Em 26 de abril, Vingadores: Ultimato completou um ano de lançamento. Em meio às comemorações pela data festiva, e os números massivos daquele que se tornaria a maior bilheteria de todos os tempos, os diretores (e irmãos) Joe e Anthony Russo postaram um vídeo feito no dia da première, retratando a reação do público à sequência do confronto final com Thanos. Se você ainda não viu Vingadores: Ultimato é bom evitar o vídeo abaixo, pelos altíssimos spoilers contidos.
“This is the one…”
Here’s one last video from our #Endgame trip down memory lane during this anniversary week…Taken on Joe’s iPhone at the Regency Village Theater at UCLA opening night. Much love to you all. What’s your favorite Iron Man moment from his 10 years in the MCU? pic.twitter.com/mVGQcRxdP9— Russo Brothers (@Russo_Brothers) April 29, 2020
Confesso que chorei ao ver tal vídeo. Copiosamente. Nada a ver com o destino derradeiro de Tony Stark – esta lágrima ficou no próprio cinema, um ano atrás -, mas em relembrar a magia que apenas a sala escura pode proporcionar e o quanto ela faz falta nestes dias duros de quarentena, onde a insensibilidade vem da inexistência do contato diário ao número de mortos que se avoluma dia após dia, desprezado com requintes de perversidade pelo atual governo. O mundo sem cinema é triste, apenas isso.
Não venham me dizer que o streaming está aí para suprir tal lacuna, são experiências completamente diferentes que jamais se equivalem. Dia desses assisti Tempo de Caça, exibido no Festival de Berlim deste ano e já disponível na Netflix. Tenho a mais absoluta certeza que este filme cresceria bastante se visto fosse em uma sala de cinema, graças ao trabalho visual e sonoro da metade final. Ema, novo filme do diretor Pablo Larraín que será exibido no Mubi em 1º de maio, passa pela mesma situação. Trata-se de um belo filme, o qual tive o privilégio de assistir no Festival de Toronto do ano passado, mas que com certeza será prejudicado por não ser visto na imersão de uma sala de cinema, tamanha a hipnose instigada. Ainda assim, vale muito a pena. Só não é a mesma coisa.
Ao longo da minha vida, cheguei à conclusão que sou mais fascinado em ir ao cinema do que propriamente pelo cinema. Não me entendam mal, há filmes que moram eternamente no meu coração e tanto me influenciaram, como formação de caráter e compreensão do mundo. Não consigo me imaginar sem ver filmes, faz parte da minha essência. Mas, por pior que seja o exibido, estar lá já é suficiente. A atmosfera, se perder naquele universo retratado, independente de gênero, país, diretor ou ator. Ir ao cinema é um ritual que faz bem à alma, quase uma necessidade física, suprimida em um rompante. O vídeo dos Russo – não são meus parentes, juro! – escancarou não só o desfecho de Vingadores: Ultimato, mas o tanto que perdemos. Todos.
O cinema não acabará, é claro. Um dia as salas reabrirão e a experiência retornará, talvez diferente e provavelmente sem a mesma diversidade de filmes. Nem me refiro à capacidade reduzida, pois a bem da verdade o mais comum é que as salas estejam muito aquém de sua totalidade mesmo – ecos de uma política equivocada, que prefere lucrar muito a cada ingresso ao invés de massificar a ida de forma a faturar com a quantidade. Mas isto não é exclusividade brasileira, em Portugal também é assim. Há quase quatro meses no país, sendo dois em quarentena, já assisti a três filmes em que era a única pessoa na sala. Três.
Já imaginou ter que assistir a um filme usando máscara, este item essencial do mundo contemporâneo? Inclusive, eis um desafio para as bombonières mundo afora: como fica a pipoca, neste cenário? (Se bem que, pensando bem, isto pode ser uma vantagem!) Se a imersão proposta retornará, conseguiremos nos manter fiéis a ela ao ouvir a tosse de alguém ou o temor da contaminação, e a lembrança de tantos mortos, falará mais alto? Não sei. O cinema retornará, mas nós retornaremos diferentes. O quanto, ainda é cedo para dizer.
Por enquanto, fica a lembrança e a saudade. O cinema faz falta.
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