INDICADOS
É um ano interessante para conferir com atenção os indicados ao Oscar de Melhor Documentário, uma vez que, com exceção de apenas um trabalho, a categoria evidencia produções que denunciam enfaticamente questões políticas e humanitárias universais e cada vez mais pertinentes, sendo três delas sobre conflitos raciais. As críticas ao #oscarsowhite parecem, felizmente, terem feito a diferença.
A 13ª Emenda, produção da Netflix com direção de Ava DuVernay, avalia o preconceito persistente contra negros norte-americanos desde a abolição da escravidão até os dias atuais. Eu Não Sou Seu Negro se assemelha no recorte histórico, mas dedica sua abordagem a um livro nunca terminado do escritor James Baldwin, que traça um panorama sobre raça na América moderna. Já O.J.: Made in America tem o julgamento do esportista como introdução a uma poderosa análise – com quase oito horas de duração – sobre o racismo e a violência policial contra a comunidade negra de Los Angeles.
Em outro universo, igualmente relevante, figura o franco-italiano Fogo no Mar, única produção estrangeira na corrida pelo Oscar de documentário, que avalia o triste tratamento dado pela Europa a imigrantes e refugiados – algo cada vez mais pontual e perceptível também nos Estados Unidos do governo de Donald Trump. Por fim, há uma luz otimista em Life, Animated, que apresenta a vida de um jovem autista e as transformações depois que sua família mergulhou no universo lúdico da Disney para conseguir se comunicar com ele.
Quando premiado com o Producers Guild Award, O.J.: Made in America conquistou o principal indicador de que o Oscar também tende a ser seu. Quase unanimidade entre a crítica, o filme de Ezra Edelman, dividido em cinco partes, apresenta um exame minucioso da figura do atleta que lhe empresta o nome, bem como das questões raciais na Los Angeles de 1960 até aquele que foi considerado o Julgamento do Século. Entre os mais de 35 prêmios que já recebeu, brilham os troféus do National Board of Review 2016 e de diversas associações de críticos norte-americanos. Um porém: com sua duração extensa e episódica, o filme pode ser encarado pelos votantes como material seriado e televisivo, isso se não for precocemente ignorado pelas mesmas razões.
Com as incontáveis polêmicas referentes à negligência do governo Trump com estrangeiros e refugiados nos Estados Unidos, Fogo no Mar desponta como um dos docs que mais chama a atenção, ganhando a simpatia entre os votantes da Academia. A produção de Gianfranco Rosi, que arrebata prêmios desde a consagração com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, aborda a crise migratória de refugiados da Europa com maestria e é um forte concorrente.
Presença constante nas listas que previam os indicados ao Oscar de Melhor Documentário antes do anúncio oficial da Academia, o tocante trabalho de Kirsten Johnson surpreendentemente ficou de fora do páreo. Ode poética ao trabalho de cinegrafistas e às suas relações com os personagens e paisagens que enquadram, Cameraperson coleciona prêmios como o National Board of Review na categoria Liberdade de Expressão e troféus em festivais internacionais como os de Zurique, San Francisco, Camden, entre tantos outros.