INDICADOS
Em linha gerais, esta categoria privilegia histórias baseadas em obras já lançadas em outras plataformas, seja através da literatura, televisão, o próprio cinema, ou ainda, em continuações. Num ano em que as cinebiografias tomam conta dos cinco selecionados ao Melhor Roteiro Adaptado do ano, chega até soar estranho que o script não pertencente ao gênero (e o mais controverso de todos) seja o que lidera as apostas. Você pode conferir inclusive na imagem em que editamos o quinteto de indicados que o único sem capa de livro é Whiplash: Em Busca da Perfeição. Pois bem. Como já revelei de cara que o filme é o franco favorito, vamos primeiro às estatísticas antes das explicações técnicas e subjetivas.
Em primeiro lugar, quatro dos cinco nomes lembrados aqui são estreantes no Oscar. Jason Hall adaptou a autobiografia do militar Chris Kyle para Sniper Americano, rendendo indicações ao Bafta e ao Sindicato dos Roteiristas dos EUA. Por sinal, os sindicalizados escolheram o script do inglês Graham Moore, que adaptou o livro Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges, em O Jogo da Imitação. Vencedor do Bafta, Anthony McCarten transformou a autobiografia de Jane Hawking em A Teoria de Tudo. Fechando esta lista, Damien Chazelle expandiu o curta de mesmo nome, vencedor do Festival de Sundance, e temos Whiplash: Em Busca da Perfeição. O único veterano aqui é Paul Thomas Anderson, que já foi indicado seis vezes ao prêmio da Academia (três por Roteiro Original) e estreia na categoria de Roteiro Adaptado com Vício Inerente.
Numa categoria em que nenhum dos indicados é favorito ao prêmio máximo da noite, a aposta pode ser duvidosa. Ainda mais que o filme de Damien Chazelle gerou discussões sobre o porquê da Academia tê-lo indicado aqui e não a Roteiro Original. A explicação parece simples: o longa é uma expansão do curta-metragem de 2013 que venceu o Festival de Sundance. Por sinal, onde a produção também angariou prêmios no início do ano passado. Entre a confusão de adaptação e originalidade, Whiplash levou vários prêmio da crítica e foi indicado ao Sindicato dos Roteiristas e ao Bafta (como original). Na falta de uma certa “garota exemplar” aqui, o longa independente foi o que mais gerou buzz em diversos aspectos. Parece até uma manobra da Academia para apontar que vão mesmo premiar esta história, como uma estatueta de consolação para apontar a aparente genialidade do autor. Afinal, misturar música com um explosivo jogo psicológico não é tarefa para qualquer um. Então, o Oscar vai para mãos mais do que merecidas.
O longa foi indicado a oito Oscar, mas não ganhou praticamente nada desde que a temporada de prêmio começou. O conta a seu favor: o fato de ser uma cinebiografia (a Academia adora uma história real) e ter levado, no fim de semana, o prêmio do Sindicato dos Roteiristas, que é o maior chamariz justamente por boa parte dos votantes ali também ser parte do júri do Oscar. Ainda assim, o público norte-americano não comprou muito o filme e a polêmica envolvendo o toque superficial sobre a vida pessoal do homenageado pode causar divisão nos votos. Neste caso, até A Teoria de Tudo pode chamar mais atenção.
Apesar de ser o único com histórico de indicações ao Oscar, Paul Thomas Anderson tem um grande revés com sua obra: ninguém viu. Ou melhor, pouquíssimos assistiram. A Academia parece gostar muito dele, mas, ao mesmo tempo, fica divida por seu texto não atingir o grande público, algo que os votantes prezam demais. Ganhar o National Board of Review não é indicativo nenhum aqui. Porém, não seria nenhuma injustiça se levasse a estatueta para casa.
Não dá para entender o que tinha na cabeça do votantes quando a lista de indicados foi anunciada. Gillian Flynn adaptou o próprio livro e entregou um dos quebra-cabeças mais interessantes do ano no mercado cinematográfico. É ainda mais estranho por diversos motivos: a obra é um best-seller literário, o filme foi sucesso de público e crítica, David Fincher é querido pela Academia. Misturar casamento de aparências, sensacionalismo midiático e socio/psicopatia numa engrenagem monstruosa é um feito raro de ser bem realizado em Hollywood, algo que não só a própria autora conseguiu, mas o filme como um todo. Isso me faz lembrar: cadê a indicação a Melhor Filme também? Critérios misteriosos do Oscar. Ainda sobre isto, vale uma menção honrosa: por pouco Guardiões da Galáxia também não entrou aqui. Ou seja, o preconceito contra histórias em quadrinhos de ação e comédia continua, mesmo o roteiro tendo sido indicado ao Sindicato dos Roteiristas. Shame on you, senhor Oscar, shame on you.
Confira a lista completa de indicados e as chances de cada um no nosso Especial Oscar 2015