-chuvas. Greta desenha o principal personagem masculino como um imbecil inebriado pela possibilidade de ser imperador, de ter suas vontades feitas num piscar de olhos – chegando a mostrar uma batalha ridícula que somente poderia ser travada por machos tolos sequestrados por ideais retrógrados. E a diretora ainda encontra espaço para mostrar que os homens também são vítimas do machismo, especialmente pela maneira como são “obrigados” a performar certos comportamentos em sociedade.
Percebeu algum padrão nos três filmes citados como exemplos? Sim, os três são dirigidos por mulheres, assim como Os Sapos. Bora para o cinema assistir a uma história que nos faz reftetir sobre esses padrões comportamentais?