INDICADOS
Em um ano com produção recorde de animações, realmente foi difícil chegar a um consenso sobre quais deveriam ser os cinco finalistas nesta categoria. No entanto, o resultado apontado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foi bastante preciso: dois representantes da Disney, um stop motion em 3D, um título sem diálogos vindo do Japão e um stop motion da Suíça que estava na disputa também como Melhor Filme Estrangeiro! Se foi surpresa a eterna campeã Pixar ter ficado de fora – em 15 anos da premiação, eles ganharam em oito ocasiões – ao menos abriu-se espaço para concorrentes que fugiram da obviedade, apresentando outros cenários, temáticas e técnicas. Confira a seguir qual deles tem tudo para sair vitorioso neste ano, qual de fato merecia essa conquista, quem pode surpreender e quais foram aqueles esquecidos durante a corrida ao ouro hollywoodiano!
Esse foi o campeão durante todo o ano. Lançado nos cinemas em fevereiro de 2016, Zootopia chegou com pose de vitória desde o começo, e assim manteve a liderança durante todos os meses seguintes. Uma bilheteria de mais de US$ 1 bilhão em todo o mundo – quarto lugar no ranking geral – e a consagração no Annie (Melhor Longa de Animação, Melhor Desenho de Personagens, Melhor Direção de Animação, Melhor Storyboard, Melhor Dublagem e Melhor Roteiro de Animação) só colaboraram com essa percepção. Além disso, tem ganhado quase tudo nessa temporada de premiações: Globo de Ouro, Critics Choice e os prêmios dos Críticos de Dallas-Fort Worth, Denver, Georgia, Kansas, Nova York, Carolina do Norte, Texas, Oklahoma, Phoenix, Seattle, St. Louis e do Sindicato dos Produtores. Pelo que se percebe, a coelhinha Judy vai conseguir mais que apenas se tornar uma policial de respeito: tem tudo, também, para levar o outro para casa – mesmo que não seja merecido!
Dos cinco indicados aqui, apenas dois disputam também outras categorias: Moana, como Melhor Canção Original, e Kubo, como Melhores Efeitos Visuais. Se a Disney já tem lugar cativo quando o assunto são as músicas, Kubo fez história como o primeiro longa do gênero a receber a indicação extra. Mas esse, no entanto, é apenas um dos tantos méritos da delicada e emocionante animação em stop motion. Indicado como Melhor Filme no Annie e premiado como Melhor Animação de Personagens, Melhor Design de Produção e Melhor Montagem, ganhou ainda o prêmio dos Críticos de Atlanta, Austin, Boston, Central Ohio, Chicago, Florida, Houston, Indiana, Iowa, Las Vegas, Phoenix, San Diego e Washington, além do National Board of Review. E como, em 15 anos de existência dessa categoria, apenas um longa feito nesta técnica – Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005) – foi premiado, está mais do que na hora de voltarem a reconhecer essa arte tão primorosa e detalhada que, aqui, encontra ainda uma história envolvente e apaixonante.
Produção temporã dos Estúdios Ghibli – que há alguns anos haviam anunciado aposentadoria, mas que aqui felizmente reconsideram essa decisão – este longa silencioso escrito e dirigido por Michael Dudok de Wit (vencedor do Oscar pelo curta de animação Father and Daugher, 2000) estreou já chamando atenção no Festival de Cannes, de onde saiu com o Prêmio Especial do Júri na mostra Um Certo Olhar. Desde então, vem conquistando reconhecimentos por onde é exibido, como o Annie (Melhor Longa Independente, mesma categoria vencida pelo brasileiro O Menino e o Mundo um ano atrás) e o troféu dos Críticos de São Francisco. É pouco, no entanto, para se acreditar numa possibilidade real de vitória, mas ainda assim seria um feito e tanto, ainda mais para um filme que começou tão pequeno, mas que vem crescendo – e muito – nos corações e mentes daqueles que se deixaram tocar por essa incrível história de fé e perseverança, mostrando de vez que Animação está longe de ser considerado um gênero voltado apenas ao público infantil.
Muitos foram os esnobados neste ano. Até agora tem gente que não entendeu como que Procurando Dory, a animação de maior arrecadação do ano – faturou mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais e ficou em terceiro lugar no ranking geral, atrás apenas de Capitão América: Guerra Civil e Rogue One: Uma História Star Wars – pode ter ficado de fora. O mesmo pode ser dito de outros grandes sucessos de bilheteria, como Pets: A Vida Secreta dos Bichos (US$ 875 milhões), Sing: Quem Canta Seus Males Espanta (US$ 488,8 milhões), Trolls (US$ 339 milhões) e Kung Fu Panda 3 (US$ 521 milhões). Este último, inclusive, foi indicado ao Annie como Melhor Longa de Animação do ano, assim como Dory. Outro título elogiado foi o japonês Your Name (Kimi no na wa, 2016), também indicado ao Annie (porém, como Lançamento Independente) e premiado como Melhor Longa de Animação do ano pelos críticos de Los Angeles. No entanto, é impossível não sentir falta do sensível e emocionante O Pequeno Príncipe (2015), que chegou com um ano de atraso aos cinemas norte-americanos e, devido a vários problemas de distribuição, acabou sendo prejudicado – foi parar simultaneamente na Netflix, o que fez muita gente desconsiderá-lo. Ainda assim, o longa dirigido por Mark Osborne (Kung Fu Panda, 2008) recebeu duas indicações ao Annie – ganhou como Melhor Trilha Sonora de Animação – e ganhou o César (o Oscar da França) de Melhor Longa de Animação, em 2016. Com uma melhor estratégia de lançamento e com mais gente assistindo, certamente o impacto na festa da Academia teria sido diferente!