Fala a verdade para a gente. Vai dizer que você, mesmo o fanático pela festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, dá a devida bola à categoria Melhor Curta Documentário? Boa parte das pessoas nem presta atenção na entrega dessa estatueta, aproveitando o “intervalo” para ir ao banheiro ou fazer uma boquinha. E os atentos, geralmente, estão preocupados com a influência do resultado em suas apostas. Sim, pois se nas categorias mais “nobres” temos uma série de indicativos que apontam probabilidades, algumas delas bastante sólidas, aqui caminhamos num terreno arenoso até dizer chega. Como saber quem pode ou não vencer o cobiçado prêmio? É nossa função, porém, tentar dissipar um pouco as dúvidas, traçar um caminho mais ou menos eficiente entre favoritos e vencedores. Então, sem mais delongas, vamos saber o que esperar dessa nebulosa categoria cujo resultado, definitivamente, pode fazer a diferença nos bolões por aí.
Indicados
No que tange à quantidade de prêmios, ninguém, entre os indicados, supera o curta-metragem de Laura Checkoway e Thomas Lee Wright. Ele venceu o Hamptons International Film Festival, o Hollywood International Independent Documentary Awards, o troféu principal da Associação Internacional de Documentários, o Montclair Film Festival, o Palm Springs International ShortFest, o Rhode Island International Film Festival e o Virginia Film Festival. Realmente não é pouca coisa. Tal histórico coloca Checkoway e Wright como francos favoritos para levar o carequinha dourado da Academia para casa – e ambos gozam de sua primeira nominação. Dirigido por ela, o filme fala sobre um casal interracial formado por um homem de 95 e uma mulher de 96 anos. O amor deles pode ser impedido não pela idade, mas por disputas familiares que ameaçam separa-los. Realmente, tem tudo e mais um pouco para ganhar.
Frank Stiefel nunca ganhou um Oscar. Aliás, é a primeira vez que esse experiente profissional se vê indicado a algo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Mas, se levarmos em consideração os prêmios recebidos por Heaven Is a Traffic Jam on the 405, em comparação ao retrospecto dos demais, ele pode ser considerado um dos que têm chance. O curta-metragem ganhou os troféus do júri e do público no Austin Film Festival, repetindo a dobradinha no Full Frame Film Festival e ainda ostentando uma indicação à láurea da Associação Internacional de Documentários. O filme conta a história de Mindy Alper, 56 anos, artista torturada por problemas psicológicos, porém brilhante e respeitada nos altos círculos de artes. Está no páreo, com força, então não se surpreenda se ele garantir a estatueta no próximo dia 4.
Para começo de conversa, temos por trás da campanha deste documentário o lobby pesado da Netflix, sua produtora. O filme acompanha a chefe de um grupo de bombeiros, uma juíza e uma missionária numa cruzada contra a disseminação das drogas derivadas do ópio. Embora Elaine McMillion Sheldon e Kerrin Sheldon, os diretores, sejam estreantes no Oscar e não tenham premiações consideráveis no seu currículo, a soma da temática relevante com o pistolão da gigante do streaming pode apontar para uma possível vitória desse curta-metragem que, inclusive, já está disponível na Netflix Brasil. Então, fique de olho nele, pois não é absurdo conjecturar sobre a possibilidade da dupla subir ao palco para discursar triunfante.
Dentre todos os concorrentes, Knife Skills é o único filme que conta com um realizador indicado anteriormente ao Oscar. E mais, já que Thomas Lennon possui uma estatueta da Academia, conquistada em 2007, por The Blood of Yingzhou District, também documentário curta-metragem. Desta vez, ele aparece na lista como um possível azarão, exatamente em virtude desse histórico favorável, por ser um profissional amplamente conhecido na área. Sua condição não ascende ao favoritismo porque Knife Skills possui apenas o prêmio do quase inexpressivo Traverse City Film Festival, pouco para sustentar a ideia de que possamos ter um bicampeonato na festa do dia 4 de março. O filme aborda os conturbados bastidores de um restaurante em Cleveland, proposto a ser um local de estilo francês e classe internacional.
Kate Davis e David Heilbroner são também estreantes na festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Eles devem estar mais felizes que pinto no lixo pelo reconhecimento, e em virtude da iminência de caminhar no mítico tapete vermelho como concorrentes. Almejar algo além disso, porém, pode ser um sonho distante. Traffic Stop não ganhou prêmios que pudessem lhe qualificar como favorito e, tampouco, como azarão. O tema, contudo, é muito atual. O filme fala sobre uma professora negra, de 26 anos, moradora de Austin, no Texas, cuja autuação por uma simples violação de trânsito virou prisão dramática. As discussões sobre preconceito racial, tão em voga, conduzem o documentário por uma senda de reflexões históricas sobre opressão racial. Relevante, mas com pequenas chances de vitória.
Dirigido por Patrick Bresnan, The Rabbit Hunt pode ser considerado o grande esnobado do ano nessa categoria. Para constatar isso, basta listar os prêmios que ele recebeu mundo afora. Foi eleito o melhor curta documentário nos festivais de Chicago, Florida, Londres, Melbourne, San Francisco, além de levar para casa a estatueta principal do Art Film Festival, do Cinema Eye Honor Award e do Sheffield International Documentary Festival. Afora isso, foi indicado no Festival de Sundance e no Festival de Berlim. Essa lista, resumida, seria suficiente para coloca-los entre os favoritos ao Oscar, não fosse a Academia tê-lo preterido em função de outros candidatos menos referendados. O filme fala sobre Chris e sua família, que semanalmente caçavam coelhos durante a queima da cana de açúcar na Flórida, nos Estados Unidos.
:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::