INDICADOS
Denzel Washington. Matt Damon. Pharrell Williams. Três astros renomados em seus campos de atuação – os dois primeiros como atores, o terceiro como músico – que neste ano poderão receber um troféu inédito em suas coleções: o Oscar de Melhor Filme. Sim, pois são eles os produtores de três dos nove concorrentes de 2017. Mas há mais fatos curiosos entre os indicados desta categoria. Scott Ruddin é o recordista de nominações – esta é sua oitava – e já ganhou uma vez, como Melhor Filme por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007). Marc Platt está em sua segunda indicação consecutiva – ano passado ficou entre os finalistas por Ponte dos Espiões (2015). Ian Canning e Emile Sherman (O Discurso do Rei, 2010), Dede Gardner e Jeremy Kleiner (12 Anos de Escravidão, 2013) e Donna Gigliotti (Shakespeare Apaixonado, 1999) também já possuem um troféu na estante, e, assim como Ruddin, podem garantir agora uma segunda vitória – dos 30 indicados nesta categoria, o único que possui dois Oscars no currículo até agora é Washington (e os dele foram conquistados atuando, e não produzindo).
Mas quem tem, realmente, chances de vitória? Sim, pois seria ingenuidade demais acreditar que os nove indicados estão competindo de forma equilibrada. Desde que a Academia decidiu aumentar o número de finalistas, de cinco – como todas as demais categorias – para até dez títulos, criou-se uma disparidade. Afinal, a categoria correlata de Melhor Direção continua com apenas cinco indicados. E seria absurdo premiar um filme não dirigido por um dos cinco melhores realizadores do ano, certo? (Ou não, afinal, Argo, 2012, está aí para nos contradizer).
De qualquer forma, A Chegada, Até o Último Homem, La La Land, Manchester à Beira-Mar e Moonlight saem na frente na bolsa de apostas. La La Land, por ser o campeão de indicações, está ainda um passo à frente dos demais. Porém, não se engane: Estrelas Além do Tempo acabou de ganhar o prêmio de Melhor Elenco pelo Sindicato dos Atores – e como mais da metade dos votantes da Academia são intérpretes, e este é o favorito da classe, quem sabe não estaria aí uma inesperada tendência de premiação? Vamos, portanto, à análise detalhada de cada um dos nove finalistas – e descobrir, ainda, qual foi o esquecido que merecia estar nessa lista (muito mais que alguns dos de fato indicados, aliás).
São nada menos do que 14 indicações. Apenas dois outros filmes em toda a história da premiação, A Malvada (1950) e Titanic (1997), alcançaram esse número (e os dois foram premiados aqui). Além disso, já levou quase todos os prêmios que disputou até o momento: Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, Sindicato dos Produtores, Satellite e os troféus dos críticos de Atlanta, Boston, Central Ohio, Detroit, Houston, Iowa, Las Vegas, Londres, Nova York, Carolina do Norte, Texas do Norte, Oklahoma, Phoenix, St. Louis, Utah e Washington. É o filme a ser derrotado, portanto. E, pelo que parece, nenhum dos seus concorrentes parece ter fôlego suficiente para isso.
Produzido por Brad Pitt (que ficou de fora da indicação por assinar como produtor executivo), que já ganhou o Oscar nesta categoria por 12 Anos de Escravidão, este pequeno e notável conto geracional já levou o Globo de Ouro de Melhor Drama e foi o favorito dos críticos de Austin, Boston Online, Chicago, Dallas-Fort Worth, Denver, Georgia, Indiana, Los Angeles, Nova York Online, Phoenix, São Francisco, Seattle, Southeastern e Toronto, além do Gotham, Sociedade Nacional dos Críticos, Sociedade Nacional de Críticos Online e ser o favorito ao Independent Spirit. Sem falar de todas as associações voltadas às produções afro-americanas e com conteúdo LGBT. E como estamos no primeiro ano após a polêmica do #OscarSoWhite em que se busca um maior reconhecimento às minorias, este filme preencheria bem este espaço há tanto vago (em 88 anos de Oscar, nunca um longa de temática gay foi premiado). Sem falar, é claro, que merece essa vitória. Merece muito, aliás.
Qual foi o último longa de ficção-científica a ganhar o Oscar de Melhor Filme? Exato: nenhum. E se nem Avatar (2009), o favorito do seu ano, conseguiu esse feito, quem colocaria todas as suas fichas neste título dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, que, apesar de suas oito indicações, falhou justamente numa das mais importantes, a de Melhor Atriz para sua protagonista Amy Adams, presente, certamente, em mais de 90% das cenas? Indicado a praticamente tudo, levou quase nada (foi o Melhor Filme de Ficção-Científica/Horror do Critics Choice). Mas merecia, pois é eficiente o suficiente para reinventar um gênero há muito desgastado pelos clichês mais óbvios e por encantar até mesmo os mais reticentes a este tipo de trama. Se não fosse o já notório preconceito dos votantes da Academia, certamente tinha tudo para conquistar o troféu principal. Não deve ser o caso, no entanto, o que não deixa de ser uma tremenda injustiça.
Este foi o melhor filme do ano pelo National Board of Review, um reconhecimento importante, porém não o suficiente para que colocá-lo na disputa entre os favoritos. Muito disso se deve ao destaque que dois dos seus méritos – a atuação do protagonista Casey Affleck e o roteiro do diretor Kenneth Lonergan – que têm tudo para vencer em suas categorias específicas, o que pode levar muitos dos votantes a pensar que esses são troféus suficientes para o filme. Ainda assim, a sensibilidade de uma narrativa capaz de se comunicar com os mais diversos tipos de público, a excelência de todo o elenco (seus dois coadjuvantes também estão indicados) e uma direção precisa e, ao mesmo tempo, pouco ostensiva, são outras qualidades que, no momento final, podem acabar pesando a seu favor.
De todos os finalistas do ano, este é o com o menor número de indicações: apenas três. Então, o que o levaria a correr por fora e, num último minuto, se posicionar como um candidato real de peso? Três motivos: (1) foi o grande vencedor do Sindicato dos Atores, (2) dos nove indicados é o com maior bilheteria nos EUA, com mais de US$ 137 milhões até o momento, e (3) aborda uma história real apropriada a estes tempos em que, finalmente, busca-se dar mais atenção às tramas e artistas que se encaixam em grupos minoritários – no caso, os afrodescendentes. Está longe, no entanto, de ser o melhor, mas quando os atores, o público e a consciência social se manifestam juntos numa mesma direção, quem pode afirmar que estão equivocados?
Há mais de duas décadas, Mel Gibson levou dois Oscars para casa – Melhor Filme e Direção – pelo épico Coração Valente (1995). Naquele momento, ele era, indiscutivelmente, o dono de Hollywood. Escolhas erradas, declarações infelizes, passagens pela polícia e uma tendência quase irresistível para se meter em polêmicas e confusões quase o fizeram ser banido da meca do cinema mundial. Portanto, vê-lo novamente incluído entre os melhores do ano já é, por si só, uma vitória. E creia, ele que se dê por satisfeito – afinal, esta produção cujos únicos méritos são as sequências finais durante a Segunda Guerra Mundial não possui nada de excepcional para figurar nessa tão seleta lista. Para constar, foi premiado como Melhor Filme de Ação no Critics Choice e como Melhor Filme do ano pela Academia e pelo Instituto de Cinema da Austrália – terra natal do diretor, aliás.
Que boa surpresa! Concorrente em apenas quatro categorias, esta pequena obra-prima do diretor David Mackenzie merecia ser finalista em muitas outras – Direção, Fotografia, Trilha Sonora, Ator (Chris Pine) e Ator Coadjuvante (Ben Foster), por exemplo. Mas só o fato de ter sido percebida a ponto de figurar entre os melhores do ano pela maioria dos votantes da Academia já é um grande motivo de comemoração. Uma trama precisa, condução segura, atores no total domínio de seus personagens e uma história que ressoa muito além daquilo que se está discutindo em cena fazem desta a preciosidade a ser descoberta. Pena que será tarde demais e uma vitória em qualquer uma das quatro que disputa talvez seja um sonho longe demais a ser alcançado – por mais que merecesse.
Mais uma vez, Denzel Washington deixou claro ter muito mais talento como intérprete do que como diretor. Ao levar para a tela grande a peça Fences, que ele próprio já havia encenado nos palcos, privilegiou o que a obra original tinha de melhor: as palavras acertadas de August Wilson (que concorre a Melhor Roteiro Adaptado) e a maestria das atuações dos dois protagonistas – Washington e Viola Davis, ambos também indicados. No mais, o que se tem é teatro filmado. É tímido ao explorar os cenários e nada criativo ao propor uma reconstrução imagética da trama. Ator, Atriz (e não Coadjuvante) e Roteiro Adaptado eram lembranças mais do que suficientes.
Este é aquele filme “de fazer chorar”. Promovida com o apoio da Google Earth (é uma obra de arte ou uma peça publicitária?), esta produção baseada em fatos está presente apenas para preencher o espaço tradicionalmente reservado para títulos de origem inglesa – um movimento que há anos vem se repetindo, como numa política de boa vizinhança, e que até já rendeu bons frutos no passado. Não é o caso desta vez, no entanto. Bastante atacado pelos especialistas, é, dentre todos os concorrentes, o com pior avaliação tanto pela crítica quanto junto ao público. Mesmo assim, é finalista em seis categorias – ainda que, aparentemente, não tenha força suficiente para sobressair em nenhuma delas.
De acordo com a média da Grade Crítica, feita das avaliações de todos os colaboradores do Papo de Cinema, este é o melhor filme dentre os 47 concorrentes ao Oscar 2017. E não estamos sozinhos. O longa dirigido por Paul Verhoeven foi premiado pelo Globo de Ouro e pelo Critics Choice (em ambos como Melhor Filme Estrangeiro) e foi eleito o melhor do ano pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE). Outros filmes mais “palatáveis” para o grande público – Capitão Fantástico ou Sully: O Herói do Rio Hudson, por exemplo – poderiam ocupar tranquilamente a última vaga. Mas que felicidade e avanço seria ver este incrível thriller obter reconhecimentos além da hipnotizante performance da protagonista Isabelle Huppert, felizmente indicada a Melhor Atriz. Muitos podem apontar o fato de ser falado em francês como uma desvantagem nessa corrida. Mas, outros títulos falados em línguas estrangeiras – como o austríaco Amor (2012), o taiwanês O Tigre e o Dragão (2000) e o italiano O Carteiro e o Poeta (1994) – já alcançaram esse feito antes. Uma triste oportunidade de finalmente eleger o melhor que, enfim, foi desperdiçada.