INDICADAS
O Oscar de 2016 foi marcado por uma forte polêmica a respeito da não presença de atores negros entre os indicados. A hashtag #oscarsowhite, amplamente utilizada nas redes sociais, foi apenas um dos sinais dessa insatisfação que felizmente propiciou um debate amplo sobre a representatividade das chamadas minorias no colegiado da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A resposta da instituição foi a inclusão, em julho do ano passado, de 683 novos membros em seu corpo de eleitores, sendo destes 283 estrangeiros, 46% mulheres e 41% de não brancos. O resultado da medida pode ser sentido já na edição 2017, que parece realmente mais aberta a questões referentes a diversos estratos da sociedade. A lista da categoria Melhor Atriz Coadjuvante é o grande exemplo dessa força valorizada. Das cinco indicadas, nada menos que três são negras.
Naomie Harris interpreta uma mãe viciada em Moonlight: Sob a Luz do Luar; Viola Davis reprisa no cinema o papel que lhe deu prêmios no teatro, em Um Limite Entre Nós; Octavia Spencer vive uma das mulheres essenciais aos êxitos dos Estados Unidos na corrida espacial durante a Guerra Fria, em Estrelas Além do Tempo. Juntam-se a esse time já bastante respeitável, as atrizes Michelle Williams, numa das atuações mais elogiadas da temporada, em Manchester à Beira-Mar, e Nicole Kidman, coadjuvante no drama Lion: Uma Jornada para Casa, vivendo a mulher que adota o protagonista. Seja qual for o nome que conste no envelope, a categoria estará bem representada. Sem mais delongas, vamos à análise.
Parece que não vai ter, mesmo, para ninguém. Primeira atriz negra a ser indicada três vezes ao Oscar, Viola é a favorita para levar a estatueta para casa. De uns anos para cá, ela tem enfileirado trabalhos elogiados, participado de produções respeitadas, artística e/ou comercialmente, isso sem contar no seu igualmente incensado protagonismo na série de televisão How to Get Away with Murder (2014 -). Não fosse o desempenho brilhante em Um Limite Entre Nós, ela mereceria ganhar, de qualquer maneira, nem que fosse pelo conjunto da obra. O Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pode coroar essa trajetória brilhante, feita majoritariamente de papeis marcantes, mesmo quando o tempo de tela é escasso. Viola é atualmente um dos nomes mais importantes do cinema norte-americano. Como seria (será?) bonito vê-la agradecendo emocionada no palco. Se depender dos indícios – ela venceu o SAG Awards e o Globo de Ouro – e da nossa torcida, Viola já pode preparar o discurso.
Ela tem pouco tempo no longa-metragem de Kenneth Lonergan, o suficiente para participar de uma das cenas mais emocionalmente devastadoras do ano. Indicada ao BAFTA, ao SAG Awards e ao Globo de Ouro, para mencionar apenas os prêmios de maior destaque, Michelle Williams já teve seus esforços devidamente reconhecidos, mesmo sem vencer nenhum dos certames. E, por que acreditamos nela como possível azarão na festa do próximo dia 26? São diversos os motivos, que vão desde a vontade coletiva de coroar uma carreira repleta de bons papeis – esta é a sua quarta indicação ao Oscar –, passando por aspectos menos cinematográficos, por assim dizer, como sua simpatia e popularidade no meio (sim, isso conta), chegando até uma possível polarização de votos entre as demais candidatas, o que poderia lhe favorecer. Não seria absurdo vê-la subir ao palco sob os aplausos de seus pares. Improvável? Pode ser, afinal de contas Viola Davis, principalmente, tem muitos fatores a seu favor. Mas não é impossível.
Sandra Hüller é tão (ou mais) protagonista do filme de Maren Ade quanto Peter Simonischek, nós sabemos bem. Acontece que não são raros os casos em que produtores determinam um estratégico deslocamento de categoria para os intérpretes terem mais chances de vitória no Oscar. Então, bem que a atriz alemã poderia figurar entre as cinco indicadas a Melhor Atriz Coadjuvante. Seu desempenho como a mulher de negócios empedernida, inclusive pelo predatório mundo do business, com severas dificuldades para lidar com o pai brincalhão, poderia muito bem lhe render, ao menos, uma lembrança desse porte. E já que entre as protagonistas seria mais complicado, por que não cavando essa vaguinha entre as coadjuvantes, não é mesmo? As cenas dela provando iguarias temperadas com um condimento, no mínimo, insólito, dela imitando Whitney Houston a plenos pulmões, como maneira de atingir uma catarse e, sobretudo, a do aniversário inesquecível, são mais que suficientes para torna-la apta a ficar ombro a ombro com as que foram escolhidas.