Ninguém sabe ao certo o que irá acontecer na noite de 2 de março de 2014, quando serão anunciados os vencedores do 86° Academy Awards. Por mais que prêmios prévios como o Globo de Ouro, o Critics Choice, o Bafta e os dos sindicatos específicos (SAG, DGA, PGA e outros) apontem para algumas direções ao mesmo tempo em que despontam francos favoritos, é sabido, por esse quase um século da existência do Oscar, que surpresas de última hora sempre podem acontecer. Afinal, você sabia que apenas 3 filmes em todos esses anos ganharam o prêmio principal sem ter sido sequer indicado em Direção – e um deles foi justamente Argo (2012), no ano passado? Ou como explicar o fato de Kevin Kline ter ganho, como Melhor Ator Coadjuvante, por Um Peixe Chamado Wanda (1988), sem ter sido nem ao menos indicado a qualquer outro prêmio anterior?
Com um retrospecto como esse, o máximo que podemos fazer é brincar de adivinho. E foi justamente isso que a Equipe Papo de Cinema fez: não escolher os seus favoritos pessoais, mas, sim, investir naquele que cada um acredita ter mais chances de vitória. Abaixo indicamos os mais prováveis vencedores do Oscar 2014 na opinião do editor-chefe Robledo Milani (RM), dos co-editores Marcelo Müller (MM), Matheus Bonez (MB) e Rodrigo de Oliveira (RO), e dos críticos Renato Cabral (RC), Thomas Boeira (TM), Yuri Correa (UC), Eduardo Dorneles (ED), Willian Silveira (WS), Danilo Fantinel (DF), Conrado Heoli (CH) e Dimas Tadeu (DT). Confira nossas apostas e boa sorte no bolão!
O texto de Spike Jonze parece imbatível, com uma mínima possibilidade de Alexander Payne – já premiado duas vezes nessa categoria – roubar a festa. David O. Russell e Eric Warren Singer (Trapaça), Craig Borten e Melisa Wallack (Clube de Compras Dallas) e o veterano Woody Allen (Blue Jasmine) estão virtualmente sem chances.
Esta é uma das poucas categorias em que o drama sobre a escravatura nos EUA parece como favorito. Mesmo assim, outro filme baseado em um fato real, porém bem mais contemporâneo, pode surpreender. O vencedor do Writers Guild Award, Capitão Phillips, e os atores Steve Coogan (Philomena) e Julie Delpy e Ethan Hawke (Antes da Meia-Noite), todos concorrendo também como escritores, devem ser nada mais do que figurantes nessa categoria.
Uma das poucas unanimidades entre os críticos do Papo de Cinema, o drama filosófico-espacial é uma aposta certa nesta categoria. O super-herói Homem de Ferro 3, o mundo mágico de O Hobbit: A Desolação de Smaug, a ficção-científica Além da Escuridão: Star Trek e as aventuras no velho oeste de O Cavaleiro Solitário até podem ter empolgado as plateias, mas não devem fazer a cabeça dos eleitores do Oscar.
É praticamente certa a vitória da aventura comandada por Sandra Bullock, mas o segundo episódio da nova trilogia sobre a Terra Média corre por fora. O tenso Capitão Phillips, o lírico Inside Llewyn Davis e o drama de guerra O Grande Herói fizeram bonito para estarem entre os finalistas, e suas presenças já podem ser consideradas verdadeiras vitórias.
Outra unanimidade, e novamente a favor do épico dirigido por Alfonso Cuarón, que até o momento já faturou mais de US$ 700 milhões nas bilheterias de todo o mundo. Ainda que Robert Redford vá Até o Fim, que Tom Hanks dê vida ao Capitão Phillips, que Mark Wahlberg seja O Grande Herói e que Martin Freeman volte ao universo fantástico de O Hobbit: A Desolação de Smaug, suas possibilidades de sucesso aqui são mínimas.
Finalmente uma categoria em que, de fato, qualquer coisa pode acontecer. O curta espanhol vencedor do Goya sai um pouco na frente, enquanto que o belo francês indicado ao César também tem boas chances. O emocionante trabalho dinamarquês vem logo em seguida, com o curta inglês, indicado ao Bafta, também com boas chances. O único realmente sem chances é finlandês Pitääkö mun kaikki hoitaa?, que causou surpresa até mesmo por ter sido lembrado entre os finalistas.
Indicado somente em categorias técnicas, o remake do romance de F. Scott Fitzgerald é o favorito pelo impressionante trabalho de Catherine Martin. Os malandros dos anos 1970 comandados por David O. Russell possuem, no entanto, charme suficiente para roubarem a festa, assim como o futuro retrô visto por Spike Jonze ou o solitário espaço de Alfonso Cuarón. A jornada histórica de 12 Anos de Escravidão, no entanto, não deve gerar maiores expectativas.
A nova animação dos Estúdios Disney, que está batendo a marca do US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo, é o absoluto favorito. A simpática composição do próprio diretor Spike Jonze, no entanto, corre por fora, enquanto que a música escrita e interpretada pela banda U2, ainda que tenha vencido o Globo de Ouro, teve suas chances reduzidas pelo fraco desempenho dessa cinebiografia do ex-líder da África do Sul entre os votantes do Oscar. Já a canção de Pharrell Williams, por Meu Malvado Favorito 2, não tem a menor chance.
Muito do impacto que o filme de Alfonso Cuarón provoca no espectador se dá pela bela trilha sonora, e isso não passou desapercebido. Os músicos do Arcade Fire, no entanto, podem surpreender ao acompanharem a paixão de Joaquin Phoenix pela voz de Scarlett Johansson. Por fim, o veterano Alexandre Desplat, nesta que é sua sexta indicação – sem ter ganho ainda – se apoia em seu histórico para garantir alguma simpatia. John Williams (já premiado 5 vezes), por A Menina que Roubava Livros, e Thomas Newman (indicado 12 vezes, sem nunca ter sido premiado), por Walt nos Bastidores de Mary Poppins, garantiram as únicas indicações para seus filmes, e não devem ir muito além disso.
As transformações vividas pelos protagonistas Matthew McConaughey e, principalmente, Jared Leto, são mais do que suficientes para garantirem a vitória do trabalho de Adruitha Lee e Robin Mathews. Mas o que Stephen Prouty fez na comédia de Johnny Knoxville pode surpreender. No entanto, as pinturas tribais de Johnny Depp em O Cavaleiro Solitário não possuem uma torcida muito entusiasmada.
Com a ausência de Azul é a Cor Mais Quente, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e impossibilitado de concorrer por não ter sido selecionado pela França, o favoritismo absoluto foi a o representante italiano, que deixou pouco espaço para os concorrentes da Dinamarca e da Bélgica. Já Omar, da Palestina, e A Imagem que Falta, do Camboja, devem se contentar apenas com o fato de terem sido lembrados.
Alfonso Cuarón, além de concorrer nas categorias de Melhor Filme (como produtor) e de Direção, marca presença também pelo seu trabalho como editor, e muito provavelmente sairá da festa com as três estatuetas nas mãos. Christopher Rouse, responsável pela montagem do filme de Paul Greengrass, e a equipe que ordenou a história de David O. Russell correm por fora, com chances reduzidas. Mas ainda assim em posições melhores que as dos dramas 12 Anos de Escravidão e Clube de Compras Dallas, ambos também indicados na categoria principal.
Mais uma provável vitória de Catherine Martin, esposa do diretor Baz Luhrmann. Ao que tudo indica, ela irá repetir as mesmas conquistas já obtidas por seu trabalho mais famoso, o visto no musical Moulin Rouge (2001). Já o que Michael Wilkinson faz nesta sua primeira indicação é deslumbrante e colabora definitivamente com o sucesso de sua história. Patricia Norris, premiada no sindicato dos figurinistas, também não pode ser desprezada, assim como o visual do épico chinês. Michael O’Connor, de The Invisible Woman, no entanto, já ganhou anteriormente nesta categoria e responde pela única indicação do seu filme, o que por si só é um feito a ser comemorado.
Como ignorar o impressionante e arrebatador trabalho de Emmanuel Lubezki, que deve finalmente ser reconhecido por esta que é sua sexta indicação? Somente o deslumbrante registro em preto e branco de Phedon Papamichael para lhe fazer frente. Bruno Delbonnel, de Inside Llewyn Davis, Philippe Le Sourd, de O Grande Mestre, e o veterano Roger Deakins, de Os Suspeitos, apresentam visuais deslumbrantes e com um cuidado raro, porém não devem ir além da mais que merecida indicação.
Documentário em Curta-metragem
Uma senhora com mais de 100 anos de idade, sobrevivente do Holocausto e que fez da sua vida uma ode à música? Como não premiá-la? No entanto o drama da revolução no Yemen e o preconceito homossexual também são temas de relevância e grande interesse. Sendo assim, Cave Digger, sobre um escultor de cavernas, e Prison Terminal, sobre o cotidiano em uma prisão de segurança máxima nos EUA, devem garantir respeito pela forma, mas ficam em desvantagem devido ao conteúdo abordado.
Documentário em Longa-metragem
Os cinco indicados deste ano chegam com força e muito impacto. No entanto, o mais revolucionário é, de fato, o filme de Joshua Oppenheimer, já tendo obtido mais de 30 premiações durante toda a sua carreira. Ainda assim, o importante registro sobre o fim da ditadura no Egito também possui entusiasmados admiradores. Correndo por fora, um olhar sobre quem geralmente costuma ficar nos bastidores é o que oferece o trabalho de Morgan Neville, e uma premiação aqui pode ser uma via alternativa que celebre a arte em confronto com a morte. Cutie and the Boxer, de Zachary Heinzerling, e Guerras Sujas, de Rick Rowley, merecem suas indicações, porém não obtiveram repercussão suficiente para fazerem frente aos demais concorrentes.
Um desenho animado estrelado pelo carismático Mickey Mouse e dublado pelo próprio Walt Disney? Como não premiá-lo? No entanto, em seu caminho há uma bruxa simpática, o grande vencedor do Anima Mundi e um senhor de hábitos muito estranhos. O oriental Tsukumo é o legítimo ‘estranho no ninho’, e não deve representar perigo para nenhum dos demais indicados.
Entre o mestre japonês Hayao Miyasaki em seu derradeiro trabalho e o desenho animado de maior bilheteria do ano nos EUA, o verdadeiro favorito é o aquele que irá representar a primeira vitória legítima dos Estúdios Disney – o mais tradicional realizador de animações em Hollywood – nesta categoria. Ainda assim, é de se lamentar a inexistência de chances do irreverente Os Croods e do francês Ernest & Celestine, dois filmes que, em outros anos, poderiam ter melhores chances de vitória.
Se Jennifer Lawrence ganhou o Globo de Ouro e Julia Roberts está no melhor desempenho de sua carreira, isso pouco parece importar: será a novata Lupita Nyong’o a premiada neste ano. A veterana June Squibb e a inglesa Sally Hawkins, ambas em suas primeiras indicações, devem se contentar apenas com a lembrança.
Michael Fassbender, ignorado recentemente por Shame (2012), está arrebatador em 12 Anos de Escravidão, ao mesmo tempo em que Bradley Cooper compõe, em Trapaça, o tipo mais frágil e detalhado de sua carreira. Os dois, no entanto, não possuem chances frente ao estreante Barkhad Abdi, em seu primeiro trabalho no cinema, ou ao comediante Jonah Hill, novamente apostando num registro mais sério. Mas revolucionário mesmo é o trabalho de Jared Leto, vocalista da banda de rock 30 Seconds to Mars e que estava há cinco anos sem atuar, que faz do travesti Rayon um personagem tridimensional e irresistível.
A última das unanimidades entre a Equipe Papo de Cinema, Cate Blanchett, como a protagonista do filme de Woody Allen, está anos-luz à frente de suas concorrentes. Não que as veteranas Meryl Streep e Judi Dench, a campeã de bilheterias Sandra Bullock ou a talentosa Amy Adams não estejam bem – apenas não conseguem fazer frente ao arrebatador desempenho da atriz australiana.
Matthew McConaughey vem construindo uma virada em sua carreira nos últimos anos, deixando de lado comédias românticas óbvias e se dedicando a trabalhos mais desafiadores, e o ponto alto dessa mudança de rumo é justamente este desempenho, que exigiu um incrível comprometimento – inclusive físico – do intérprete. Sem tantas transformações e contando apenas com seu incrível talento, Leonardo DiCaprio também apresenta uma performance hipnotizante, que justificaria uma vitória nesta que é sua quarta indicação. Já Chiwetel Ejiofor é o estreante na categoria. Bruce Dern, já indicado décadas atrás como Coadjuvante, e Christian Bale, dono de um Oscar, marcam presença sem ameaçar o favoritismo dos demais.
Muitos são fãs da incrível carreira que Martin Scorsese construiu em mais de 40 anos e apontam este seu mais recente filme como um dos melhores já feitos por ele, ao mesmo tempo em que outros tantos ficaram impressionados com o competente resultado apresentado por Steve McQueen neste drama baseado em fatos reais. Mas o prêmio deste ano está destinado ao mexicano Alfonso Cuarón, o absoluto favorito – e com justiça! Alexander Payne e David O. Russell, ambos já indicados em edições anteriores, certamente voltarão a concorrer no futuro. E, quem sabe, em melhores condições.
A disputa está, realmente, equilibrada. Se a Equipe Papo de Cinema pende ligeiramente para a jornada espacial e filosófica de Gravidade, não se pode descartar os que apostam na relevância histórica de 12 Anos de Escravidão. Correndo por fora, o frenético O Lobo de Wall Street também possui seus admiradores, e pode, sim, surpreender. O que não deve acontecer nos casos de Capitão Phillips, Clube de Compras Dallas, Ela, Nebraska, Philomena e até mesmo Trapaça, títulos que ajudaram a compor um ano de ótimos filmes.