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Os homens de Almodóvar

Publicado por
Matheus Bonez

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Muito se foi falado sobre Pedro Almodóvar ter “perdido a mão” com seu atual filme, A pele que habito. Talvez a incursão pelo suspense, um gênero que o cineasta havia deixado de lado há um bom tempo, tenha sido o motivo das críticas. Mesmo assim, o cineasta não esquece de seu humor negro, da tragicomédia e da atmosfera kitsch que sempre permeia seus trabalhos.

Na trama, um cirurgião plástico (Antonio Banderas, retomando a parceria com o diretor espanhol) inventa um substituto para a pele humana, uma forma de fazer as pazes com o passado, já que sua mulher se suicidou após ter a maior parte do corpo queimado em um acidente de carro. A dona da nova pele é uma mulher cujo passado desconhecemos e que vive aprisionada na casa do médico. Em outro momento, vemos em flashback que a filha do casal ficou traumatizada ao ver a mãe caindo da janela de casa e piorou ainda mais após uma tentativa de estupro que sofreu, o que causou mais um suicídio na família. A partir daí… é bom não contar mais para não estragar as surpresas do roteiro afiado. Mas vale ressaltar: preste atenção como objetos afiados tomam conta da película e o duplo sentido que eles representam.

Má Educação

O interessante é como Almodóvar sempre retrata seus homens de forma negativa e sempre se dão mal em seus filmes. Vide Abraços partidos, Má educação, Carne trêmula, entre outros. Pois é nesse sentido que A pele que habito pode ser comparado a outros filmes do espanhol. Aqui, os integrantes do corpus masculino vivem dramas que não chegam a um final feliz. O médico, por exemplo, apaixonado pela esposa, é traído, vive num dilema (a)moral com a bioética por conta de suas cirurgias, enlouquece e não sabe o que é ser feliz. O estuprador da filha dele também: infeliz por morar no interior e cometendo vários atos ilícitos, acaba preso e torturado pelo médico, que o sequestra após a filha se matar.

O contrário acontece quando seus filmes são estrelados por protagonistas femininas. Ok, Tudo sobre minha mãe retrata o drama da mulher que perde o filho – quer sofrimento maior que esse? Porém, a busca dela pelas origens do garoto acaba, da mesma maneira, chegando a uma jornada por um novo sentido para a vida, o que ela encontra. Da mesma maneira, Penélope Cruz reencontra a mãe morta em Volver e acerta as contas com o passado traumático, ou ainda Kika (no longa homônimo) passa por poucas e boas, de namorados e amantes de caráter dúbio e estupros, até chegar ao final feliz. Há uma unidade na história do cineasta em mostrar a paixão pelas mulheres (muito influenciado talvez pela relação com a própria mãe na vida real) e uma certa aversão pelo mundo masculino, especialmente o heterossexual.

Tudo sobre minha mãe

Então, seja para constatar (ou contestar) esta opinião sobre os homens do cineasta, pelo excelente roteiro, pelas ótimas atuações, pela história excêntrica, pelo suspense quase inédito ou simplesmente por, no fundo, ser o Almodóvar de sempre, A pele que habito é um filme que merece ser visto e revisto como um dos melhores de 2011.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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