Quem vai ganhar a principal estatueta do 90º Academy Awards? Está aí a grande dúvida deste ano, pois, em comemoração a uma data histórica, nada menos que nove finalistas – dentre as dez vagas possíveis – se habilitam na mais disputada categoria da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o tão cobiçado Oscar! Nela, Guillermo del Toro, Christopher Nolan, Jordan Peele e Paul Thomas Anderson, todos indicados à Melhor Direção, duplicaram também suas chances como produtores. Martin McDonagh, que entrou apenas como roteirista, também viu dobrar a possibilidade de colocar suas mãos na estatueta dourada. E quem sabe não temos aqui o caminho para Luca Guadagnino ou Steven Spielberg também se aproximarem do ouro? De todos os concorrentes, apenas o próprio Spielberg (A Lista de Schindler, 1993) e Scott Rudin (Onde os Fracos Não Têm Vez, 2007) já foram premiados anteriormente, o que deixa a disputa ainda mais emocionante. Quem será o melhor, na opinião dos mais de 6 mil votantes da Academia? Confira a seguir as chances de cada um, e faça as suas apostas!
Indicados
Além de ter sido o campeão de indicações deste ano, o longa de Guillermo del Toro chega com um retrospecto razoavelmente positivo na disputa. Pode ser apontado, ainda, como um dos favoritos ao Bafta, e ganhou tanto o Critics Choice Awards quanto o Producers Guild of America Awards – dois dos mais importantes termômetros para o Oscar. Levou para casa, também, os troféus dos críticos de Dallas-Fort Worth, Phoenix e St. Louis, além do Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza. Está certo que se trata de uma fantasia – e, deixando as alegorias de Birdman (2014) de lado, a única assumidamente do gênero a ser premiada nessa categoria, em 89 anos de premiação, foi O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003) e, mesmo assim, foi preciso que os dois capítulos prévios fossem indicados, e perdessem, para que fosse possível construir um momento favorável ao clássico baseado na obra de JR.R. Tolkien. Ou seja, o favoritismo existe, mas não a ponto de permitir que se cante vitória antes da hora.
O thriller de Martin McDonagh está nos calcanhares do favorito, garantindo as condições necessárias para surpreender na última hora, se lhe for possível. Premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme em Drama, ganhou também o troféu de Melhor Elenco no Screen Actors Guild Awards, e foi apontado como o melhor do ano pelos críticos de Las Vegas e Nevada. Na concorrência direta com A Forma da Água, no entanto, registrou duas marcantes derrotas: em Veneza e no PGA. Outro ponto contra é o fato de McDonagh não ter entrado entre os cinco finalistas de sua categoria – e a última vez em que o Melhor Filme do ano sequer concorreu à Melhor Direção foi Argo (2012), cinco anos atrás, e antes disso, Conduzindo Miss Daisy (1989), há quase três décadas! Há chances de que isso aconteça de novo, é claro, mas apenas isto: possibilidades, e não certezas.
A história mais bela do ano foi prejudicada, justamente, por sua temática – um romance entre dois homens. “Ah, mas Moonlight ganhou no ano passado e também tinha temática gay”, alguns, apressados, podem afirmar. Pois tal declaração só confirma esse sentimento. Grande parte dos votantes pode pensar: “já atendemos essa minoria, agora é a vez de darmos espaço a outros”. Sem falar que o longa de Barry Jenkins era inteiramente estrelado por negros, o que também ia ao encontro aos protestos de #OscarSoWhite – enfim, acertaram dois gatos com uma só pedrada. Indicado a Melhor Filme em praticamente todas as premiações da temporada, ganhou apenas junto aos críticos de Los Angeles – as atenções têm se mantido voltadas ao desempenho do protagonista, Timothée Chalamet, e ao roteiro do veterano James Ivory. Mais de dez anos após o incrível O Segredo de Brokeback Mountain (2005) ter perdido na última hora, bem que poderia ser a vez da injustiça histórica ser desfeita com o reconhecimento desse comovente conto de amor e amadurecimento.
Quem diria que um filme dirigido por Steven Spielberg poderia ser considerado quase o “penetra” da festa? Pois uma estratégia equivocada de lançamento, que exibiu o filme ao grande público somente nas primeiras semanas de janeiro, impediu que fossem reconhecidos em tempo os inegáveis – e inúmeros – méritos dessa produção. Décimo primeiro longa dirigido pelo cineasta a ser indicado nessa categoria – apenas um foi premiado, A Lista de Schindler (1993) – é, surpreendentemente, dentre os nove concorrentes deste ano, aquele com o menor número de indicações (além desta, disputa também apenas a de Melhor Atriz, com a insuperável Meryl Streep). Merecia mais, muito mais – Direção, Ator, Roteiro, Montagem, Fotografia, Trilha Sonora, Design de Produção e Figurinos são apenas as lembranças mais óbvias – e se por um lado foi esnobado pelos votantes do Screen Actors Guild e do Bafta, ao mesmo tempo foi eleito o melhor do ano pelo National Board of Review e pelos críticos de North Texas.
É impressionante como os norte-americanos sempre acabam liberando ao menos uma vaga para seus amigos ingleses. E se, vez que outra, eles acabam surpreendendo, como O Discurso do Rei (2010) ou Quem Quer Ser um Milionário? (2008), a maioria acaba morrendo na praia – como se viu acontecer com Lion: Uma Jornada para Casa (2016), Brooklin (2015), O Jogo da Imitação (2014), A Teoria de Tudo (2014), Philomena (2013) ou Educação (2009) – apenas para ficarmos na última década. Conduzido de forma burocrática por Joe Wright, que de novo viu um longa dirigido por ele ser indicado na categoria, após Desejo e Reparação (2007), apesar dele mesmo ficar de fora da de Melhor Direção, tem-se aqui um veículo para o seu protagonista, e deve ser recompensado apenas nesse quesito – e olhe lá!
Quando chegou aos cinemas, na metade do ano passado, ninguém esperava muito do trabalho de estreia do ator Jordan Peele atrás das câmeras. Ele, no entanto, não só somou mais de US$ 254 milhões nas bilheterias de todo o mundo, como angariou quatro indicações – Filme, Direção, Ator e Roteiro Original. Apontado como o Melhor do ano pelos críticos de Atlanta, Austin, Boston, Kansas, Oklahoma, Philadelphia, San Diego, Seattle e Washington, e outras tantas agremiações – como no Critics Choice Awards – foi eleito o Melhor Filme de Suspense. E a última – ou, melhor dizendo, única – vez que uma produção do gênero ganhou a estatueta principal foi com O Silêncio dos Inocentes (1991), há quase três décadas. Ter vindo até aqui, e com a carga de denúncia social que carrega, já foi um feito e tanto. Mais do que isso, no entanto, será, realmente, surpreendente.
Uma das ideias por trás da iniciativa de aumentar o número de indicados à categoria principal do Oscar, dos tradicionais cinco para até dez finalistas, visava, justamente, abrir espaço para os representantes do cinema independente. Quantos, no entanto, foram premiados na última década? Nenhum. Moonlight era produzido por Brad Pitt, Guerra ao Terror (2009) tinha uma veterana na direção e O Artista (2011) era uma megaprodução – para os padrões franceses, ao menos. Já o filme dirigido por Greta Gerwig, um dos mais bem avaliados de todos os tempos no Rotten Tomatoes, possui todas as características deste tipo de cinema: tem no comando uma realizadora novata, sua trama é sobre relacionamentos humanos e contou com um orçamento baixíssimo, de apenas US$ 10 milhões – tanto Me Chame Pelo Seu Nome quanto Corra! custaram menos, mas não com uma diferença tão grande. Sem falar que Gerwig é apenas a quinta mulher de toda a história do Oscar a ser indicada à Melhor Direção, feito marcante por si só. Mais do que isso, ao menos aqui, é bem improvável. Apenas para constar, no entanto, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme em Comédia ou Musical – e os únicos longas a serem premiados nesta categoria e também no Oscar nos últimos vinte anos foram O Artista e Chicago (2002).
Este é o mais caro dos nove indicados – custou US$ 100 milhões – e também o que fez mais sucesso nas bilheterias de todo o mundo – arrecadou mais de US$ 525 milhões. É, também, o único dentre todos os concorrentes deste ano a não ter conseguido alguma indicação nas categorias de atuação – e a última vez em que isso ocorreu com um vencedor desta categoria foi com Quem Quer Ser um Milionário?, há exatamente uma década. Ou seja, é um feito raro. Verdadeiro espetáculo para todos os sentidos, o longa de Christopher Nolan é para ser visto na maior tela possível e com o melhor sistema de som, valendo-se do que a tecnologia atual pode alcançar. E, talvez, seja justamente por isso que viu suas chances diminuir: com tanta técnica envolvida, em algum momento o voto do coração falará mais alto, relegando-o a uma posição coadjuvante. Infelizmente.
Esta foi a grande novidade dentre os indicados do ano. E simplesmente pelo retrospecto do longa-metragem de Paul Thomas Anderson – o único dos cinco indicados à Melhor Direção a já ter concorrido anteriormente – não ser dos mais chamativos. Apesar de ter sido premiado como melhor do ano apenas pelos críticos de Boston, sequer foi indicado na categoria principal do Globo de Ouro, do Critics Choice ou do Bafta, por exemplo. Mesmo assim, angariou seis indicações junto aos membros da Academia, e sua simples presença entre os finalistas aumenta o prestígio da disputa. Não que vá fazer alguma diferença, mas que deixa a corrida mais bonita e emocionante, isso com certeza.
Onze filmes foram indicados ao prêmio de Melhor Produção do ano no Producers Guild of America Awards, o Sindicato dos Produtores – que é, afinal, quem leva a estatueta de Melhor Filme no Oscar para casa. Quatro títulos ficaram de fora da lista final do prêmio da Academia, abrindo espaço, inclusive, para mais um – O Destino de Uma Nação, o único da lista acima que não foi finalista por lá. Os esquecidos foram Eu, Tonya, que recebeu três indicações, Doentes de Amor e A Grande Jogada, ambos indicados a Melhor Roteiro – o primeiro original, o segundo adaptado – e, finalmente, Mulher-Maravilha. O longa de Patty Jenkins foi uma das maiores bilheterias do ano, quebrou barreiras e somou recordes ao redor do mundo e, mesmo assim, não alcançou esse feito ainda inédito para uma produção sobre super-heróis. Num ano em que tantos tabus foram rompidos, esse aqui bem que podia ter sido superado, também.
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