INDICADOS
Não dá para reclamar, pois os concorrentes a Melhor Roteiro Original no Oscar deste ano são cinco pesos-pesados. Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Armando Bo e Alexander Dinelaris, turma que levou para casa o Globo de Ouro por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), segue firme rumo à estatueta mais cobiçada. Mas, um pouco à frente está Richard Linklater e seu Boyhood: Da Infância à Juventude, filme no qual a força do roteiro aparece sobremaneira. Dan Futterman, por Foxcatcher: A História que Chocou o Mundo, e Dan Gilroy, por O Abutre, seriam escolhas igualmente (ou até mais) acertadas, mas talvez a Academia se retraia frente à visão sombria de ambos acerca da sociedade norte-americana. O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, pode ser acusado de tudo, menos de não ter um roteiro esperto e completamente afinado à proposta de encenação. Portanto, aqui, seja para quem for, o Oscar estará em boas mãos.
Richard Linklater caminha a passos largos para levar seus primeiros Oscar por Boyhood: Da Infância à Juventude. A inusitada produção, sem dúvida, é um dos atrativos, mas felizmente nem de longe o único. O roteiro costura as diversas fases da vida daquele que vemos de menino a adulto, sem fazer alarde, tratando transições, conflitos, momentos de felicidade, como parte orgânica do cotidiano, não lhes dando dimensão de evento. Muitos, inclusive, têm feito objeções ao caráter despojado. Mas, provavelmente, é nesse aparente desinteresse em tornar tudo espetacular que mora a grande força do roteiro construído paulatinamente, ao sabor das improvisações e dos imprevistos.
Minha torcida vai para o longa de Dan Gilroy, embora saiba da remota probabilidade de reconhecimento ao excelente trabalho. Aliás, este é o mais injustiçado dos filmes do ano pela Academia. O roteiro preciso, que mostra a obsessão do protagonista por sucesso ao mesmo tempo em que faz dele uma radiografia da sociedade ávida por sangue, deveria ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original. Os demais concorrentes também são merecedores, temos, como dito na introdução, um time forte, mas premiar Gilroy seria celebrar, talvez como em nenhum outro da leva, tanto estrutura quanto conteúdo.
Bastante elogiado por boa parte da crítica, vencedor do Bafta (concedido pela Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão), o roteiro escrito por Wes Anderson, cineasta cuja forma de expressão não apenas visual, mas também dramatúrgica, é bastante singular, tem chances, ou seja, melhor não descartar sua vitória. Anderson carrega fama (e tiques) de autor, trabalha com uma série de atores conhecidos, além de ser uma espécie de indie querido da indústria, já que seus filmes geralmente não dão prejuízo. Nesse cenário, certamente possui fôlego para disputar o páreo, cabeça a cabeça.
Novamente falando de um estrangeiro que merecia, ao menos, figurar entre os cinco, cito Dois Dias, Uma Noite, dos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Não é apenas a interpretação (também digna de louros) de Marion Cotillard, ou mesmo a encenação que dão força ao filme, mas também o roteiro milimétrico, a forma como o encadeamento das circunstâncias e o texto no limite da concisão fornecem a base necessária para a trama se desenvolver com potência pessoal e social. pena a Academia ter um olhar muito restrito, no mais das vezes voltado apenas ao próprio território, ou aos que falam sua língua.
Confira a lista completa de indicados e as chances de cada um no nosso Especial Oscar 2015