Categorias: ArtigosEspeciais

Oscar 2021 :: Apostas para Melhor Ator Coadjuvante

Publicado por
Marcelo Müller

Quem é, de fato, coadjuvante, entre os cinco indicados a Melhor Ator Coadjuvante? No original, o título da categoria é “Best Supporting Actor”, ou seja, o melhor ator de suporte, que oferece apoio ao protagonista. Pois bem, se formos olhar por essa rígida definição, apenas um dos concorrentes de 2021 se encaixaria nela. Afinal, dos demais, temos dois que fazem parte de filmes de elenco – ou seja, com praticamente todos os intérpretes (masculinos, em absoluta maioria) possuindo mais ou menos a mesma relevância na trama, e esses estão aqui selecionados apenas porque se destacam por motivos extras: um é o alívio cômico, o outro é o que sabe cantar (e a Academia adora premiar bons cantores que não fazem feio diante das câmeras, não é mesmo Jamie Foxx e Jennifer Hudson?). Enquanto isso, a dupla restante são, literalmente, os personagens que compõem o título do longa: será que, apesar disso, os votantes estão querendo dizer que teríamos aqui um caso raro de filme sem protagonistas? Bom, independentemente desses olhares e de quem está certo ou errado, ainda assim temos favoritos, azarões e meros figurantes. Confira, portanto, nossas apostas para Melhor Ator Coadjuvante!

 

Indicados

 

FAVORITO
Daniel Kaluuya, por Judas e o Messias Negro
Indicado ao Oscar pela primeira vez como protagonista de Corra! (2017), Daniel Kaluuya volta ao páreo três anos depois, e dessa vez na condição de favorito. É ele o “messias negro” de Judas e o Messias Negro, e por esse trabalho foi premiado no Globo de Ouro, Critics Choice e pelas associações de críticos de Austin, Dallas-Fort Worth, Detroit, Las Vegas, Nevada, New Mexico, Phoenix (Círculo & Sociedade), Seattle, Toronto e Vancouver, pela Associação de Críticos de Cinema Afro-Americanos e pela Associação de Críticos Latinos de Cinema. Mais importante ainda, ganhou por fim o SAG Award, o prêmio da Associação dos Atores de Hollywood, que compõe a maior parte dos votantes da Academia – ou seja, só um desastre irá tirar a cobiçada estatueta dourada das mãos do rapaz. Mas que fique atento: em se tratando de Oscar, às vezes o menos esperado também pode acontecer!

 

AZARÃO
Paul Raci, por O Som do Silêncio
Praticamente desconhecido – seus principais créditos até o momento eram participações discretas em séries como Goliath (2018) e Heroes (2006) – Paul Raci foi descoberto pelo diretor Darius Marder aos 72 anos! Ignorado pelo Globo de Ouro e pelo SAG (dois importantes precursores do Oscar), ao mesmo tempo se mostrou o Ator Coadjuvante mais premiado do ano pela crítica especializada, alcançando reconhecimentos como os da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, do National Board of Review e das associações de críticos de Atlanta, Boston (Online & Sociedade), Chicago, Columbus, Florida, Georgia, Greater Western New York, Havaí, Iowa, Oklahoma, San Diego, São Francisco e St. Louis. Além disso, foi indicado ao Bafta e ao Film Independent Spirit Award. Como Joe, o homem que servirá de guia para Ruben, o jovem músico que está começando a ficar surdo, Raci resgatou suas próprias origens – aprendeu a linguagem de sinais com os pais – e tem participação fundamental na jornada do protagonista. Ele é, portanto, o único – e verdadeiro – coadjuvante deste ano (sem esquecer-se do fato de que sua presença é hipnotizante em cena). Uma vitória, ainda que pouco provável, pode, sim, acontecer. E se de fato se tornar realidade, será a mais bela surpresa da noite.

 

SEM CHANCES
LaKeith Stanfield, por Judas e o Messias Negro
Oi? Sabe quantas indicações prévias LaKeith Stanfield somou nesta temporada pelo seu trabalho em Judas e o Messias Negro, isso até ser anunciado como um dos finalistas do Oscar? Absolutamente nenhuma! Quer dizer, ele até foi indicado ao Black Reel Awards (premiação voltada exclusivamente ao cinema feito e estrelado por negros nos EUA), mas na categoria de Melhor Ator. Afinal, ele é o “Judas” do título, o investigador que se infiltra no movimento dos Panteras Negras a mando do FBI. Sua seleção pelos votantes, portanto, não faz o menor sentido – nem mesmo o ator deve ter entendido. Foi ignorado por todas as premiações de peso e pela crítica especializada em geral. A única explicação para ter conquistado essa vaga pode ser o fato de ser um intérprete em ascensão em Hollywood – recentemente, teve bons papéis em filmes de sucesso como Entre Facas e Segredos (2019), Desculpe Te Incomodar (2018) e a série Atlanta (2016-2018), entre outros. Isso sem falar, é claro, de uma total falta de entendimento por parte da Academia sobre qual é o real papel de um coadjuvante dentro do elenco de um filme.

 

ESQUECIDO
Chadwick Boseman, por Destacamento Blood
Uma das mortes de artistas mais trágicas de 2020. Chadwick Boseman faleceu no dia 28 de agosto, aos 43 anos. No entanto, mais do que os trabalhos que entregou em cena, ele encarnou um ideal a ser alcançado de empoderamento negro – principalmente após ter vivido nas telas o herói Pantera Negra, dentro do Universo Cinematográfico Marvel. Então, é compreensível esse anseio por homenageá-lo, ainda que postumamente, com um Oscar. Mas, esse reconhecimento – mais pelo conjunto de sua carreira do por uma atuação em particular – se encaixaria muito melhor aqui, no longa de Spike Lee, do que como protagonista de A Voz Suprema do Blues (como, provavelmente, acabará acontecendo). Afinal, se lá ele está ok e defende com garra suas falas, em Destacamento Blood ele é muito mais do que isso: é uma presença que pontua toda a história, tanto quando ao lado dos demais personagens, como por todas as referências que são feitas a ele. Não é por acaso que tenha sido indicado ao Globo de Ouro, ao SAG e ao Critics Choice, tendo sido premiado no Satellite e pelos críticos de Chicago (Indie), Nova Iorque e Filadélfia. Uma lástima que a Academia não tenha, em geral, não dado muita atenção a esse longa.

:: Confira aqui tudo sobre o Oscar 2021 ::

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)