Dos treze realizadores indicados, apenas um já havia concorrido nesta categoria anteriormente – todos os demais são novatos. O que não impede, curiosamente, de termos entre os finalistas uma artista oscarizada, pois seu troféu, neste mesmo, ano, foi honorário. Não terá chegado a hora dela, enfim, levar para cada uma estatueta dourada competitiva? E entre zonas de guerra, crises financeiras e o plácido interior da França, entre denúncias que abalaram o mundo todo e outras que revelam o quão forte o racismo segue sendo um problema nos Estados Unidos, os cinco longas documentais de 2018 mostram a força que o cinema deste formato segue demonstrando ao redor do mundo. Qual vai levar o ouro? Confira nossa análise de cada um dos concorrentes, e faça as suas apostas!
Indicados
Agnès Varda é a artista – homem ou mulher – mais velha a receber uma indicação ao Oscar. Um dos principais nomes da Nouvelle Vague, movimento que revolucionou o cinema francês nos anos 1960 e 1970, ela é, aos 89 anos, pela primeira vez finalista em uma categoria competitiva – ainda que nesta mesma temporada, há poucos meses, tenha recebido uma estatueta honorária pelo conjunto de sua obra. Ou seja, convite para a festa ela ganharia de qualquer jeito. Mas o que faz ao lado do fotógrafo JR é a mais pura magia cinematográfica. Único dos cinco concorrentes a ser exibido comercialmente no Brasil, é também o título mais premiado: foi eleita a melhor produção do gênero pelos críticos de Austin, Boston, Central Ohio, Denver, Indiana, Los Angeles, Nova York, São Francisco, Seattle, Toronto e Vancouver, além da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e da Aliança das Mulheres Críticas de Cinema, sem falar que foi reconhecida também no Festival de Cannes e no National Board of Review – e com indicações ao Independent Spirit Awards e ao Critics Choice Documentary Awards. Ou seja, a hora é dela. E o momento não poderia ser mais apropriado.
Premiado no Critics Choice Documentary Awards como Melhor Documentário Esportivo do ano, o longa dirigido por Bryan Fogel ganhou ainda o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance e é finalista também no BAFTA. Reconhecimento à altura da denúncia que carrega: o envolvimento do governo russo – indo até o presidente Vladimir Putin – em um esquema organizado de dopping nos atletas locais para obterem resultados positivos nas Olimpíadas de inverno e de verão. As revelações são incríveis, e o caráter pessoal toma conta de um filme que tinha tudo para sair dos eixos, mas segue firme até o final. Pode não ser revolucionário, e também não consegue evitar a postura de reportagem filmada, mas, ainda assim, possui uma força singular.
Michael, irmão da diretora Yance Ford, foi assassinado a sangue frio quando tinha pouco mais de vinte anos e não só a polícia fez pouco a respeito, como o próprio sistema de justiça se demonstra corrompido ao evitar que o caso seja julgado, descartando-o como uma simples situação de legítima defesa. Mas teria sido exatamente esse o ocorrido? Yance se posiciona dentro do filme desde o começo – e não teria como ser diferente. Uma postura arriscada, mas que se revela propícia ao relato de denúncia que merecia ser feito. Dono de um discurso perturbador, o filme foi premiado nos festivais de Sundance, Sheffield, Montclair, Full Frame e Framelight, além de ter sido reconhecido pelo Círculo de Críticos Negros dos EUA e pelo Cinema Eye Honors Awards. E entre as indicações, marcou presença no Festival de Berlim e concorreu ao CPH:DOX, um dos mais conceituados festivais de documentários do mundo. Histórico para estar nessa disputa o título possui. Mas conseguirá colocar a mão no ouro?
O mesmo tema – o esforço de civis para salvar vidas em meio aos ataques aéreos na Síria – já havia rendido o curta-metragem Os Capacetes Brancos (2016), que ganhou o Oscar na categoria há apenas dois anos. Será que a Academia vai comprar esse mesmo debate em tão pouco tempo? É possível, principalmente entre aqueles que forem no embalo. Já os mais críticos podem acreditar que o intervalo entre os dois títulos foi muito curto, e que talvez seja a hora de reconhecer outros esforços. Mesmo assim, este foi premiado no CPH:DOX, no Critics Choice Documentary Awards (como Documentário Mais Inovador) e nos festivais de Sundance, Sarasota, Jihlava, Full Frame e Documentary Edge. Ou seja, em hipótese pode se pensar neste título como carta fora do baralho. Mas, dentre tantas – e melhores – opções, uma vitória aqui deixaria, com certeza, muita gente de boca aberta.
Aqui temos os únicos dos concorrentes que já estiveram antes na maior festa do cinema mundial: Julie Goldman foi indicada pela primeira vez no ano passado, pelo documentário Life, Animated (2016), enquanto que Steve James também já havia disputado o ouro antes, porém em outra categoria: como montador de Basquete Blues (1994). Desta vez, ele e seus dois produtores se reuniram para contar a história de uma pequena instituição financeira acusada de fraude hipotecária em 2012 em Nova York e o que ela precisou fazer para provar sua inocência. Um resultado forte, premiado no Festival de Sarasota, no National Board of Review, no Critics Choice Documentary Award e no Cinema Eye Honors Awards. Agora, conseguirá ter força suficiente para ser uma ameaça frente aos seus concorrentes?
Muitos poderiam ser apontados nesta condição. Talvez o mais justo para figurar entre os finalistas fosse Jane, de Brett Morgen (indicado ao Oscar por On The Ropes, 1999), que concorre ao BAFTA e foi premiado como melhor do ano no Critics Choice Documentary Award, National Board of Review e no PGA Awards (a premiação do Sindicato dos Produtores), além de mais de uma dezena de associações de críticos por todo os Estados Unidos. Sua ausência, portanto, foi a mais sentida. Mas como não lamentar terem ficado de fora Uma Verdade mais Inconveniente – sequência do oscarizado Uma Verdade Inconveniente (2006) – ou Chasing Coral – sequência de Chasing Ice (2012), este, sim, indicado ao Oscar? E o que dizer de Cidade de Fantasmas – premiado pelo DGA (Sindicato dos Diretores) como Melhor Direção no formato? Dos 15 títulos pré-selecionados, mais um já foi exibido nos cinemas brasileiros: Human Flow, do artista e ativista Ai Weiwei. Acreditava-se que a força do nome dele poderia lhe garantir a vaga. Infelizmente, não foi o que aconteceu.
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