Em 26 de abril, Vingadores: Ultimato completou um ano de lançamento. Em meio às comemorações pela data festiva, e os números massivos daquele que se tornaria a maior bilheteria de todos os tempos, os diretores (e irmãos) Joe e Anthony Russo postaram um vídeo feito no dia da première, retratando a reação do público à sequência do confronto final com Thanos. Se você ainda não viu Vingadores: Ultimato é bom evitar o vídeo abaixo, pelos altíssimos spoilers contidos.
Confesso que chorei ao ver tal vídeo. Copiosamente. Nada a ver com o destino derradeiro de Tony Stark – esta lágrima ficou no próprio cinema, um ano atrás -, mas em relembrar a magia que apenas a sala escura pode proporcionar e o quanto ela faz falta nestes dias duros de quarentena, onde a insensibilidade vem da inexistência do contato diário ao número de mortos que se avoluma dia após dia, desprezado com requintes de perversidade pelo atual governo. O mundo sem cinema é triste, apenas isso.
Não venham me dizer que o streaming está aí para suprir tal lacuna, são experiências completamente diferentes que jamais se equivalem. Dia desses assisti Tempo de Caça, exibido no Festival de Berlim deste ano e já disponível na Netflix. Tenho a mais absoluta certeza que este filme cresceria bastante se visto fosse em uma sala de cinema, graças ao trabalho visual e sonoro da metade final. Ema, novo filme do diretor Pablo Larraín que será exibido no Mubi em 1º de maio, passa pela mesma situação. Trata-se de um belo filme, o qual tive o privilégio de assistir no Festival de Toronto do ano passado, mas que com certeza será prejudicado por não ser visto na imersão de uma sala de cinema, tamanha a hipnose instigada. Ainda assim, vale muito a pena. Só não é a mesma coisa.
Ao longo da minha vida, cheguei à conclusão que sou mais fascinado em ir ao cinema do que propriamente pelo cinema. Não me entendam mal, há filmes que moram eternamente no meu coração e tanto me influenciaram, como formação de caráter e compreensão do mundo. Não consigo me imaginar sem ver filmes, faz parte da minha essência. Mas, por pior que seja o exibido, estar lá já é suficiente. A atmosfera, se perder naquele universo retratado, independente de gênero, país, diretor ou ator. Ir ao cinema é um ritual que faz bem à alma, quase uma necessidade física, suprimida em um rompante. O vídeo dos Russo – não são meus parentes, juro! – escancarou não só o desfecho de Vingadores: Ultimato, mas o tanto que perdemos. Todos.
O cinema não acabará, é claro. Um dia as salas reabrirão e a experiência retornará, talvez diferente e provavelmente sem a mesma diversidade de filmes. Nem me refiro à capacidade reduzida, pois a bem da verdade o mais comum é que as salas estejam muito aquém de sua totalidade mesmo – ecos de uma política equivocada, que prefere lucrar muito a cada ingresso ao invés de massificar a ida de forma a faturar com a quantidade. Mas isto não é exclusividade brasileira, em Portugal também é assim. Há quase quatro meses no país, sendo dois em quarentena, já assisti a três filmes em que era a única pessoa na sala. Três.
Já imaginou ter que assistir a um filme usando máscara, este item essencial do mundo contemporâneo? Inclusive, eis um desafio para as bombonières mundo afora: como fica a pipoca, neste cenário? (Se bem que, pensando bem, isto pode ser uma vantagem!) Se a imersão proposta retornará, conseguiremos nos manter fiéis a ela ao ouvir a tosse de alguém ou o temor da contaminação, e a lembrança de tantos mortos, falará mais alto? Não sei. O cinema retornará, mas nós retornaremos diferentes. O quanto, ainda é cedo para dizer.
Por enquanto, fica a lembrança e a saudade. O cinema faz falta.