As categorias dedicadas aos curtas-metragens são sempre motivo de terror nos bolões do Oscar, ainda mais junto ao público brasileiro, que, em sua grande maioria, nem teve acessos aos filmes, que normalmente circulam de forma restrita apenas em festivais e premiações nos Estados Unidos. Há aqueles, no entanto, cujo acesso é mais facilitado – alguns estão na Netflix, outros mesmo no Youtube – e, como era de se imaginar, a internet tem facilitado esse contato nos últimos anos. Em 2020, nenhum dos quinze títulos aqui selecionados desponta como franco-favorito em suas disputas, deixando o quadro geral ainda mais confuso. Quem irá ganhar e quem ainda tem chances de vitória? Confira as nossas apostas para os melhores curtas-metragens desta temporada!
Ao lado de dois títulos dos Estados Unidos e um da Bélgica, essa categoria apresentou entre seus indicados dois filmes da Tunísia! E um deles, ainda por cima, desponta como favorito! Conseguirá o ouro? É provável. Ainda mais que uma das suas diretoras já havia sido indicada antes – ou seja, sabe bem como a Academia funciona. Bryan Buckley, um dos diretores de Saria, também conta com uma indicação anterior (Asad, 2012). Seu filme se passa na Guatemala e aborda o drama de duas irmãs que sofrem abusos em um orfanato. O tema segue pesado em Une Soeur, sobre uma garota em perigo que tem apenas um telefonema para buscar por socorro. Por outro lado, Nefta Football Club mostra a despreocupação de crianças de um pequeno vilarejo que acabam levando um carregamento extraviado de drogas para suas próprias casas.
Indicados
Brotherhood
Quando um rapaz retorna para casa, após uma longa viagem, com uma nova esposa, um conflito se estabelece entre ele e o pai. Qual a relação do homem mais velho com essa misteriosa mulher? Essa é a questão que rege os acontecimentos de Brotherhood, dirigido por Meryam Joobeur e Maria Grace Turgeon (essa última concorreu nessa mesma categoria no ano passado, por Fauve, 2018). Premiado nos festivais de Amiens, Aspen, Cairo, Carthage, Clermont-Ferrand, Dokufest, Galway, Guanajuato, Indy Shorts, Kaohsiung, Melbourne, Montreal, São Francisco, Satisfied Eye, Toronto, Uruguai e exibido em Sundance, parece guardar os requisitos necessários para fazer bonito junto aos votantes da Academia.
The Neighbors’ Window
O diretor Marshall Curry está em sua quarta indicação ao Oscar – já concorreu em Documentário em Longa-Metragem e em Documentário em Curta-Metragem, mas aparece na categoria de Ficção pela primeira vez. Ao focar sua atenção na história de uma mulher já de certa idade e seus filhos pequenos que têm suas vidas abaladas de uma forma irreversível quando um casal de jovens se muda para a casa da frente, conseguiu reconhecimentos nos festivais de Atlanta, Bendfilm, Nashville, Palm Springs, Port Townsend, Santa Fe, St. Louis, Traverse City, Woods Hole e Woodstock, além de ter sido exibido no Tribeca Film Festival. Não que seja a escolha mais óbvia, mas, caso seja escolhido, tem tudo para ser uma vitória de respeito.
Todos os indicados aqui estão concorrendo pela primeira vez ao Oscar. Os dois favoritos são produções norte-americanas (veja abaixo), mas há também um título francês (Mémorable), sobre um pintor e sua esposa tendo que lidar com a demência premente de um deles, um chinês (Sister), sobre um homem refletindo sobre a própria infância, e um da República Checa (Dcera), a respeito de um pai e sua filha em busca de entendimento. Mémorable ganhou o Festival de Annecy e Sister foi indicado ao Annie, mas a leveza dos candidatos abaixo parece ser mais efetiva na hora de escolher o melhor do ano. Confira!
Indicados
Hair Love
Um pai tentando lidar com o cabelo da própria filha. A trama parece ser absurdamente simples, mas, de forma descomplicada, irá lidar com uma miríade de dramas e preconceitos que, muitas vezes, acabam passando batido das grandes discussões. Exibido nos cinemas norte-americanos junto com Angry Birds 2: O Filme (2019), talvez seja, dentre os cinco concorrentes, o que teve maior visualização – o que aumenta, consideravelmente, suas chances de vitória. Como estreou diretamente nos cinemas, acabou ficando de fora da maioria dos festivais, percorrendo uma trajetória bem diferente daquela geralmente seguida por filmes desse formato. Porém, com tamanha simpatia entre os personagens e um enredo que proporciona fácil identificação, tem-se a receita de um campeão quase irresistível.
Kitbull
Premiado como Melhor Curta no Humanitas Prize, Kitbull foi produzido por ninguém mais, ninguém menos do que a própria Pixar Animation – e o nome do estúdio reflete ouro em Hollywood! Na verdade, o projeto é independente, mas realizado por animadores da empresa, que conseguem financiamento quando suas ideias são aprovadas em competições internas. Rosana Sullivan, a diretora e roteirista, esteve envolvida em longas como Universidade Monstros (2013), Os Incríveis 2 (2018) e Toy Story 4 (2019). Ou seja, muitos podem até não ter assistido ao filme, mas certamente ela não é nenhuma desconhecida. E como, no fim das contas, tudo se resume a quem tem mais contatos, essa aqui parece ser uma aposta bem viável para a vitória.
Aqui também temos um grupo de profissionais quase estreantes na festa, a maioria indicados pela primeira vez. Assim como Parasita no quesito longas, In the Absence é a primeira produção da Coreia do Sul a concorrer nessa categoria. No entanto, ao contrário do seu colega, não desfruta da condição de favorito. Os que ocupam essa posição é um título do Reino Unido, filmado no Afeganistão, e um dos Estados Unidos. A Vida em Mim – disponível na Netflix – se passa na Suécia, e a diretora Kristine Samuelsen é a única que conta com uma indicação anterior, nessa mesma categoria, lá em 1975! Por fim, Walk Run Cha-Cha é também norte-americano e aborda os traumas dos sobreviventes da Guerra do Vietnã, que se redescobrem numa pista de dança.
Indicados
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)
Vencedor do Bafta como Melhor Curta Britânico do ano, o filme de Carol Dysinger foi premiado também na International Documentary Association e nos festivais Tribeca e Santa Fe. Como é possível perceber, o impacto que causa por onde tem sido exibido é enorme. Ao contar a história de meninas no Afeganistão que descobrem identidade e personalidade ao aprenderem a andar de skate pelas ruas de Cabul (o título é bastante didático), temos aqui um projeto que ecoa uma voz feminista que vai bem ao encontro do momento atual pelo qual o mundo tem passado, encontrando uma ressonância que vai muito além dos seus próprios méritos artísticos – que não são poucos, aliás.
St. Louis Superman
Bruce Franks Jr é um homem de 34 anos que começou sua vida como rapper. Ativista da causa negra, hoje é deputado eleito por St. Louis, Missouri. Mas talvez o que mais chame atenção em sua biografia é o fato de ser conhecido por seus eleitores como ‘Superman’. Essa é a história que os diretores Sami Khan e Smriti Mundhra contam nesse documentário de 28 minutos (a Academia reconhece como curta toda produção com menos de 40 minutos). Premiado no AFI Docs e no Hot Docs Canadian International Documentary Festival, foi exibido ainda em Tribeca e ganhou ainda o Indy Shorts International Film Festival e o Traverse City Film Festival, nesse pela escolha do público. Comovente e relevante, tem tudo para surpreender na noite do dia 09 de fevereiro!
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