Dentre os cinco indicados a Melhor Direção no Oscar 2018, não temos, sequer, um vencedor em qualquer oportunidade pregressa. Aliás, apenas um deles já havia sido nominado anteriormente nesta categoria da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O que nos deixa com a certeza de que, invariavelmente, teremos um diretor ou uma diretora levando a estatueta dourada para casa pela primeira vez. No páreo, quatro homens e uma mulher. Jovens promissores se juntam a colegas com uma carreira mais substancial, tornando a lista bastante heterogênea, o que sempre é muito bom. Mas, levando em consideração os parâmetros mais comumente aceitos, quem será o(a) grande favorito(a) para subir ao palco e discursar até que a música protocolar “suba”, o(a) interrompendo, no dia 4 de março? É o que nós veremos neste especial que pondera alguns dados objetivos, mesclando-os com boas doses de especulação, para construir um cenário de possibilidades. Confira nosso artigo especial sobre a categoria Melhor Direção do Oscar 2018.
Indicados
É bom o mexicano ir com o discurso bem afiado, pois, a não ser que a Mothra sobrevoe a cerimônia e o leve embora, será dele o Oscar de Melhor Direção. E que boa oportunidade para termos, talvez, uma manifestação emocionada como a de Del Toro no palco do Globo de Ouro. Outros indícios fortes dessa iminente vitória são o prêmio do Directors Guild of América, exatamente o Sindicato dos Diretores, a indicação ao BAFTA (na condição de favorito) e o fato dele ter sido eleito o melhor diretor no Critics Choice Award. Del Toro está, portanto, prestes a se juntar aos seus compatriotas Alejandro Gonzalez Iñarritu e Alfonso Cuarón, fechando, assim, a trinca dos cineastas mexicanos oscarizados que triunfaram recentemente em Hollywood. Levando em consideração, inclusive, a atual política dos EUA, no que diz respeito ao país vizinho, com construções de muros e uma série de outras restrições, vai ser ainda mais bonito ver um latino subindo ao palco para ganhar o Oscar e falar em nome dos marginalizados.
Caso a Mothra venha, mesmo, e Del Toro não confirme o seu favoritismo, os indícios dão conta de que a jovem Greta Gerwig poderia levar. Vejamos. Além do Oscar, ela foi indicada ao Directors Guild of America e ao Critics Choice Awards, tendo ficado de fora do Globo de Ouro e do BAFTA, nos dois, concorreu somente ao prêmio de Melhor Roteiro. Foi eleita a melhor diretora pelos críticos de Ohio, Iwoa, San Diego, Toronto e, especificamente no que tange à nova geração, pelos especialistas de Chicago e Los Angeles. Ainda, é bom lembrar, ela surpreendeu a concorrência, ficando com os troféus das prestigiadas National Board of Review e Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA. É difícil reprisar esse sucesso todo no Oscar? Com certeza. Todavia, Greta seria a segunda mulher a ganhar a estatueta de Melhor Direção – a primeira foi Kathryn Bigelow, em 2010, por Guerra ao Terror – o que iria ao encontro dos anseios atuais de boa parte de Hollywood, de bem-vinda e urgente valorização do trabalho feminino no cinema. Sonhar não custa. Mas, é improvável que este sonho se realize.
Christopher Nolan está alguns degraus abaixo de Greta na corrida, portanto com uma espécie de medalha de bronze. Embora ele tenha sido indicado ao Globo de Ouro e ao BAFTA – enquanto ela, no prêmio inglês, foi lembrada apenas como roteirista – Lady Bird: A Hora de Voar coleciona mais nominações nas consideradas categorias nobres. Dunkirk fez a festa, de verdade, apenas no que tange à técnica. Isso pesa, claro. Afora tal constatação, Nolan não venceu prêmios de maior relevância, levando para casa somente as distinções oferecidas pelas associações de críticos de Chicago, Denver, Flórida, Seatle, Utah e Washington, importantes, sem dúvida, mas fora do círculo considerado termômetro para o Oscar. O britânico, aliás, geralmente protagoniza polarizações. Alguns celebram sua capacidade de aliar inteligência e bilheterias portentosas. Outros, na contramão, creditam a ele a pecha de pseudointelectual, de quase fraude. É bastante improvável que ele acabe com o favoritismo de seu colega mexicano. Foi mal, Nolan, mas não será desta vez. Fica para uma próxima.
Paul Thomas Anderson nem indicado ao Directors Guild Award foi. Sintoma incontornável de sua praticamente nula chance de ganhar o Oscar de Melhor Diretor. Todavia, ele é o único que esteve anteriormente nesta posição de nominado, com Sangue Negro, em 2008. Considerado, por muitos, um dos grandes cineastas norte-americanos da atualidade, Anderson alcançaria consagração mais que merecida com esse Oscar. Todavia, os indicativos não lhes são favoráveis. Com Trama Fantasma, ele somente venceu prêmios das associações de críticos de Boston e Vancouver, além de levar para casa a láurea principal dos especialistas do site Indiwire. Foi indicado ao BAFTA e ao prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA. Com esse retrospecto é realmente complicado apostar numa vitória de Anderson, mesmo porque o próprio Trama Fantasma tem poucas possibilidades de transformar alguma de suas seis indicações em vitória concreta. Anderson, nem precisa escrever discurso, pois, neste ano, já era.
Único cineasta negro da história a ser indicado ao Oscar de diretor, roteirista e produtor, Jordan Peele está fazendo bonito entre os cinco concorrentes deste ano. Todavia, embora tenha garantido os prêmios de Melhor Diretor Estreante no Directors Guild Awards e no National Board of Review (ambos importantes), vai ser uma parada duríssima vencer a competição, justamente porque quase todos os encaram, antes de qualquer coisa, como um cineasta promissor. Peele ganhou os prêmios das associações de críticos da Carolina do Norte, de Oklahoma, da Filadélfia, de Boston (novo cineasta), de Las Vegas (diretor estreante) e das associações de especialistas afro-americanos. É muito, em se tratando de um jovem com um potencial substancial. Entretanto, é pouco para dar-lhe tônus a fim de fazer frente aos oponentes mais municiados com distinções de peso, especialmente as consideradas termômetros. Se Jordan Peele ganhar…pense numa zebra mastodôntica passeando pelo palco.
Aqui nós poderíamos listar vários esnobados, principalmente, esnobadas. A começar por Kathryn Bigelow e seu Detroit em Rebelião, ausências absurdas no Oscar 2018. Dee Rees, por Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi, também faz falta na lista dos cinco. Steven Spielberg bem que poderia também estar ali, em virtude do trabalho primoroso em The Post: A Guerra Secreta. Mas nenhum outro cineasta foi tão injustiçado com o esquecimento quanto o italiano Luca Guadagnino, cuja sensibilidade está na base do êxito de Me Chame Pelo Seu Nome. Mesmo indicado ao BAFTA, ao Critics Choice Award, ao Independent Spirit Award, só para ficar nos mais emblemáticos, Luca foi sumariamente preterido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Isso, claro, é reflexo da perda de força de Me Chame Pelo Seu Nome na temporada de prêmios, diretamente relacionada à ascensão de A Forma da Água. Uma pena que Luca Guadagnino não teve empuxo suficiente para ocupar um lugar que lhe era merecido.
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